A liberação de praias, balneários e igarapés tem dado dor de cabeça para a Vigilância Sanitária e para os órgãos de segurança em Marabá. Passado o primeiro domingo, o extrato da fiscalização nos pontos mais procurados pelos banhistas é negativo, visto que inúmeros itens do decreto que habilitou o uso dos locais foram contrariados por aqueles que resolveram aproveitar o sol de 35 °C que fez naquele dia. E os responsáveis pelo controle não foram efetivos para combater a desobediência. O CORREIO fez uma lista de checagem junto às autoridades para levantar o que deu certo ou não na primeira experiência.
Na Praia do Tucunaré, múltiplas foram as violações da determinação de número 69, baixada pela prefeitura no último dia 1º. O decreto orienta, por exemplo, que os banhistas evitem aglomerações. Nada feito. Fruto da negligência de outro tópico, que dispõe sobre o distanciamento de mesas e cadeiras nas barracas, a bússola dos veranistas apontou para direção bem diferente. A maioria preferiu ficar aninhada sob as tendas, atrás de sombra, quando a enorme extensão da praia estava totalmente desocupada.
De acordo com o diretor da Divisão de Vigilância Sanitária (Divisa), Daniel Soares, o órgão esteve na praia a fim de averiguar se barqueiros e barraqueiros cumpriam o combinado. O detalhe é que a ação aconteceu apenas pela manhã. “Nós estivemos na praia e orientamos os banhistas. De manhã, estava tranquilo, mas à tarde virou bagunça”, reconhece. “As pessoas juntaram as mesas. É difícil separar”, arrazoa.
Leia mais:Questionado pela Reportagem quanto ao tempo de atuação da Vigilância Sanitária no local, Soares revela que o número de fiscais é pequeno para a alta demanda. “Não ficamos durante a tarde porque são poucos fiscais para muita gente. Não tem como nós chegarmos lá depois que a besteira foi feita”, argumenta. “É pedir para apanhar”, complementa, em referência ao trabalho de separação que, pelo menos na teoria, deveria ser feito pela fiscalização.
Sobre autuações, Soares afirma que ainda nenhuma aconteceu. “Antes a Vigilância Sanitária trabalha a orientação, mas a partir dessa semana nós começaremos a autuar. Por tocar nisso, nesse decreto a interdição é a medida que antecede a multa. Então é mais grave para o comerciante. Já imaginou uma barraca fechada no fim de semana? Perde mais que a multa”, analisa.
Pessoas foram flagradas consumindo bebidas alcoólicas na praia, mesmo com a proibição. Daniel Soares sustenta, outrossim, que a fiscalização não falhou em barrar o ingresso de banhistas com cervejas e outras. “A proibição da venda e do consumo [de bebidas alcoólicas] foi forjada de modo a desestimular as pessoas a frequentarem o local. Conseguimos impedir algumas [pessoas], mas sabemos que há embarques clandestinos”, esclarece ele.
O perímetro de operação da Vigilância Sanitária e dos demais órgãos de segurança compreende apenas o embarque principal, feito pela Orla de Marabá. “Nós estamos fazendo [no embarque principal] aquilo que chamamos de controle do acesso do embarque. A pessoa chega com isopor e a Guarda Municipal verifica se tem cerveja dentro. Se não tem, embarca. Se tem, é orientado a descartar”, enfatiza Soares.
Diante das falhas no controle, Daniel promete mudanças na estratégia para este fim de semana. “Quando nós chegamos à praia, havia algumas mesas com bebidas. Não foi o acordado no decreto. Em virtude disso, agora nós estamos de olho nos donos de barracas para que eles evitem o consumo de bebidas alcoólicas”, expõe o diretor de divisão.
PASSAGEIROS SEM MÁSCARAS
Os barqueiros não vigiaram o uso de máscaras pelos passageiros. Inclusive, muitos deles nem com o equipamento de proteção estavam. “Eles não estão usando máscaras e nós estamos no pé. Aquele que não cumprir com essa recomendação no fim de semana será retirado da linha. Nós informaremos a associação sobre o status do barqueiro recalcitrante”, adianta Soares.
Neste sentido, a Vigilância Sanitária marcou para esta quinta-feira (16) uma reunião com barqueiros e donos de barracas para discutir os itens do decreto. “Queremos apenas passar algumas orientações. O nosso intuito é trabalhar para que o funcionamento ocorra da maneira mais harmônica possível, porque o prefeito municipal observou a situação de necessidade desse pessoal”, penhora.
Mesmo que a prefeitura compreenda que os profissionais precisam levar comida à mesa por meio do trabalho, Soares pondera que barqueiros e barraqueiros devem respeitar as medidas. “Eles não entendem que precisam seguir as regras. Não estamos em uma situação normal. Parece que ainda não caiu a ficha”, exorta ele. “Por isso que eu quero reunir com eles, para explicar que precisam observar o decreto”, continua.
Outro ponto é que os donos de barracas não estão atentando para o artigo 7º do decreto, que elenca, no seu inciso III, a obrigação de uso de luvas para o manuseio de produtos in natura, como vegetais e peixes. Esses produtos, que também devem estar com a validade em dia, estão sendo tratados sem o devido rigor sanitário pelos autônomos.
O lema a partir de agora é não cometer os erros do último domingo neste que se avizinha. Aliás, nesta sexta-feira (17), a prefeitura deve convocar entrevista coletiva com a imprensa para discutir a reabertura dos bares, a volta dos servidores públicos ao expediente presencial e as novas estratégias para minimizar o risco de contágio em praias, balneários e igarapés. Ver para crer. (Vinícius Soares)