Correio de Carajás

Marabaense desenvolve ferramenta de IA e vence prêmio de combate à corrupção

Giselle Batista, servidora e mestranda da Unifesspa, dominou o universo intrincado da programação, e foi até São Paulo para receber o Prêmio INAC de Integridade

Giselle Batista: “Integridade não é só um valor, é essencial para a transformação” /Foto: Luciana Araújo

Em um mundo cada vez mais dominado pela Inteligência Artificial, e a mente de uma mulher marabaense idealizou um projeto inovador: a criação de uma ferramenta que rastreia a corrupção em órgãos públicos. Foi com o Audit.AI que Giselle da Costa Batista, servidora e mestranda da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) dominou o universo intrincado da programação, ultrapassou as fronteiras do sudeste paraense e foi até a cidade de São Paulo para receber o “Prêmio INAC de Integridade”.

A cerimônia aconteceu na segunda-feira (16), no Theatro Municipal e o momento é definido como o “maior evento popular contra a luta anticorrupção no Brasil”. Ao subir no palco, erguer o troféu e ser colocada diante do microfone, Gisele celebrou ser aluna do 1º mestrado em Ciências Forenses do Brasil, ofertado pela Unifesspa.

“Todos sabemos que não é fácil pesquisar corrupção, então aqui eu agradeço aos meus orientadores e em nome deles toda a equipe que trabalha no Audit.AI: Hugo Kuribayashi e Marcela Alves, que são meus professores e mentores. Eles acreditaram nesse projeto, e nós já avançamos desde a submissão dele. Fico muito feliz em receber esse prêmio”, disse durante seu discurso de agradecimento. “Integridade não é só um valor, é essencial para a transformação”, acrescentou emocionada. Giselle ficou em primeiro lugar na categoria “Academia”.

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Sendo formada em Administração e servidora da Unifesspa há 11 anos, e agora ocupa o cargo de assistente administrativa no Instituto de Geociência e Engenharias (IGE). Ela acompanha o trabalho do INAC há algum tempo e, sendo um dos arautos marabaenses na linha de frente contra a corrupção institucional, ela cimentou seu papel como cidadã e pesquisadora ao idealizar e desenvolver o Audit.AI como seu projeto de mestrado. Nascida em Araguaína, no Tocantins, ela veio para Marabá ainda criança e se sente filha desta terra.

Pelas mãos e mente de Giselle a figura da mulher nortista, amazônica e do interior paraense, ganhou visibilidade nacional, ocupando lugares que já foram negados ao sexo feminino, mas que estão cada vez mais sendo reivindicados e ocupados por elas.

O prêmio do Instituto Não Aceito Corrupção (INAC) têm como proposta estimular a pesquisa acadêmica, o jornalismo e a ação de gestores públicos e privados, e pessoas de diversas áreas para conectar propósitos, ideias e consciência relacionados às práticas de combate à corrupção e construção de uma sociedade mais íntegra. Além de Giselle, a equipe do Audit.AI é formada por Ruan Vieira Rolim de Sá, Pedro Bacelar Moreira, Marcela Alves de Souza e Hugo Pereira Kuribayashi.

O QUE É O AUDIT.AI

O Audit.AI é um sistema de inteligência artificial que analisa Processos Administrativos Disciplinares (PADs) utilizando Processamento de Linguagem Natural (PLN) e aprendizado de máquina para identificar padrões associados à corrupção. Para o futuro, a expectativa é que esse sistema possa ser expandido para outros órgãos da administração pública, contribuindo para uma gestão mais ética, eficiente e orientada por dados.

Pensado para ajudar a encontrar e prevenir casos de corrupção dentro de instituições públicas, ele lê e analisa os processos que investigam servidores públicos que já foram expulsos. “Com essa análise conseguimos mapear e visualizar quais são os processos mais críticos e onde esses ilícitos administrativos mais acontecem, identificando padrões”, explica Giselle.

Longos e complexos, os processos físicos representam um desafio para aqueles que precisam estudá-los. Aí entra o Audit.AI, a ferramenta que usa inteligência artificial para ler tudo em minutos. Ele conta ainda com o chatbot, recurso que permite ao usuário fazer perguntas e tirar dúvidas sobre o relatório examinado.

“Hoje já existe um manual da Controladoria-Geral da União (CGU) que orienta como usar os PADs para análise. Estamos adaptando a nossa ferramenta para automatizar essa metodologia, que basicamente propõe extrair informações específicas dos processos e avaliar a probabilidade e o impacto dos casos. A ideia é que o sistema também consiga calcular esse nível de risco seguindo o que a CGU já recomenda”, aprofunda a pesquisadora.

O sistema nasceu da experiência de sua desenvolvedora, que trabalha há mais de 10 anos na universidade e foi gestora de pessoas. Ela percebeu na prática como era difícil saber onde estavam os maiores riscos. Foi então que pensou: “E se os próprios dados dissessem onde estão os problemas, em vez de eu ter que adivinhar?”.

Foi então que, no mestrado, ela decidiu transformar a ideia em projeto. Giselle e a equipe desenvolveram o sistema com base em dados de várias universidades e institutos federais. Hoje, o Audit.AI já está funcionando e pode ser usado em qualquer instituição pública, não só na Unifesspa.

Os casos de corrupção que o sistema analisa incluem coisas como: assédio moral e sexual; uso do cargo público para benefício próprio; desvio de verbas; improbidade administrativa (usar o cargo de forma ilegal).

Ao receber o prêmio, Giselle destacou que é aluna do 1º mestrado em Ciências Forenses do Brasil /Foto: Divulgação

SOBRE O INAC

O Instituto Não Aceito Corrupção (INAC) é uma associação civil, nacional e apartidária, sem fins econômicos, fundada em 2015. A entidade foi idealizada pelo então Promotor de Justiça Roberto Livianu, que capitaneou a articulação de um grupo de trinta e dois cidadãos, visando concentrar esforços estruturados e focalizados no combate inteligente e estratégico da corrupção.

O INAC é construído por pessoas com experiências e formações distintas, usando o Direito, a Ciência Política, a Estatística e a Comunicação como principais ferramentas de trabalho.

A atuação acontece em quatro frentes: pesquisa, políticas públicas, educação e mobilização da sociedade e usando dados concretos para realizar discussão profunda, crítica e qualificada de leis e projetos de lei, de modo a contribuir para a edificação e aprimoramento de regras eficientes no enfrentamento do mau uso dos recursos públicos.

Disseminamos conhecimento sobre compliance empresarial e estatal, instrumentos de fiscalização do Poder Público, transparência e acesso à informação, entre outros, com o objetivo de reverter a cultura de corrupção que há tanto tempo vigora no Brasil.

(Luciana Araújo)