Correio de Carajás

Morte de gari: Renê sugere que Laudemir morreu durante ‘guerra de facção’

Empresário é réu por homicídio qualificado, fraude processual, ameaça e porte ilegal de arma de fogo. Crime aconteceu no Bairro Vista Alegre, Região Oeste de BH

Renê da Silva Nogueira Junior está preso no Presídio de Caeté, na Grande BH, desde o dia do crime, em 11 de agosto crédito: Reprodução

Renê da Silva Nogueira Júnior, acusado pela morte do gari Laudemir de Souza Fernandes, em 11 de agosto no Bairro Vista Alegre, em Belo Horizonte, afirmou que o crime foi fruto de uma “guerra de facções” do Cabana do Pai Tomás, bairro vizinho.

A afirmação foi feita logo após o empresário reafirmar que não disparou contra os servidores da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) na Rua Modestina de Souza. Renê foi denunciado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) por homicídio qualificado, porte ilegal de arma de fogo, ameaça e fraude processual. A Justiça aguarda as alegações finais de seus advogados para decidir se o caso será julgado em júri popular.

Em entrevista à TV Record, o empresário afirmou que a Polícia Civil de Minas Gerais precisa voltar suas investigações para o Cabana do Pai Tomás. Ele ainda relata que o local é dominado por uma facção e que já foi abordado por homens armados. “Não estou falando que todo mundo na comunidade tem envolvimento, muito pelo contrário […] À primeira vista, quando eu vi isso disse: ‘Isso foi uma guerra de facção’”.

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Desde o momento de sua prisão, o empresário já apresentou várias versões sobre o que teria acontecido na manhã de 11 de agosto. Em um primeiro momento, Renê negou que teria cometido o crime e passado pelo local no dia. No entanto, o álibi foi derrubado pelas investigações que obtiveram imagens nítidas do carro do suspeito e dele guardando a arma de sua esposa, delegada da PCMG, em uma mochila.

Após a divulgação das gravações, o investigado, em novo depoimento, confessou que estava no local e disparou a arma da esposa. Conforme registrado no termo de declaração da oitiva, pela PCMG, Renê afirmou que essa teria sido a primeira vez que pegou a pistola .380, de uso particular da mulher. Ainda segundo a nova versão, ele teria feito isso para se proteger por “estar indo para um local perigoso” e por não conhecer o caminho. A arma, então, seria “para proteção”.

Em seu último depoimento, durante a audiência de instrução, na última quarta-feira (26/11), o empresário afirmou que sua confissão foi feita sob ameaça de dois delegados da Polícia Civil de Minas Gerais. E que nunca disparou a arma da esposa.

“Eu não mudei minha versão. É que na realidade é que nós estamos dentro de um processo legal. Não, eu não tenho relatado nada para ninguém, eu não tenho acesso a ninguém. Infelizmente elas estão erradas. Eu não gostaria de fazer um ajuste a minha versão, porque estou falando a verdade”, disse à TV Record.

Para Tiago Lenoir, advogado da família de Laudemir e assistente de acusação no processo, as novas alegações de Renê não possuem respaldo no processo e contrariam as provas produzidas em juízo. “Trata-se de uma versão tardia, isolada e já completamente descartada pela dinâmica real dos fatos”.

Complô

Em novos trechos da entrevista, publicados pela Record TV após notificação da defesa do réu, Renê voltou a alegar que está sendo perseguido e que só foi identificado pelas testemunhas depois que policiais militares divulgaram sua foto.

Ele alegou que os colegas de Laudemir possuem interesse financeiro no resultado do julgamento, uma vez que entraram com pedido de indenização na Justiça. “Eles queriam um vilão, que parecia ser um empresário de sucesso. E eu não sou”.

A informação já havia sido divulgada na primeira versão da entrevista ao jornalista Roberto Cabrini. Quatro meses depois de ser indiciado pelo homicídio, Renê disse que foi vítima de um “complô”. Ao ser questionado se acredita que foi vítima de um conluio, Renê afirma que sim, “entre as quatro testemunhas e os investigadores”.

O empresário também afirma que sua prisão, no dia do crime, pela Polícia Militar de Minas Gerais, foi ilegal e que o exame de balística, que comprovou que o disparo foi feito pela arma de uso pessoal da sua esposa – a delegada Ana Paula Lamego Balbino -, não foi realizado. “Ela [a arma] não foi reconhecida. Porque não teve balística. A polícia está dizendo várias coisas, mas não está provando nada. Se tem a prova, cadê o projétil”, disse.

Procurada, a PCMG informou que o inquérito policial tramitou em conformidade aos preceitos constitucionais e legais vigentes, respeitando a ampla defesa e o contraditório do investigado. “Considerando que o caso encontra-se em fase processual e em tramitação no Poder Judiciário, a instituição não comenta inquéritos concluídos e nem eventuais estratégias de defesa adotadas por procuradores legais”.

(Fonte: Correio Braziliense)