Correio de Carajás

Marabá sedia 3º Fórum Agrário de Sociobiodiversidade nesta sexta-feira

Alexssandra Mardegan: “O MPPA é um fomentador de políticas públicas, para fazer isso da melhor maneira é preciso sair do gabinete”

Pelo terceiro ano consecutivo, Marabá vai sediar o Fórum Agrário de Sociobiodiversidade, promovido pelo Ministério Público do Estado do Pará (MPPA). O evento acontece nesta sexta-feira (23), a partir das 8h30, no Centro de Convenções Carajás, Folha 31, na Nova Marabá.

Em entrevista ao Correio de Carajás, Alexssandra Muniz Mardegan, promotora de Justiça Agrária, define o encontro como um momento importante para o diálogo, discussões, produções e partilha de conhecimentos para os produtores rurais dos 23 municípios da 3ª Região Agrária.

Para enriquecer o leque de conhecimento dos trabalhadores do campo, a organização do fórum preparou cinco palestras que irão tratar desde o impacto das mudanças climáticas na agropecuária amazônica até alternativas sustentáveis de manejo e tecnologia.

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Alexssandra acredita que este é o momento propício para aproximar a academia (universidade) dos agricultores. Com os diálogos, os produtores terão a oportunidade de conectar suas experiências no campo com as pesquisas científicas e inovações do setor agrário.

“Nós temos a preocupação de, cada vez mais, trazer tecnologia para o campo, para que nossos produtores possam aumentar a produção, garantindo maior qualidade”.

As edições anteriores do fórum mostraram para a organização que este é um evento que promove resultados reais para os produtores, principalmente no que diz respeito à motivação.

“Parece algo simples, mas ouvir frases como ‘nunca fomos tão privilegiados e protagonistas em um evento’ não tem preço e aquece nossos corações”, expressa Alexssandra. Esses são sinais de que os produtores se sentem valorizados.

Esse impacto na autoestima reflete na participação e concentração dos agricultores durante as palestras e atividades do fórum. Para a promotora, é perceptível que há mais dedicação, interação e atenção para o que está acontecendo durante o seminário.

PROGRAMAÇÃO

A manhã de sexta-feira será dedicada ao ciclo de cinco palestras, que acontecerão entre 9h e 12h. Os paineis serão conduzidos por professores da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), do Instituto Federal do Pará (IFPA) e por um especialista da Embrapa. Bioeconomia, sustentabilidade, agrobiodiversidade e tecnologias serão alguns dos temas abordados. Após o almoço, será aberto um momento para escuta social.

“É um período que nós separamos para acolher os produtores sobre os desafios, necessidades e dificuldades que eles têm passado em seus municípios”, contextualiza a promotora.

Durante o dia, haverá também uma feira de exposição e venda de mercadorias do campo. “Teremos produtos da agricultura familiar, artesanato, inclusive o indígena. É uma feira muito linda, e eu realmente recomendo que todos participem”.

CONFLITOS AGRÁRIOS

Durante a entrevista, a promotora respondeu sobre um tema sensível e complexo: conflitos agrários. Historicamente, Marabá está localizada em uma região onde a violência no campo se manifesta de forma contundente. Episódios como o massacre de trabalhadores do MST em Eldorado dos Carajás e os assassinatos de Dorothy Stang e do casal Zé Cláudio e Maria são alguns dos rastros que essa barbárie deixou.

A Promotoria Agrária assume um papel importante dentro desse contexto.

“Desde que eu assumi, resolvi mudar a nossa atuação. O MPPA é um fomentador de políticas públicas e, para fazer isso da melhor maneira e de forma efetiva, é preciso sair do gabinete. É preciso ir ao campo, olhar para o produtor e ouvi-lo”, enfatiza.

Para Alexssandra, essa abordagem faz diferença para o desempenho da promotoria, uma vez que, quanto mais a realidade dos agricultores for conhecida, maior será a qualidade da performance do MPPA nas ações para mudar e intervir naqueles cenários.

“Nós temos, inclusive, recebido chamados do Dnit e do Ibama de Brasília para atuar com as comunidades que serão impactadas pela derrocagem do Pedral do Lourenção”, complementa. Segundo ela, a promotoria está trabalhando com o Ministério Público Federal (MPF) em um projeto voltado para essa população.

“O trabalho que realizamos não tem preço. Infelizmente, não podemos fazer tudo de uma vez, mas, à medida que nossas ações vão aparecendo, muitos parceiros surgem, motivados pelos resultados que, de fato, chegam na ponta”, reforça. Para Alexssandra, esse é o grande diferencial das ações do MPPA de Marabá: levar políticas públicas para quem está na base.

(Luciana Araújo e Ulisses Pompeu)