Na manhã de ontem, quarta-feira (27), aconteceu em Marabá um ato público em solidariedade às vítimas de Mariana e Brumadinho, cidades mineiras que foram palco de tragédias devido ao rompimento de barragens de rejeito da mineradora Vale. A manifestação aconteceu em frente ao prédio do Fórum de Justiça de Marabá.
O evento foi encabeçado por sete entidades e reuniu estudantes, professores, pesquisadores, sindicalistas, trabalhadores em geral e moradores de áreas próximas a barragens.
Integrante do Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular (Cepasp), Raimundo Gomes da Cruz Neto, um dos organizadores do evento, explica que o ato se justifica porque nesta região existem três grandes barragens de rejeito da mineradora Vale: em Parauapebas (Projeto Ferro Carajás), Marabá (Cobre Salobo) e Canaã dos Carajás (Cobre Sossego).
Leia mais:Por outro lado, Cristiano Medina, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), observa que o rompimento de barragens não é um desastre ambiental, mas sim um crime movido pelo sistema de mineração equivocado existente no Brasil. Segundo ele, a população da região precisa estar atenta porque o Pará tem mais de 90 barragens de rejeito.
De fato, milhares de famílias de camponeses e também moradores de áreas urbanas vivem no entorno dessas barragens. Um desabamento poderia provocar, além de mortes, danos ambientais, como a poluição dos rios Parauapebas, Rio Verde, Itacaiúnas e Tocantins; e Igarapé Salobo.
Ainda segundo Cristiano Medina, esse modelo de construção de barragens de rejeito existente no Brasil é ultrapassado. “Estamos atentos a toda essa situação de exploração brutal que prevê o lucro acima de tudo sem se importar se vai ocorrer crime”, observa.
Para ele, é urgente repensar um novo modelo de mineração para o País que esteja sob o controle do Estado brasileiro e dos trabalhadores e que vise a vida em primeiro lugar e não os lucros. “A ideia é que, a partir desse ato, a gente possa fazer debates, fazer seminários e denunciar esse modelo de mineração que é muito presente no Estado, sobretudo nesta região”, alerta Medina.
IGREJA PREOCUPADA
Presente ao protesto, o bispo diocesano de Marabá, Dom Vital Corbellini, conversou com a reportagem do Jornal CORREIO. Segundo ele, o rompimento das barragens é uma tragédia que poderia ter sido evitada. “Como igreja e também como cidadãos, nós precisamos preservar a vida”, adverte.
Ainda de acordo com o religioso, as mineradoras precisam repensar o modelo adotado porque não favorece a vida. “Precisamos repensar a questão da mineração do Brasil. A igreja está muito preocupada. Queremos vida e não a morte”, asseverou o clérigo.
SAIBA MAIS
O rompimento da barragem em Mariana ocorreu na tarde de 5 de novembro de 2015, causando 17 mortos e deixando duas pessoas desaparecidas até hoje. O rompimento da barragem de Brumadinho aconteceu dia 25 do mês passado e ainda não se sabe exatamente o número de vítimas. Até ontem (27), o número de mortos era de 180 e 130 desaparecidos. As buscas continuam.
(Chagas Filho)