Correio de Carajás

Marabá recicla quase nada do próprio lixo

Criado para conscientizar a população brasileira sobre a necessidade do reaproveitamento de resíduos, o Dia Nacional da Reciclagem, comemorado nesta terça-feira (5), juntamente com o Dia Mundial do Meio Ambiente, ainda não é uma data das mais celebradas ou conhecidas entre os brasileiros. O País, que gera atualmente cerca de 160 mil toneladas de lixo por dia, poderia reciclar muito mais, já que pelo menos de 30% a 40% desse volume é passível de reaproveitamento. Mas como o setor ainda é pouco explorado no país, apenas 13% desse montante é encaminhado para a reciclagem.

Os dados são do último estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), denominado “A Organização Coletiva de Catadores de Material Reciclável no Brasil: dilemas e potencialidades sob a ótica da economia solidária”, e evidenciam a problemática que muitos municípios enfrentam por não saber destinar corretamente os resíduos sólidos que produzem.

Números da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), publicados no Diagnóstico da Gestão Municipal de Resíduos Sólidos, revelam ainda que os maiores índices de descarte incorreto de lixo ocorrem nas regiões Norte e Nordeste.

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Marabá não está muito distante desse cenário, visto que não há nenhuma empresa contratada pela prefeitura ou até uma associação responsável por promover a coleta seletiva de resíduos no município. Hoje, a cidade conta apenas com o recém-instalado posto do Ecocelpa. O projeto desenvolvido e administrado pela concessionária estadual de energia é o único na cidade que recebe recipientes de plástico, metal, papel e tetra pack, para ser reciclado posteriormente. A iniciativa também recolhe óleo de cozinha usado, evitando que o produto seja despejado nos rios que recortam a cidade.

“O posto da Ecocelpa, aqui em Marabá, foi implantado em janeiro deste ano. Na região sul e sudeste do estado, ele é o único. A gente não tem ainda em outros municípios. Mas a ideia é realmente expandir esse projeto para as demais cidades do estado. Hoje, a gente tem alguns em Belém, Castanhal, Marituba e tivemos recentemente outro inaugurado em Santarém”, informa Larissa Silva, da equipe de relacionamento com a Imprensa e Mídias Sociais da concessionária de energia. Segundo ela, em quatro meses de funcionamento, foram recolhidos 9.422 quilos de resíduos e 1.146 marabaenses já estão cadastrados no programa.

Larissa revela que mais de nove mil quilos de lixo já foram recolhidos no ecoposto desde o começo do ano

Reaproveitamento

Em troca dos materiais recicláveis, os clientes da companhia inscritos no projeto acabam ganhando descontos na conta de energia. Embora, a medida seja um incentivo à destinação consciente do lixo produzido na cidade, Larissa explica que este não é o principal objetivo do projeto. “A intenção é justamente fazer com que as pessoas tenham uma oportunidade de reciclar aqueles objetos que, muitas vezes, têm em casa e não sabem o que fazer com eles”, destaca.

“O importante”, continua ela, “é o valor que isso agrega para o meio ambiente, é aquele óleo de cozinha que não vai para o ralo, não vai cair nos rios, nos lagos, é aquela garrafa pet que demora anos para decompor virar outro objeto”, confirma. Todo o material arrecadado pelo projeto é repassado a uma empresa coletora no Maranhão que leva todo o resíduo sólido para ser reaproveitado.

“Quando foi feito o processo de instalação aqui e os estudos, tanto para a  localização do posto quanto para a escolha de associação ou empresa para trabalhar com reciclagem, não foi encontrada nenhuma com a documentação regularizada. A única que se habilitou foi uma empresa do Maranhão que é responsável pela coleta e faz a destinação dos resíduos”, explica.

No entanto, Larissa esclarece que a intenção ainda é encontrar uma empresa local legalizada e autorizada para fazer esse tipo de trabalho. Para se cadastrar no Ecocelpa e fazer o descarte de resíduos recicláveis, basta comparecer ao posto localizado na Folha 31, ao lado do Piçarrão, na Nova Marabá, com uma conta de energia em mãos e um documento pessoal. Em troca, o usuário vai receber um cartão com o nome e número da conta contrato para apresentar nas próximas entregas de materiais.

Na hora em que se cadastra, usuário recebe Cartão Ecocelpa que dá direito a desconta na fatura

O horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 8h às 12 e das 14 às 17h. E nos sábados das 8h às 12 horas. “Outro detalhe legal é que a pessoa pode trazer os resíduos e se não quiser que o desconto venha na minha fatura, a gente tem aqui instituições que apoiamos, para as quais podem ser destinados os descontos, como o Lar São Vicente de Paula, Obra Kolping e Apae de Marabá”.

Marabá vai implantar novo aterro sanitário

Embora a Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei de 2010) incentive a coleta seletiva, muitos municípios ainda não investem nessa prática. Marabá, por exemplo, optou pela implantação de um novo aterro sanitário e aguarda resposta da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), para despejar os resíduos no novo destino. Visita realizada no início deste ano ao aterro sanitário de Marabá revelou que, após 10 anos de uso, o local estaria chegando ao limite.

A análise foi feita pela bióloga Patrícia Blauth, consultora em resíduos sólidos, que naquela ocasião esteve no aterro acompanhada do vice-prefeito Toni Cunha e do presidente do Serviço de Saneamento Ambiental do município, Múcio Andalécio. Durante a visita, ela chegou a informar que apenas 17% do que é coletado é verdadeiramente resíduo, sendo que 83% poderia ser reaproveitado, se separado corretamente.

No entanto, o que era grave acabou piorando, já que foi constatado o esgotamento da capacidade da última célula do aterro. A informação foi repassada pelo próprio secretário de Meio Ambiente do município, Rubens Borges Sampaio.

“A gestão atual da Prefeitura herdou um Aterro Sanitário que opera como Aterro Controlado. Por conta disso, houve um diagnóstico executado pela Fundação Vale, o qual detalhou o serviço de coleta, transporte, e disposição dos resíduos sólidos em Marabá. Atualmente os sistemas de tratamento encontram-se desativados e a capacidade da última célula está esgotada”, repassou.

Procurado pelo CORREIO, ele informou que a atual gestão optou, então, por um novo aterro, que no momento está em fase de Carta Consulta na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas). “Nessa Carta Consulta, o que se pretende é que se avalie todas as condições ideais como permeabilidade do solo, homogeneidade e pouca solubilidade química desse solo, entre outros, disse.

“O local sugerido está em situação muito boa, quanto à incidência de inundações é suficientemente afastada de qualquer fonte de abastecimento de água. Além de estar na Zona Rural e com baixa densidade populacional. A área minimiza ao máximo os impactos ambientais, sociais e econômicos decorrentes da sua implantação. Assegurando em longo prazo a estrutura em funcionamento”, concluiu. (Nathália Viegas)