Um vídeo que circula desde ontem (30), sem parar, pelas redes sociais, mostra o aniversário de um garoto extrovertido, inteligente e comunicativo, ansioso para conhecer o irmãozinho que está no ventre da mãe. Mas esse encontro jamais acontecerá, pelo menos não nesse plano, porque o garoto morreu!
Kalleby Medeiros Rocha, de 10 anos, estudante do 4º Ano do Ensino Fundamental da Escola Adão Machado, na Vila Três Poderes, em Marabá, tocou em uma grade da quadra de esportes, algo completamente normal no cotidiano escolar. Mas não dessa vez: a grade estava energizada e ele faleceu eletrocutado.
O caso se passou na manhã desta quarta-feira, naquele que seria mais um dia de aula normal na vida de Kalleby. Só que foi o último. Ele ainda foi socorrido de ambulância até Marabá. Porém, durante o trajeto de pouco mais de 100 km que separam a vila da área urbana, o coração do menino se recusou a continuar batendo.
Leia mais:Foi uma tragédia. A escola em que Kalleby estudava passa por reforma e as salas de aula foram improvisadas na quadra de esportes. Mas o improviso não para por aí.
Um morador da vila enviou um vídeo que mostra um ventilador pendurado na grade da quadra, com um fio da ponta descascada balançando, sem nenhum tipo de proteção, um improviso bastante rudimentar que pode ter custado a vida do pequeno Kalleby.
Um registro
Um Boletim de Ocorrência Policial registrado pela própria secretária municipal de Educação, Marilza de Oliveira Leite, diz que uma outra criança descascou o fio de energia elétrica, provocando o choque em Kalleby.
A secretária esteve no Instituto Médico Legal (IML) tratando direta e pessoalmente com os familiares de Kalleby sobre os procedimentos de velório e funeral.
Também foi fornecido ambulância e enfermeira, para que a mãe de Kalleby, Elkiane Beatriz Santos Rocha, que está grávida, tivesse todo suporte médico necessário para atendê-la neste momento, assim como auxílio por meio da Assistência Social. Mas tudo isso é nada diante do horror inesquecível desse dia.
“Era tudo pra mim”
No IML, a avó de Kalleby chorava com a dor incontornável da morte daquilo que era considera descaso. Maria da Silva Santos criticou a demora da escola em comunicar a família sobre o acidente fatal envolvendo seu neto.
“Em nenhum momento, alguém da escola me avisou ou ligou pra mãe. Só depois que ficamos sabendo por terceiros, foi que eles entraram em contato com a gente”, relata. “Eu quero justiça”, afirma, ao acrescentar: “O Kalleby era tudo pra mim”.
“Era um menino cheio de vida, cheio de sonhos, tinha a vida inteira pela frente, era saudável. Agora estamos todos arrasados”, declarou.
MP soube pela Imprensa
Somente sete horas depois do ocorrido é que a promotora Jane Cleide Silva Souza, titular da 10ª Promotoria da Infância e Juventude de Marabá, tomou conhecimento do caso. Mas a informação não veio por meio oficial. Ela abriu um link na Internet com matéria sobre o caso no portal Correio de Carajás. Ela considerou absurda a situação e afirma que acompanhará o caso.
Poucas respostas
Uma nota de esclarecimento da prefeitura diz que o caso foi uma “fatalidade”. Diz também que o menino foi socorrido imediatamente, primeiro no posto de saúde da vila e depois foi levado ao Hospital Municipal de Marabá (HMM), onde já chegou sem vida.
Mas a nota não diz por que a prefeitura não alugou outro prédio para servir de escola enquanto conclui a reforma, como é praxe no serviço público. Não diz também por que essa reforma não foi feita durante o período de férias escolares.
Enquanto essas respostas não chegam, Elkiane, a jovem mãe, se prepara para dar à luz a mais um filho. Resta saber se, no futuro, ele estudará em uma escola sem fios desencapados resvalando em grades de ferro em meio ao vai-e-vem da alegria infantil nas escolas. Mas essa também é uma pergunta sem resposta!
(Chagas Filho e Evangelista Rocha)