Correio de Carajás

Moradores do Del Cobra pedem clemência contra desocupação

Moradores do Del Cobra pedem clemência contra desocupação

A ação de desocupação de residências localizadas na comunidade próximo ao campo do Del Cobra, no Bairro Santa Rosa, realizada pelo Departamento de Postura na última sexta-feira (11), indignou os moradores da região, que se uniram em protesto nesta terça-feira, 15, contra a medida das autoridades e reivindicando a permanência deles no local. A caminhada dos moradores saiu da Marabá Pioneira rumo à Câmara Municipal de Marabá, onde os manifestantes entraram no Plenário e participaram da sessão.

Uma das principais queixas dos moradores é a de que a intervenção na área foi feita sem nenhum tipo de notificação prévia. Segundo Ronaldo Cavalcante, residente da Avenida João Salame, no Del Cobra, este tipo de ação é um desrespeito com as famílias que moram na localidade. “Nós moramos na região há onze anos. Não temos para onde ir. São pessoas, pais de família que apostaram todos os seus sonhos e suor do trabalho na construção destas casas e do nada eles chegam e destroem tudo? Estamos aqui para pedir socorro, clemência”, afirma.

Em sessão plenária, exigem a suspensão das demolições das casas.

Ainda segundo o morador, a região já é bem desenvolvida, contendo cerca de 100 casas erguidas e outras ainda em construção, o que torna a desocupação ainda mais delicada. “Eles dizem que as casas que estão em construção e sem ninguém dentro vão ser destruídas, e que os moradores residentes vão ser remanejados sabe se lá para onde e quando. Mas as coisas não são assim. É a nossa vida. Por isso estamos aqui representando tanto os moradores ativos como os que estão construindo suas residências no Del Cobra”, resume.  

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DILEMA DA COTA 82

Presente à sessão, a convite da Mesa Diretora da Câmara, o superintendente de Desenvolvimento Urbano, Mancipor Lopes, alegou que o município está cumprindo as recomendações do Ministério Público do Pará (MPPA), baseadas em lei federal, estadual e municipal, que proíbem a construção em áreas de risco. No caso do Del Cobra, as residências foram construídas em terreno alagadiço, abaixo da cota 82, que é a média atingida pela cheia dos rios Tocantins e Itacaiunas.

Embora haja a questão do risco de enchentes, os moradores seguem resistentes em relação à ideia de deixar as suas casas, e atribuem motivações outras a esse movimento de desapropriação, como afirma o morador de Del Cobra, Kleberson Pinheiro: “Eles falam que estamos abaixo da cota que é de 82 metros e por um metro não querem fazer um aterro pra gente morar ali. Dizem que o governo quer a área para fazer um projeto. Já estamos há muitos anos lá e eles estão tirando a dignidade da gente””, alega.

Na reunião com o prefeito Tião Miranda eles acabaram tendo o pedido atendido

Impasse movimenta a Câmara- A entrada dos manifestantes na sessão plenária movimentou a Câmera e o posicionamento dos vereadores. O vereador Ilker Moraes (PHS), afirmou que existe uma pressão por parte do governo municipal, do Estado, por meio da Polícia Militar, assim como do Ministério Público Estadual para desalojar os moradores. “As ações estão sendo realizadas de forma truculenta, atingindo até áreas privadas. Infelizmente, os mais pobres são os mais desrespeitados nesse país. Esperamos que o Ministério Público abra um diálogo, pois não é quebrando barraco que vamos resolver a questão de moradia da população de Marabá”, pontua.

O vereador Ray Athie (PCdoB) também se colocou contra a retirada dos moradores de suas casas e criticou a forma como a desapropriação está sendo conduzida. “As informações que tinham sido repassadas era que antes de qualquer retirada de trabalhador e proprietário de suas casas, haveria uma conversa, um debate sobre a situação. Então, é imprescindível que façamos uma reunião com os moradores para articular um encontro com o prefeito Tião Miranda”, defende.

Cara a cara com Tião – Após a sessão plenária na Câmara, cinco representantes dos moradores do Del Cobra foram encaminhados a uma reunião com o prefeito Tião Miranda (PTB). No encontro, os moradores solicitaram que a prefeitura realize uma inspeção em cada casa construída ou em construção na região para avaliar se elas devem ser demolidas. O prefeito se comprometeu a discutir com o Ministério Público a situação levada a ele e afirmou que a Prefeitura Municipal de Marabá está ao lado da população e que não vai tirar ninguém de suas casas sem diálogo e busca de alternativas para a população que já mora na localidade. Tião Miranda alegou, porém, que novas edificações na área não serão permitidas – e que qualquer ação nesse sentido será coibida, e convidou a população a fiscalizar novas invasões na área. (Bianca Levy)