Correio de Carajás

Mel com “sabor de ouro” aumenta renda de famílias em Serra Pelada

Presidente da Apimesp, Juliete Germano celebra as conquistas e aumento da produção de mel

Que o mel é considerado, por muitos, um néctar dos deuses, isso todo mundo concorda. Uma iguaria capaz de inspirar até os mais celebres escritores em seus versos, como Nelson Rodrigues e William Shakespeare. Agora, imagine, um mel ser produzido pertinho de você, cem por cento natural, sem nenhum aditivo, e mudando, aos poucos, a realidade da vida de quem o produz.

Assim tem acontecido com os 16 integrantes da Associação dos Apicultores e Meliponicultores de Serra Pelada (Apimesp), localizada em Serra Pelada. Na década de 1980, foram extraídas da comunidade mais de 42 toneladas de ouro. Atualmente, o mel, que tem quase a mesma cor do ouro, é uma das novas fontes de renda da família.

Mel Ouro da Serra faz referência à época dourada da comunidade de Serra Pelada, em Curionópolis

A convite da presidente da Apimesp, Juliete Germano, uma equipe de reportagem do Grupo Correio saiu Parauapebas percorrendo cerca de 49 quilômetros até chegar em Serra Pelada, distrito de Curionópolis, comunidade que ficou conhecida nacionalmente na década de 1980 pelas atividades garimpeiras e a grande quantidade de ouro extraída.

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O grupo foi recebido por Juliete na sede da Apimesp, onde a presidente contou a história da entidade, criada em 2016. A ideia surgiu após uma capacitação na comunidade, que após concluída, um irmão de Juliete, que trabalhava em uma fazenda, disse que havia muitas abelhas por lá. Foi assim que ela e um grupo de novos apicultores começaram indo para o campo todos os dias à tarde. Em apenas dois meses já tinham 40 enxames, e ao longo destes noves anos, a atividade, que começou de forma despretensiosa, foi se profissionalizando.

Ao todo, 16 famílias estão ligadas à Apimesp, melhorando a renda com o produto natural

A apicultura é uma arte doce, mas não é só de mel que vive o apicultor. A presidente da Apimesp confidencia que a principal dificuldade enfrentada hoje vem da própria natureza, com ataques de animais como o tamanduá e até a formiga. “Este ano, as formigas ocasionaram a perda de 12 enxames”, gerando prejuízo financeiro para os apicultores, que tiveram de recomeçar todo trabalho.

No período de safra do ano passado – de junho a novembro – a Associação produziu 1.300 quilos de mel, uma quantidade expressiva diante das dificuldades que os 16 associados enfrentam no dia a dia. Após o mel ser beneficiado e envasado, passa a ser vendido no litro, no quilo e meio quilo, com valores que variam entre R$20 a R$50. Cada associado decide a melhor forma de vender. Juliete, por exemplo, opta por comercializar em casa, que são comprados pela comunidade local e por turistas/visitantes.

Juliete é a única mulher do grupo e conta com alegria que a profissão de apicultora lhe ajudou a realizar muitos sonhos, entre eles, construir a casa própria onde ela mora na companhia dos três filhos e do marido. No entanto, a atividade ainda não representa a principal fonte de renda. Juliete também é mecânica de veículos pesados.

A equipe do Grupo Correio recebeu o convite de conhecer o apiário e vivenciar na prática a convivência do apicultor com as abelhas com ferrão.

Todos vestiram os macacões 100% antiferroada, colocaram botas e luvas em meio a uma temperatura de 30° graus. Já no apiário de abelhas africanas, a equipe do Grupo Correio ficou apreensiva ao perceber que rapidamente ficou rodeada por milhares de abelhas que chegaram até a cobrir o rosto dos integrantes em alguns momentos e dificultar a visibilidade.

Rayane Pontes e Theíza Cristhine com Juliete ao centro: as repórteres ficaram surpresas com a qualidade do mel

Em épocas de safra, os associados passam o dia inteiro no apiário. “Apesar da nossa experiência ter sido em algumas horas, foi o suficiente para darmos ainda mais valor não só ao produto, mas também aos produtores”, avalia Rayane Pontes.

Ela confidencia, também, que nunca esquecerá a experiência em meio à natureza e à produção de mel.

Já Paulo Martins se disse maravilhado e garante que está pronto para mais convites com os pequenos polinizadores

Mas é claro que depois de um trabalho árduo, todos se deliciaram com o mais puro mel diretamente do favo. Um sabor para encantar até o mais exigente jurado de comida.

O projeto, que conta com o apoio da Vale, continua a crescer, trazendo mais pessoas para essa atividade tão essencial, mas muitas vezes invisível. Os associados, alguns novos e outros antigos, seguem firmes nesse caminho — enfrentando as dificuldades, mas também celebrando as vitórias e, claro, o mel doce e puro que as abelhas ajudam a produzir.

SAIBA MAIS

Em 2017, a Apimesp recebeu a Casa do Mel. O prédio, fruto de convênio com a Vale, passou a ser utilizado como espaço para beneficiamento e envasamento dos produtos da associação. Naquela ocasião, os associados receberam uma centrífuga, um decantador e 100 colmeias, que também contribuíram para o aumento da produção de mel.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Brasil figura na 11ª posição entre os maiores exportadores de mel do mundo. Dados do estudo da Produção Pecuária Municipal de 2020, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que a produção nacional é de 51,5 mil toneladas e representa um valor de R$ 621,5 milhões. Já o Pará responde por apenas cerca de 1,2% desse volume, com uma produção de pouco mais de 627 toneladas e um valor de produção de R$ 11 milhões.

(Theíza Cristhine)