Correio de Carajás

Mitos atrapalham tratamento

Responsável pela morte de mais 800 mil pessoas por ano em todo o mundo, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens de vários países. No Brasil, entre 2011 e 2016, o número de tentativas e de lesões autoprovocadas chegou à marca de 176.226 casos, sendo 116.113 em mulheres e 60.098 em homens. Os dados publicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) são preocupantes e chamam atenção para a necessidade de falar sobre o assunto nas mídias e ambientes sociais, a fim de prevenir os atentados contra a vida.

Em Marabá, as equipes dos Centros de Atenção Psicossociais CAPS II recebem diariamente pessoas com transtornos psicológicos, de humor, que fazem uso abusivo de substâncias químicas, bem como àquelas que apresentam comportamentos suicidas. Os profissionais lotados nos CAPS são preparados para acompanhar e tratar os casos de indivíduos que atentam contra a própria vida e também para conscientizar os usuários sobre a prevenção ao suicídio.

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“É importante falar sobre esse assunto como uma forma de identificação dos casos de risco e também para incentivar a prevenção. Então a campanha do Setembro Amarelo, mês em que a gente fala sobre o suicídio”, reforça Maria Regina Andrade, psicóloga no CAPS II, localizado na Rua Rio Vermelho, Bairro Novo Horizonte.

Segundo ela, existem vários mitos em torno desse assunto que precisam ser esclarecidos. “Um deles indica que falar sobre o assunto desencadeia o maior número de atos suicidas”. A psicóloga esclarece que tratar o suicídio de maneira errada pode estimular fatores de risco que levem à execução do ato, reforçando que é preciso ter cautela ao noticiar ou debater um assunto como esse.

“É preciso discutir a forma como os casos de suicídio chegam à mídia. A forma de divulgar pode incidir, estimular e desencadear os fatores de risco. Mas dialogar sobre isso não vai resultar em mais casos de suicídio”, defende.

Regina, inclusive, ressalta que deixar de falar sobre o assunto pode ser danoso, já que o paciente com comportamento suicida pode se sentir desestimulado a se manifestar ou procurar ajuda profissional. “Tem pessoas que tem ideação suicida, mas não sabem o que fazer e não conseguem conversar sobre isso. Porque a escuta tem que ser qualificada, empática, sem julgamentos, e a gente tem uma porção de questões na nossa cultura que terminam fazendo com que as pessoas se calem”, alerta.

TRANSTORNOS

Nem sempre quem comete suicídio apresentar um transtorno mental, lembra a psicóloga do CAPS II. “Porque o suicídio é um ato humano, ligado a causalidades bem diferentes. Fatores psicossociais podem influenciar na ocorrência desse ato. E muitos casos de pessoas que tentam suicídio são por vários fatores não relacionados a transtornos”, completa, acrescentando que desemprego, doença crônica, perda repentina de um ente querido ou rompimento de um relacionamento também podem influenciar na ocorrência do suicídio.

“Dentre os casos confirmados de suicídios, além dos fatores psicossociais, também existem casos de pessoas com transtorno mental, como transtornos psicóticos não diagnosticados, uso problemático de álcool e outras drogas, alguns transtornos de humor. Mas a sociedade precisa entender que isso não é determinante como a gente escuta por aí”. Conforme ela recomenda, é preciso observar as tentativas cometidas por pessoas próximas, pois o mito que diz “quem tenta suicídio não comete suicídio”, não é verdadeiro.

“Se você está em contato com uma pessoa que tentou o suicídio, ela deve ser conduzida ao hospital. Então, o hospital é o local do atendimento, porque essa pessoa vai ser atendida por uma equipe qualificada. Diferente de quem tem ideações suicidas, que devem ser encaminhadas aos Centros de Saúde”, afirma Regina. (Nathália ViegasCom informações de Josseli Carvalho).