Pesquisadores da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) demonstraram que a serotonina, um neurotransmissor importante para o estresse e a ansiedade, participa no altruísmo recíproco em lebistes. Os resultados foram relatados em artigo recente publicado no periódico Behavioural Brain Research. Esses achados jogam novas luzes sobre a biologia da cooperação.
Os pesquisadores, liderados pelo professor Caio Maximino, descobriram que esses pequenos animais são capazes de cooperar uns com os outros para inspecionar um perigo em potencial, e que essa cooperação depende de reciprocidade. Além disso, os pesquisadores descobriram que a serotonina aumenta tanto o medo quanto a cooperação nesses animais.
A pesquisa foi realizada pelo professor, do Instituto de Estudos em Saúde e Biológicas, e por estudantes de graduação do Curso de Psicologia da Unifesspa, em colaboração com a pesquisadora Marta Candeias Soares, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO), uma instituição de pesquisa biológica de Portugal.
Leia mais:O altruísmo recíproco, estudado no artigo, é um dos mecanismos pelos quais a cooperação pode evoluir e se manter entre animais que, de acordo com a biologia evolutiva, deveriam competir. No altruísmo recíproco, proposto como mecanismo para a cooperação pelo biólogo americano Robert Trivers em um artigo de 1971, os indivíduos cooperam porque esperam reciprocidade no futuro.
Os mecanismos neurais que estão envolvidos no altruísmo recíproco, no entanto, eram desconhecidos; como isso ocorre no cérebro? O artigo publicado pelos pesquisadores da Unifesspa examinou o papel da serotonina, um neurotransmissor cujo papel no estresse e na ansiedade é bem conhecido, no altruísmo recíproco de lebistes, um pequeno peixe amazônico que é utilizado como modelo em ecologia comportamental.
“Nossa pesquisa demonstrou que a cooperação está acompanhada do medo nesse modelo – isso é, mesmo quando sentem medo, os animais cooperam entre si. É interessante que a serotonina é um neurotransmissor envolvido no medo, e parece também estar envolvida na cooperação. Quando aumentamos a serotonina, tanto o medo quanto o altruísmo recíproco aumentam, e o contrário é verdadeiro quando diminuímos a ação desse neurotransmissor”, conta o professor Caio Maximino.
Esses resultados sugerem, de maneira intrigante, que as partes do cérebro que controlam o medo também estão envolvidas em comportamentos sociais bastante complexos mesmo em animais simples. A dra. Sylvia Dimitriadou, pesquisadora pós-doutoral da University of Exeter que não estava envolvida no estudo, afirmou: “muitos sugeriram que neurotransmissores como a serotonina estão envolvidos na cooperação; entretanto, isso raramente foi testado em comportamentos cooperativos entre indivíduos da mesma espécie. Esse estudo nos dá novas evidências de que a serotonina regula comportamentos de ajuda entre indivíduos da mesma espécie, e é um passo extremamente importante no entendimento dos mecanismos fisiológicos da cooperação”.
Ana Flávia Nogueira Pimentel, a estudante de Psicologia que é primeira autora do artigo, afirmou: “Foi um grande desafio pra mim, pois é algo muito importante para o meu crescimento acadêmico e gera um certo nervosismo, mas foi muito gratificante. O que eu considero mais importante no trabalho foi a observação de que a serotonina atua para promover a cooperação, e isso contribui para a descrição das bases neuroquímicas do comportamento prósocial”.
O artigo Conditional approach as cooperation in predator inspection: A role for serotonin? será publicado em Junho de 2019, no periódico Behavioural Brain Research. (Divulgação)