A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em novembro na capital paraense, tem sido alvo de polêmicas, entre elas a garantia de participação democrática e representativa dos povos que vivem na Amazônia. Para levantar esse questionamento, Marabá foi sede do primeiro encontro Pré-Cop, evento que articulou formas de visibilizar as dificuldades de quem realmente sente na pele os efeitos da crise climática nos territórios amazônicos.
Organizado pela Cúpula dos Povos e Cop do Povo, o evento aconteceu nos dias 16 e 17 (sexta-feira e sábado), reunindo representantes indígenas, quilombolas, ribeirinhos, agroextrativistas, camponeses, movimentos populares, organizações da sociedade civil e universidade.
Assim como em outras organizações pelo Brasil, o encontro foi um momento de unificação da agenda climática na região, dialogando sobre como os diferentes territórios têm sido impactados pela conferência mundial. A partir disso, uma agenda coletiva foi construída englobando a temática da COP30 para a região Sul e Sudeste do Pará.
Leia mais:Na oportunidade, movimentos sociais manifestaram a preocupação de que resolver os problemas climáticos não estará no centro dos objetivos dos líderes mundiais presentes na conferência: “Se fosse, eles estariam organizando escutas pelos territórios e garantindo nossa participação na COP30 com capacidade de incidência nas decisões. Mas não é o que está acontecendo”, destaca Claudelice Santos, agroextrativista do Instituto Zé Claudio e Maria (IZM) e representante da Cop do Povo.
A desconfiança sobre os acordos que serão firmados da Cúpula nasce do contexto em que ela está inserida, pois será palco para líderes políticos e também para os gigantes do mundo empresarial. A suspeita que é os tratados devem envolver os interesses das atividades com os maiores impactos ambientais: mineração, pecuária e agricultura.
Essas operações são de larga escala na região sul e sudeste do Pará, destacando-se pela produção de commodities, o que gera um grande passivo ambiental e regulares conflitos nesse setor. Casos assim são responsáveis por colocar o Pará em primeiro lugar no ranking de violência contra defensoras de direitos ambientais e humanos entre 2019 e 2022, com 1.171 casos registrados. Os dados são das ONGs Terra de Direitos e Justiça Global.
Nessa conjuntura, Polliane Soares, dirigente estadual do Movimento Sem Terra (MST), destaca que não se pode esperar que os criados da crise climática tragam alternativas para os povos da Amazônia.

“Eles são os que mais lucram com ela, não vão trazer soluções para o que a ação deles acarreta sobre nós. A solução está em nós, no que temos construído de resistência nos nossos territórios na Amazônia, com a produção coletiva, sem agrotóxicos e degradação da natureza. A Cop não é pra nós, não é sobre nós e não trará nada de bom pra nós”, declara com veemência.
Assim como a fala de Polliane, o evento foi marcado por manifestações de preocupação com os acordos que serão fechados na COP sem a participação popular. Quem destaca isso é Cledeneuza Maria Oliveira, coordenadora executiva do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) Regional Pará.
“Eles falam de crédito de carbono sem fazer nada pela floresta. É a gente que faz. O projeto que será definito na Cop deve aprofundar ainda mais nossos desafios, pois será um projeto definido sem nossa participação”, desabafa.
A Cacica Yuna Tembé faz eco à tal percepção: “Somos nós, os povos que estão nos territórios, quem cuida da floresta, enfrentando na nossa permanência no território os impactos gerados pelos grandes empreendimentos: fumaça, agrotóxicos, menos chuva, seca dos rios, poluição das águas e do ar, os efeitos do desflorestamento”.
Por sua vez, Jota Quilombola, que se deslocou do seu quilombo do Alto Acará para participar do evento, frisou que os principais alvos da crise climática são as populações vulnerabilizadas, mais pobres, marginalizadas: “Não participar das tomadas de decisão na Cúpula é motivo de grande indignação”, reflete.
Pablo Neri, dirigente nacional do MST e representante da Cúpula dos Povos, explica que a organização popular tem o desafio de construir espaços em todo o país, para mobilizar a população sobre o que significa esse momento.
“Nossa organização é para reivindicar o comprometimento dessas lideranças do mundo todo para uma outra forma de produção e relação com a natureza: ecológica, popular e soberana em que os territórios e sujeitos estejam no centro do debate”, pontua.
Os organizadores do evento em Marabá, afirmam que outros momentos como serão repetidos na região sul e sudeste do Pará. Eles fazem uma convocação para que mais vozes se unam às discussões dos movimentos de base, de mulheres, movimentos sociais, universidade e demais organizações da sociedade civil, para aprimoramento dessa agenda regional de enfrentamento à crise climática no campo e na cidade.
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