Correio de Carajás

Moradores do Santa Rosa adaptam suas casas (e suas vidas) à enchente

Uma canoa e um bairro quase que tomado por completo pela água. Diante de tantas portas e janelas completamente inundadas, a equipe do Portal Correio de Carajás visitou, na manhã desta terça-feira (11), a Rua São Pedro e a Avenida Pará, no Bairro Santa Rosa, Velha Marabá.

Naquele perímetro, a grande maioria das casas possui um segundo andar. Algumas de tijolos, outras feitas apenas com uns pedaços de madeira, até mal acochambradas.

No vai e vem das canoas, moradores trafegam nas ruas alagadas do Santa Rosa

Tristemente, lixo por toda a parte aparece boiando pelas águas que cobrem as ruas. E em muitos sobrados, famílias olham, com naturalidade, o nível do rio subir e inundar o bairro.

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A “normalidade” da enchente faz parte da vida de dezenas de moradores do Bairro Santa Rosa, que não abandonam os sobradinhos, como é o caso da Maria Raimunda, de 44 anos. Filha do Santa Rosa, ela afirma que está acostumada com esse período. No entanto, por conta dos filhos, a preocupação acaba sendo um pouco maior.

A repórter Ana Mangas conversa com Maria Raimunda, que construiu um sobrado para o período da enchente

“Como tenho criança, é perigoso ficar descendo e subindo. Tem muita cobra. E a gente também não tem canoa. Mas estamos acostumados com a enchente. Já fomos para o abrigo algumas vezes, mas é muito quente. Aí construímos esse aqui em cima, de madeira mesmo, que ficamos mais à vontade com nossos filhos”, explica.

Seu companheiro, o pedreiro Claudenor de Brito, 48 anos, também nasceu no Santa Rosa, e conta que construiu a palafita no andar de cima para passar o período da enchente. “Desde quando nasci vejo essa enchente. Mas é melhor ficar aqui em casa do que ir para abrigo”, assume o morador da Avenida Pará.

Ao longo do trajeto, a reportagem encontrou Leni Lopes sorridente na varanda de casa. No alto do sobrado localizado na Rua São Pedro, há mais de 30 anos ela mora no bairro, e afirma que já enfrentou pelo menos umas 10 enchentes.

Com sorriso no rosto, Leni Lopes diz estar acostumada com a enchente

Morando com o esposo e os três filhos, Leni se instalou na parte de baixo da residência, mas com a situação da cheia, ela vai para parte superior com a família. “No começo, ainda fui para abrigo umas duas vezes, mas é muito ruim. Por isso construímos aqui em cima. Mas não gosto de morar aqui, me sinto presa. Na hora que secar eu desço”, afirmando que a família possui uma canoa para se locomover.

Realidade diferente enfrenta Valdirene dos Santos, 27 anos, sem canoa própria. Ela estava saindo de casa com a filha, Maria Elisa, no colo, com a água batendo na altura de seu joelho. “Essa é uma situação muito ruim, mas não temos outro lugar pra morar. Na verdade, essa aqui é a casa do meu pai, eu moro mais lá pra baixo, e como alagou primeiro lá, eu vim pra cá com a minha filha”, conta, ficando na porta de casa, aguardando um canoeiro passar para que elas pudessem seguir o caminho.

Valdirene dos Santos e a filha Maria Elisa aguardam na porta de casa uma “canoa-táxi”

PREVISÃO DO NÍVEL DO RIO TOCANTINS

De acordo com o boletim informativo divulgado pela Eletronorte nesta terça-feira (11), a previsão é que o Rio Tocantins em Marabá atinja 12,66 metros até sexta-feira (14).

Outra previsão é que o prefeito de Marabá, Tião Miranda, decrete estado de calamidade pública, por conta da enchente dos rios Tocantins e Itacaiunas no município. (Ana Mangas)

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