📅 Publicado em 09/08/2025 08h32
A campanha Agosto Lilás, dedicada à conscientização sobre a violência contra a mulher e que marca o aniversário da Lei Maria da Penha, ganha força em Marabá com uma série de ações programadas ao longo do mês. Em entrevista à Rádio Correio FM, as vereadoras Cristina Mutran (MDB) e Maiana Stringari (PDT), junto com Júlia Rosa, coordenadora do Parapaz Marabá, e a liderança feminina Claudia Cilene, destacaram a importância da mobilização e revelaram dados preocupantes sobre a violência doméstica no município.
A principal ação da campanha será uma blitz educativa realizada na segunda-feira (11), às 8h, no semáforo em frente à Câmara Municipal, na rodovia Transamazônica. A atividade é uma parceria entre o Parapaz, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), a Coordenadoria da Mulher e a Câmara Municipal, por meio da Procuradoria Especial da Mulher.
O objetivo é de conscientizar a população sobre a importância do enfrentamento à violência de gênero.
Leia mais:“Esse mês é um mês emblemático, o agosto lilás, tivemos o aniversário da Lei Maria da Penha. E temos aí um mês intenso de programação, de conscientização, para falar da violência e falar da necessidade de que a sociedade se envolva nesse combate, nesse enfrentamento”, explicou Júlia Rosa durante a entrevista ao radialista Demerval Moreno.
Números alarmantes
Os dados apresentados durante a entrevista revelam a gravidade da situação em Marabá. Segundo Júlia Rosa, o município ocupa a 12ª posição no ranking nacional das piores cidades do Brasil em violência contra a mulher, posição que se mantém entre 2024 e 2025. No âmbito estadual, entre os 144 municípios do Pará, Marabá passou do 3º lugar em 2024 para o 4º lugar em 2025, uma pequena melhora que ainda preocupa as autoridades.
Apenas em julho de 2024, a DEAM registrou 152 ocorrências de violência contra a mulher. No entanto, as entrevistadas alertam que os números reais são ainda maiores devido à subnotificação. “Infelizmente, os números não são reais e nós não podemos levar eles cem por cento em conta. E eu acho que talvez essa hoje seja um dos maiores gargalos e dificuldades que nós temos: o receio e o medo da mulher de denunciar”, destacou a vereadora Maiana Stringari.
A coordenadora do Parapaz explicou que os números dobram quando se considera o atendimento 24 horas da DEAM, especialmente nos finais de semana, feriados e período noturno, quando há maior incidência de casos relacionados ao consumo de álcool. “Você vê que esse número do que se tem no Parapaz pro que a DEAM tem ele dobra por quê? Porque nos finais de semana e nos feriados à noite no plantão, porque a DEAM funciona vinte e quatro horas, aí é que esses números elevam de forma assim assustadora”, relatou Júlia Rosa.
Rede de proteção
Marabá conta com uma rede de proteção à mulher que inclui o Parapaz, a DEAM, a Procuradoria Especial da Mulher da Câmara Municipal, o Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM), o Ministério Público e uma vara especializada em violência doméstica e familiar, sob a responsabilidade do juiz de Direito Alexandre Arakaki.
A Procuradoria Especial da Mulher, que completará um ano de funcionamento no dia 21 de agosto, foi criada por iniciativa da então vereadora Júlia Rosa em 2013, mas só foi instalada em junho de 2023. “O objetivo dela é justamente elaborar, confeccionar leis voltadas à mulher e principalmente ser mais uma entidade participando da rede de proteção à mulher”, explicou a vereadora Cristina Mutran, atual procuradora titular.

Segundo Cristina, a procuradoria recebe e acolhe mulheres que fazem denúncias e realiza os encaminhamentos necessários para os órgãos competentes, acompanhando os casos para garantir que as vítimas não sejam “deixadas no meio do caminho”.
Desafios da zona rural
Um dos principais desafios identificados pelas entrevistadas é o atendimento às mulheres da zona rural de Marabá, que se estende por quase 300 quilômetros. “Quando a gente fala de uma extensão de zona rural como a nossa, a gente se pega perguntando o que que essa mulher que tá lá na ponta faz quando ela é infelizmente agredida fisicamente, verbalmente, psicologicamente. Geograficamente ela já tem ali uma sensação de estar perdida, de estar no deserto, de estar longe de tudo”, pontuou Maiana Stringari.
A vereadora destacou que, enquanto na área urbana existe uma proximidade maior com os órgãos de proteção, as mulheres rurais enfrentam dificuldades adicionais para acessar os serviços de apoio e denunciar casos de violência.
União
Um aspecto positivo destacado durante a entrevista foi a união entre as mulheres na política, independentemente de partido. As quatro vereadoras de Marabá trabalham de forma conjunta nas questões de gênero, com apoio dos vereadores homens.
“Atualmente, durante esse tempo que eu estou participando ativamente da política, eu não visualizo essa separação não. Existe uma união muito grande, tanto partidária como em questão de gênero. Todos comungando quando um colega leva o tema, todos estão junto vendo a importância”, afirmou Cristina Mutran.
A vereadora também destacou que os parlamentares homens estão “abraçando essa causa” e participando ativamente das ações. “Todas as ações que nós fazemos, nós temos o cuidado de fazer o convite a todos, pedindo inclusive a participação dos gabinetes. E o que nós solicitamos, somos sempre ouvidas e há a adesão real de todos os parlamentares”, completou.
Foco na prevenção
As entrevistadas enfatizaram a importância do trabalho preventivo, especialmente nas escolas, com crianças e adolescentes. Júlia Rosa destacou que o objetivo é chegar a um cenário onde seja possível trabalhar apenas com prevenção, evitando que a violência se concretize.
“Esse é o grande foco que tem que ser trabalhado nas escolas, com os adolescentes, as crianças, porque muitas vezes a criança presencia. Então possivelmente existe um risco maior deles serem agressor futuramente”, explicou a coordenadora do Parapaz.
O trabalho preventivo visa quebrar o ciclo de naturalização da violência doméstica, onde crianças que presenciam agressões podem reproduzir esse comportamento na vida adulta. “Nós precisamos tirar a naturalidade disso de dentro de casa, porque às vezes se torna tão rotina assistir a mãe ser violentada, que ela acha que quando sair de casa e construir uma família vai ser natural que aquilo aconteça com ela”, alertou Júlia Rosa.

Programação do mês
Além da blitz educativa, a programação do Agosto Lilás em Marabá inclui o evento de comemoração do primeiro aniversário da Procuradoria Especial da Mulher, marcado para o dia 21 de agosto. Em setembro, está prevista uma capacitação para a rede de atendimento à criança e ao adolescente, devido ao aumento dos índices de violência também nessa faixa etária.
A campanha teve início no dia 1º de agosto com o lançamento na Usina da Paz, promovido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Condim), e a Coordenadoria da Mulher também realizou encontros de conscientização.
As entrevistadas reforçaram que, embora agosto seja um mês emblemático para a causa, o trabalho de combate à violência contra a mulher deve ser contínuo durante todo o ano, envolvendo toda a sociedade no enfrentamento a esse grave problema social.