Filas extensas nas torneiras do chafariz público, carrinhos de mão com vários galões d’água, incontáveis garrafas pet carregadas nos braços e banhos no rio Tocantins. Assim sobrevive à comunidade do núcleo da Marabá Pioneira há três dias consecutivos sem o fornecimento de água. É que as gotas de suor que pingam do rosto, causadas pelo calor escaldante do começo do verão amazônico, não enchem os reservatórios e nem matam a sede dos que ali residem.
A reportagem deste CORREIO esteve nas ruas do núcleo na manhã desta terça-feira (25) e pôde ver de perto como as famílias têm se virado para suprir esta falta.
Entrando na Tv. do Hospital, é possível ver um aglomerado de pessoas em pé e outras se aproximando para encher nas torneiras do lado externo do Hospital Materno Infantil (HMI), recipientes caseiros. Nem mesmo o pico mais tórrido do sol impede que os marabaenses saiam de suas residências para buscar água. É hora de fazer almoço e mandar as crianças para a escola.
Leia mais:Aline Dias, mãe de duas filhas pequenas, diz que desde sábado à tarde não há sinal de água em sua casa. Se ela não for pegar, não tem. No momento em que foi entrevistada estava com a cabeça na bacia cheia de roupa para lavar, motivo pelo qual enchia um galão de água para retornar.
“Meu marido chega do trabalho e precisa vir até aqui para pegar mais água e conseguirmos tomar banho”, conta.
O Tocantins também tem sido uma alternativa para as famílias. Maria Delci relatou que precisou dar banho em sua neta no rio, mais cedo, e aproveitou para encher duas garrafas para o consumo de água. Ela, que mora na Avenida Pará, afirma que não vê um pingo d’água há três dias.
Adriano da Silva levou o galão em cima da bicicleta. O jovem tem feito o mesmo trajeto desde às 16h de segunda para buscar água no local. Ele não precisou buscar antes, pois uma reserva na caixa d’água de sua casa, ainda atendia as necessidades das cinco pessoas que residem em sua casa, mas tem observado vizinhos e amigos enfrentando a situação desde sábado (22), pela manhã.
Bastante revoltado com a circunstância, Marcos Antônio fez questão de mostrar o talão de água com o valor de R$90. O marabaense explica a reportagem que tem caixa d’água em casa, mas quando enche uma garrafa pet de 600ml, mostra uma coloração que não é transparente. Segundo ele, é preciso escolher entre praticidade e saúde: “Ou a gente busca a água do outro lado da cidade, ou fica doente”.
No canto de um cômodo de sua residência, é possível ver pelo menos 10 garrafas de 2L, reservadas com um conteúdo que, com certeza, não saiu de suas torneiras.
Pela manhã foi possível ver vários funcionários uniformizados, levando peças até a bomba da Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa), que faz o fornecimento de água à Marabá Pioneira. A previsão é que o reabastecimento aconteça até a tarde de hoje.
(Thays Araujo)