Correio de Carajás

Ministério Público vai investigar aplicativo simulador de escravidão

Um jogo que simula a compra e venda de escravos está disponível na Play Store, loja de aplicativos do Google, desde 20 de abril deste ano (Reprodução/Play Store)

O Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul (MPF-RS) instaurou procedimento para apurar um aplicativo simulador de escravidão disponibilizado na Play Store, loja virtual da Google. O jogo eletrônico ficou disponível na plataforma até o início da tarde dessa quarta-feira, quando foi retirado do ar.

Segundo o MPF-RS, o aplicativo, da desenvolvedora MagnusGames, já havia sido baixado por diversos usuários, pelo menos mil vezes. Muitos comentários racistas foram registrados. “Diante disso, foi expedido ofício para que a empresa Google preste informações específicas sobre o jogo”, disse o MPF em nota.

“Trata-se de um jogo em que o usuário faz o papel de proprietário de escravos e pode escolher entre a possibilidade de fazer lucro e impedir fugas e rebeliões ou a de lutar pela liberdade e chegar à abolição”, destacou o Ministério Público.

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Em São Paulo, o Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância (Gecradi), do Ministério Público estadual, instaurou uma Notícia de Fato sobre o aplicativo. No documento, o MP aponta a existência de mais de mil downloads já feitos em um curto intervalo de tempo assim como discurso de ódio nos comentários da plataforma do Google.

“A empresa deverá informar, em três dias, data, horário e plataforma(s) de disponibilização do game, enviando cópia integral de todos os documentos e do procedimento interno administrativo de solicitação de aprovação feito pelo desenvolvedor”, diz o texto da Notícia de Fato.

O MP quer ainda ter acesso ao e-mail que foi cadastrado pelo responsável do game e às informações sobre a política de autorização para publicação dos aplicativos disponíveis no Google Play.

Parlamentares

O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) representou o MPF do Distrito Federal a investigar o caso. O parlamentar ressalta que o game enaltece a escravidão. “

A vereadora do município do Rio de Janeiro Thais Ferreira (PSOL) também apresentou representação ao Ministério Público estadual contra o aplicativo racista. A parlamentar destaca que o jogo apresenta conteúdo altamente ofensivo e desrespeitoso.

Governo brasileiro

Para evitar novos episódios como o deste jogo, o Ministério da Igualdade Racial (MIR) entrou em contato com o Google para elaborar, de forma conjunta, um filtro que não permita a disseminação de discursos de ódio, intolerância e racismo.

O jogo que simula a escravidão

O jogo, que simula a compra e venda de escravos, ficou disponível na Play Store durante mais de 30 dias. Nessa quarta-feira (24), dezenas de usuários denunciaram o aplicativo.

O jogo se definia como “o melhor simulador de proprietários de escravos e comércio de escravos” e trazia na capa um senhor de engenho cercado de homens negros em posição de subserviência.

Nos comentários, alguns usuários exaltam o game e o período escravocrata do Brasil.

“Ótimo jogo para passar o tempo. Mas acho que faltava mais opções de tortura. Poderiam instalar a opção de açoitar o escravo também. Mas fora isso, o jogo é perfeito!”, escreveu o usuário Mateus Schizophrenic em 22 de maio, ao deixar nota máxima.

“Muito bom mesmo, retrata bem o que eu gostaria de fazer na vida real”, disse outro usuário, identificado como Asriel, no mesmo dia em que o comentário anterior foi feito. O jogo “simulador de escravidão” acumula mais de mil downloads desde que foi lançado.

Um dos objetivos do jogo é ‘evitar a abolição da escravatura’ (Reprodução)

Ao BHAZ, o Google confirmou que o jogo já foi retirado da Play Store. A empresa pede, ainda, que usuários denunciem qualquer aplicativo que não esteja conforme as políticas.

“Temos um conjunto robusto de políticas que visam manter os usuários seguros e que devem ser seguidas por todos os desenvolvedores. Não permitimos apps que promovam violência ou incitem ódio contra indivíduos ou grupos com base em raça ou origem étnica, ou que retratem ou promovam violência gratuita ou outras atividades perigosas”, informou, em nota (leia na íntegra abaixo).

A reportagem também tentou contato com a MagnusGames, responsável pela criação do aplicativo, mas não conseguiu localizá-la.

Nota do Google na íntegra

“O aplicativo mencionado foi removido do Google Play. Temos um conjunto robusto de políticas que visam manter os usuários seguros e que devem ser seguidas por todos os desenvolvedores. Não permitimos apps que promovam violência ou incitem ódio contra indivíduos ou grupos com base em raça ou origem étnica, ou que retratem ou promovam violência gratuita ou outras atividades perigosas. Qualquer pessoa que acredite ter encontrado um aplicativo que esteja em desacordo com as nossas regras pode fazer uma denúncia. Quando identificamos uma violação de política, tomamos as ações devidas.”

(Fonte: BHAZ)