Com mais de quatro décadas de experiência na educação, Maria Helena Guimarães, atualmente presidente do Conselho Nacional de Educação, veio a Marabá esta semana para participar da Conferência Municipal de Educação. Aproveitou a ocasião para visitar escola de uma aldeia na Terra Indígena Mãe Maria, a 20 km de Marabá.
Na ocasião, ela conversou com o Correio de Carajás em entrevista exclusiva. A educadora afirma que no momento, o principal objetivo do CNE é garantir a volta às aulas para todas as crianças e a recuperação das aprendizagens. Ela ressalta a importância da formação dos professores com o uso das tecnologias na educação. “Daqui para frente, acredito que é necessário um plano emergencial de transição da saída da pandemia para frente”.
Maria Helena, que foi à aldeia acompanhada da secretária municipal de Educação, Marilza Leite, e de equipe técnica da 4ª Unidade Regional de Educação, acredita ser indispensável criar um plano para que se consiga, aos poucos, recuperar as diferentes perdas que as escolas tiveram, cada uma com seu contexto e sua realidade.
Leia mais:À reportagem, a professora afirma que a educação híbrida vai ser uma realidade, independente da pandemia. Para ela, a metodologia é um modo de complementar as aulas presenciais, pois se trata de um ensino mediado por tecnologias, inclusive já utilizada em muitos países, que já adotavam esse modelo antes da pandemia.
“A educação híbrida vai ser uma realidade. Vai complementar e enriquecer a educação das crianças e jovens”, enfatiza.
Outra mudança que ela aponta que deve acontecer nos próximos anos é em relação ao Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Com a reforma do ensino e a regulamentação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), a base nacional curricular irá sofrer alterações.
“Ano passado aprovamos uma nova resolução, seguindo novos parâmetros e alinhando com base curricular e com as principais tendências que verificamos que têm sido valorizadas em muitos países. O Brasil, de alguma maneira, ficou para trás e inovou pouco na área da educação nos últimos anos”.
Em seu currículo, Maria Helena carrega uma vasta carreira na área pedagógica, como secretária municipal de educação de Campinas; secretária estadual de educação e secretária de ciência e tecnologia de São Paulo e presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), cargo que ocupou u entre os anos de 1995 até 2002, quando foi uma das mentoras do ENEM e do Saeb, por exemplo.
“Em 1996 implantamos o provão, que depois virou Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes). Em 1998 implantamos o Enem, que continua até hoje. E o mais importante, talvez, foi a implantação do censo escolar da educação básica e da educação superior. Ele é fundamental para distribuição da renda da merenda escolar, para aquisição de livros didáticos, transporte escolar, entre outros programas federais que dependem das estatísticas do INEP”.
Questionada pelo Correio de Carajás sobre os desafios enfrentados com a saída de muita gente do Ministério da Educação, Maria Helena revela que conversou com várias pessoas. “Vários funcionários antigos estão saindo, pessoas muito dedicadas, que têm competência técnica. Não são ativistas políticos ideológicos. São pessoas dedicadas ao INEP e à educação. Realmente estou muito preocupada e conversando com várias lideranças educacionais do terceiro setor, lideranças educacionais do Congresso Nacional, entre outras entidades. Acredito que é preciso uma grande mobilização nacional para evitar um completo desmonte do INEP”, finaliza, demonstrando preocupação.
Visita à escola indígena
Durante sua passagem por Marabá e região, Maria Helena Guimarães visitou a aldeia indígena Jukapi Krijôherê, localizada na Terra Indígena Mãe Maria. Uma das lideranças, Kane Kukukakrykre Parkatêjê, avaliou que a visita da presidente do Conselho Nacional de Educação com relevante para sua comunidade e para a escola. “Muitos dos nossos alunos estão entrando na faculdade sem fazer cursinho, meu filho é um exemplo. Está fazendo Ciências Sociais. A educação cresceu e fortaleceu. Ler e escrever foi um desenvolvimento muito grande. Queremos mais investimento na estrutura física da escola”, revela afirmando que percebeu que um ensino de qualidade é fundamental para seu povo.
Na visita, Maria Helena assistiu a uma corrida de tora, conheceu todas as salas de aula da escola e até mesmo aventurou-se a provar uma referência que tinha como prato principal carne de jabuti. “Fiquei encantada com essa comunidade indígena. (Ulisses Pompeu e Ana Mangas)