Correio de Carajás

Miséria, loucura e descaso no centro de Canaã dos Carajás

O nome dela é uma incógnita, embora um comerciante a chame de Maria Clara. A mulher transformou a Praça da Bíblia, na Avenida Weyne Cavalcante, no centro de Canaã dos Carajás, em residência. Arranchou-se ali há mais de um ano e atraiu quatro cães doentes, que dormem ao seu lado, a protegem e perambulam com ela atrás de comida nas redondezas.

E a pergunta mais inquientante neste cenário é: como uma situação dessa perdura por tanto tempo em uma cidade como a de Canaã dos Carajás (a sétima mais rica do Pará), e que deve encerrar este ano com mais de R$ 30 milhões só com royalties da mineração.

Por algumas horas, a Reportagem do CORREIO DE CARAJÁS  acompanhou a movimentação de Maria Clara, que aparenta ter entre 25 a 30 anos. Poucas pessoas arriscam passar por perto dela. Os relatos de violência são alarmantes. Uma mulher levou uma pedrada no rosto, outros apanharam de mangueira e um cabo da Polícia Militar que tentou prendê-la sofreu muito até conseguir manietá-la.

Leia mais:

O comerciante Joaci Neres, que tem um bar com sinuca na Avenida Weyne Cavalcante, conta o que já testemunhou ali em frente, envolvendo Maria Clara. Segundo ele, a mulher já foi flagrada masturbando os cães ou em outras ocasiões fazendo sexo com os mesmos animais.

As confissões de Joaci são confirmadas por mototaxistas que trabalham em um ponto a 50 metros dali. Um deles, Racel dos Santos Almeida, conta que há cerca de três meses a Polícia Militar foi ao local para tentar prendê-la em função da denúncia de sexo com animais, prática conhecida como zoofilia. “Pra conseguir levá-la daqui tiveram de jogar spray de pimenta nos olhos dela. Mas depois voltou e continua morando na praça”, diz.

A “casa” de Maria Clara está localizada entre as duas pistas da Avenida Weyne Cavalcante. Um jardim de 50 centímetros de altura funciona como muro de separação entre ela e os traseuntes. Se alguém “invade” seu mundo, ela se defende, ataca, grita e bate com o que tiver pela frente. Lá dentro do “cercado” há um fogão a lenha onde cozinha sua comida, há caixas pra guardar tudo que vai pegando pela rua e um espaço para seus quatro cães de estimação, que moram com ela na rua.

Todos eles estão feridos e um profissional de saúde consultado pela Reportagem, confirmou que as feridas têm características de leishimaniose visceral, devendo ser realizado exame específico para confirmação.

Durante 24 horas de monitoramente de Maria Clara, ela mostrou que gosta muito de costurar e passa boa parte do dia nessa tarefa. Os tecidos que vai ganhando pela rua ela transforma em blusas ou vestidos, costurados sempre à mão. Desmancha, costura de novo num vai e vem sem fim.

Joaci Neres diz que em algumas ocasiões – raramente – a mulher conversa com ele quando está calma, e em um desses momento contou que é natural de Santa Inês-MA e sofreu um trauma pós-parto, quando o marido levou os filhos embora, inclusive o recém-nascido. “Se isso de fato aconteceu, é o grande problema que causou confusão mental para ela”, avalia Joaci.

Versão da Prefeitura

A Reportagem procurou a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Canaã dos Carajás, que enviou o assistente social Jean Felipe Silva de Olveira ao nosso encontro, no Bar do Joaci, em frente à “casa” de Maria Clara.

Jean disse que trabalha no CRAS (Centro de Referência e Assistência Social) da Prefeitura e que monitora os moradores de rua, avaliando a situação de cada um deles para dar solução aos problemas.

Sobre o dilema específico de Maria Clara, reconheceu que o caso dela é singular, e que a gestão municipal desconhecia situações de violência como as relatadas por Joaci.

Jean afirmou que a Prefeitura tem desenvolvido um trabalho junto aos moradores de rua que conseguiu êxito em 2016, retirando várias pessoas do perímetro em que Maria Clara reside atualmente. Todavia, observou que naquela região ainda há cerca de dez pessoas vivendo nesta situação.

Por outro lado, o assistente social reconhece que o esforço para resolver o problema de Maria Clara precisará um trabalho multidisciplinar envolvendo vários setores do município, como secretarias de Assistência Social, Saúde, e até mesmo o Judiciário, caso necessite realizar internação dela em uma clínica particular.

Jean revelou que nas poucas ocasiões em que a equipe do CRAS tentou abordar Maria Clara, ela saiu de sua “casa” e não quis conversa. “Não podemos forçar tratamento no CAPS ou outro procedimento. Então, esse caso precisa ser avaliado por uma equipe mais ampla”, reafirmou.

O sentimento de Joaci Neres é de que as autoridades vão aguardar Maria Clara ferir alguém gravemente – talvez até matar – para buscar uma solução para o problema, que é pessoal, mas também social.

Será necessário resolver, ainda, o problema dos cães que vivem com ela. Em 2017, Canaã dos Carajás já contabilizou sete casos de seres humanos que contraíram leishimaniose visceral, sendo que o hospedeiro do mosquito é o cachorro.

Fazer sexo com animal é considerado maus tratos e o Centro de Controle de Zoonozes precisa resolver o dilema confirmado pelos comerciantes do entorno. (Ulisses Pompeu)

O nome dela é uma incógnita, embora um comerciante a chame de Maria Clara. A mulher transformou a Praça da Bíblia, na Avenida Weyne Cavalcante, no centro de Canaã dos Carajás, em residência. Arranchou-se ali há mais de um ano e atraiu quatro cães doentes, que dormem ao seu lado, a protegem e perambulam com ela atrás de comida nas redondezas.

E a pergunta mais inquientante neste cenário é: como uma situação dessa perdura por tanto tempo em uma cidade como a de Canaã dos Carajás (a sétima mais rica do Pará), e que deve encerrar este ano com mais de R$ 30 milhões só com royalties da mineração.

Por algumas horas, a Reportagem do CORREIO DE CARAJÁS  acompanhou a movimentação de Maria Clara, que aparenta ter entre 25 a 30 anos. Poucas pessoas arriscam passar por perto dela. Os relatos de violência são alarmantes. Uma mulher levou uma pedrada no rosto, outros apanharam de mangueira e um cabo da Polícia Militar que tentou prendê-la sofreu muito até conseguir manietá-la.

O comerciante Joaci Neres, que tem um bar com sinuca na Avenida Weyne Cavalcante, conta o que já testemunhou ali em frente, envolvendo Maria Clara. Segundo ele, a mulher já foi flagrada masturbando os cães ou em outras ocasiões fazendo sexo com os mesmos animais.

As confissões de Joaci são confirmadas por mototaxistas que trabalham em um ponto a 50 metros dali. Um deles, Racel dos Santos Almeida, conta que há cerca de três meses a Polícia Militar foi ao local para tentar prendê-la em função da denúncia de sexo com animais, prática conhecida como zoofilia. “Pra conseguir levá-la daqui tiveram de jogar spray de pimenta nos olhos dela. Mas depois voltou e continua morando na praça”, diz.

A “casa” de Maria Clara está localizada entre as duas pistas da Avenida Weyne Cavalcante. Um jardim de 50 centímetros de altura funciona como muro de separação entre ela e os traseuntes. Se alguém “invade” seu mundo, ela se defende, ataca, grita e bate com o que tiver pela frente. Lá dentro do “cercado” há um fogão a lenha onde cozinha sua comida, há caixas pra guardar tudo que vai pegando pela rua e um espaço para seus quatro cães de estimação, que moram com ela na rua.

Todos eles estão feridos e um profissional de saúde consultado pela Reportagem, confirmou que as feridas têm características de leishimaniose visceral, devendo ser realizado exame específico para confirmação.

Durante 24 horas de monitoramente de Maria Clara, ela mostrou que gosta muito de costurar e passa boa parte do dia nessa tarefa. Os tecidos que vai ganhando pela rua ela transforma em blusas ou vestidos, costurados sempre à mão. Desmancha, costura de novo num vai e vem sem fim.

Joaci Neres diz que em algumas ocasiões – raramente – a mulher conversa com ele quando está calma, e em um desses momento contou que é natural de Santa Inês-MA e sofreu um trauma pós-parto, quando o marido levou os filhos embora, inclusive o recém-nascido. “Se isso de fato aconteceu, é o grande problema que causou confusão mental para ela”, avalia Joaci.

Versão da Prefeitura

A Reportagem procurou a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Canaã dos Carajás, que enviou o assistente social Jean Felipe Silva de Olveira ao nosso encontro, no Bar do Joaci, em frente à “casa” de Maria Clara.

Jean disse que trabalha no CRAS (Centro de Referência e Assistência Social) da Prefeitura e que monitora os moradores de rua, avaliando a situação de cada um deles para dar solução aos problemas.

Sobre o dilema específico de Maria Clara, reconheceu que o caso dela é singular, e que a gestão municipal desconhecia situações de violência como as relatadas por Joaci.

Jean afirmou que a Prefeitura tem desenvolvido um trabalho junto aos moradores de rua que conseguiu êxito em 2016, retirando várias pessoas do perímetro em que Maria Clara reside atualmente. Todavia, observou que naquela região ainda há cerca de dez pessoas vivendo nesta situação.

Por outro lado, o assistente social reconhece que o esforço para resolver o problema de Maria Clara precisará um trabalho multidisciplinar envolvendo vários setores do município, como secretarias de Assistência Social, Saúde, e até mesmo o Judiciário, caso necessite realizar internação dela em uma clínica particular.

Jean revelou que nas poucas ocasiões em que a equipe do CRAS tentou abordar Maria Clara, ela saiu de sua “casa” e não quis conversa. “Não podemos forçar tratamento no CAPS ou outro procedimento. Então, esse caso precisa ser avaliado por uma equipe mais ampla”, reafirmou.

O sentimento de Joaci Neres é de que as autoridades vão aguardar Maria Clara ferir alguém gravemente – talvez até matar – para buscar uma solução para o problema, que é pessoal, mas também social.

Será necessário resolver, ainda, o problema dos cães que vivem com ela. Em 2017, Canaã dos Carajás já contabilizou sete casos de seres humanos que contraíram leishimaniose visceral, sendo que o hospedeiro do mosquito é o cachorro.

Fazer sexo com animal é considerado maus tratos e o Centro de Controle de Zoonozes precisa resolver o dilema confirmado pelos comerciantes do entorno. (Ulisses Pompeu)