Quem passa pela Avenida Minas Gerais em um dia caótico, talvez deixe passar despercebido um pequeno comércio às margens daquela via. Facilmente confundido com uma garagem, o local pode ser considerado como a “fonte de vida eterna” de Luiz Resplandes Gomes, 90 anos, mais conhecido como “Seu Resplandes”.
Com uma disposição de inveja a muitos jovens e uma lucidez pouco comum para a idade, o ancião recebeu a reportagem do Correio de Carajás para uma entrevista e fez questão de apresentar seu cartão de visita, “pagando” dez flexões seguidas – o que poucos jovens de 20 anos conseguem.
Ele divide a vida com a esposa, Doralice Acácio Resplandes, 72 anos. Com um amplo sorriso no rosto, Seu Resplandes logo no início deixou claro que só responderia perguntas sobre aquilo que conhece e contar fragmentos de sua história de vida e o segredo de sua vitalidade satisfaz essa exigência.
Leia mais:Nascido em Tocantinópolis, no antigo estado de Goiás, hoje Tocantins, ele recorda com bom humor sua chegada ao Pará em 1950, quando tinha apenas 16 anos. E foi em Marabá que ele encontrou o que buscava e construiu um lar.
“Vim para cá com o interesse em ganhar dinheiro”, revela, entre risos, mostrando o espírito arrojado que o acompanhou ao longo da vida.
Para aqueles que acreditam em destino, pode dizer que ele levou Seu Resplandes diretamente para o garimpo, onde, nas palavras do veterano, “bamburrou” (pegou muito ouro e ficou rico). A partir daí, seu vínculo social passou a incluir membros da elite marabaense, como os “Barões da Castanha”. Mas, embora convivesse com aqueles da “classe A”, ele garante que nunca foi de esbanjar, uma prática que certamente o fez manter a simplicidade no jeito de levar a vida.
Décadas depois, Seu Resplandes permanece entre os mais abastados, agora vivendo em um bairro permeado por casas vistosas e carros de luxo. A simplicidade, entretanto, não o abandonou e ele segue com sua venda de bananas, farinha e mel, em um cantinho na Avenida Minas Gerais.
O SEGREDO DA VITALIDADE
“Eu sempre fui novinho, mas fui homem”. A expressão é dita por Seu Resplandes e significa que apesar de ser submisso ao envelhecimento que é fruto do passar dos anos, conservou a vitalidade de quando era jovem e trabalhou duro feito homem. O remédio para tal feito? A “receita” é ele mesmo quem passa. Mas de antemão é importante avisar que talvez a “fórmula mágica” não funcione para todos.
Primeiro vem o trabalho. Nascido e criado em uma época em que não havia leis contra o trabalho infantil, aos 8 anos Seu Resplandes começou a laborar com o pai. Alguns anos depois, ao chegar em Marabá, foi a vez de se aventurar no garimpo (Serra Pelada). E a história não termina aí. Sua jornada perpassa por diversas atividades, mas ele prefere não dar detalhes das longas histórias de vida. O veterano chegou a lidar com pecuária durante muitos anos e, também, se aventurou no comércio, incluindo a venda de bananas. Há quem diga que ele morre se parar de trabalhar.
Mas outros ingredientes estão inclusos no método do ancião. “Nunca bebi e nem fumei”, garante ele, ao acrescentar as contribuições para sua saúde robusta. Seu Resplandes não sente dores, não tem diabetes e nem pressão alta. Até mesmo um pé quebrado, “apartado” e costurado de volta ao lugar, teve uma cicatrização rápida.
O acidente aconteceu quando o idoso e dois trabalhadores tentaram derrubar um açaizeiro de seu quintal. A árvore caiu em uma direção diferente da planejada, bem em cima do pé do ancião. Ele foi ao hospital, teve o membro costurado e fez diversos exames, todos com ótimos resultados – de dar inveja até mesmo no médico. A cura veio logo e o homem já caminha perfeitamente.
“Fui para o hospital. Mediram minha pressão, deu normal, fizeram exames de sangue e deu tudo certo. Perguntaram o que eu estava sentindo e respondi que nada, que só tava com o pé quebrado”, conta, com ares de quem encara a vida com leveza.
VIDA EM FAMÍLIA
Luiz Resplandes Gomes casou-se aos 24 anos, formando uma família com sete filhos, dos quais dois faleceram, o mais velho e a mais nova. Uma nova perda aconteceu em 2004, quando sua primeira esposa faleceu após contrair infecção hospitalar.
Cerca de um ano depois o veterano subiu ao altar pela segunda vez, com Doralice Acácio Resplandes, hoje com 72 anos. O casal não teve filhos, mas um somou à prole do outro totalizando dez rebentos.
“Enquanto eu fico ali na frente vendendo bananas, ela fica aqui dentro de casa fazendo a comida”, compartilha o veterano.
Entre memórias de épocas passadas e a disposição para viver os dias do presente e futuro, Luiz Resplandes Gomes simboliza a força e a resiliência de quem fez da simplicidade, do trabalho e da fé os pilares de uma vida longa e significativa.
“O segredo de eu estar aqui não dá para explicar, é inexplicável. Deus me escolheu dentro da barriga da minha mãe”.
(Luciana Araújo)