Correio de Carajás

Marabá em esforço global para restauração de áreas degradadas

Marabá em esforço global para restauração de áreas degradadas

Nos últimos anos, muito tem se falado em restauração de terras degradadas. Um exemplo é o esforço global chamado Desafio de Bonn (Bonn Challenge, em inglês), lançado em 2011 a partir de uma parceria entre o governo da Alemanha e a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, na sigla em inglês).

O objetivo é restaurar 150 milhões de hectares de terras desmatadas e degradadas do mundo até 2020 e 350 milhões de hectares até 2030.  Para aproveitar a audiência internacional no XXV Congresso Mundial da União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO) realizado em Curitiba (PR), a IUFRO organizou um evento paralelo no dia 1º de outubro para apresentar o progresso alcançado na implementação da restauração em paisagens selecionadas em nove países.

O formato foi inovador, incluindo pequenos filmes, entrevistas com especialistas e informações agrupadas com pôsteres. As informações apresentadas no evento foram levantadas a partir de um estudo científico prévio em cada país, realizado durante esse ano.

Leia mais:

Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, foi escolhida como coordenadora para representar o Brasil no projeto. Ela explicou que a apresentação teve por objetivo mostrar como os países estão trabalhando frente aos compromissos de restauração assumidos no Desafio de Bonn. Segundo a pesquisadora, a meta brasileira é de restaurar 12 milhões de hectares. O estudo utilizou paisagens representativas em cada um dos países, e a paisagem selecionada no Brasil foi o sudeste do Pará, na região de Marabá.

Estudo padronizado

“A ideia foi conduzir o estudo de forma padronizada, com um método semelhante em cada país, para permitir fazer generalizações úteis para orientar a restauração florestal. A região que escolhemos é a área mais desmatada da Amazônia, no arco do desmatamento, por isso consideramos que seria uma região interessante para o projeto. O evento paralelo da IUFRO foi parte desse processo de estudo para que pudéssemos apresentar os resultados preliminares e discuti-los com a comunidade científica e com tomadores de decisão. Desde o início, foi definido que o relatório deveria ser finalizado até esse momento, para ser apresentado e discutido no Congresso, ocasião em que representantes de todos os países estariam presentes”, explicou.

O levantamento rápido, chamado pela IUFRO de snapshot study, levantou no campo as informações. Nesse processo, foi importante conversar com os diversos atores envolvidos na restauração, e todos os países cumpriram essa etapa em suas regiões escolhidas, para entender como a restauração está sendo implementada no chão pelas pessoas de cada país. 

“Todos reuniram, a partir desse estudo, um conjunto de lições. Por mais que existam diferenças culturais, diferenças de governo, de posse de terra, de taxa de desmatamento, existem questões comuns que emergem. As lições do Brasil, por exemplo, podem ser aplicadas em outros países tropicais, que estejam implementando a restauração”, afirmou.

O estudo brasileiro, conforme a pesquisadora detalhou, envolveu mais de 50 entrevistas, em áreas dominadas por assentamento de reforma agrária. No Pará, a equipe da Embrapa se reuniu com instituições governamentais, não-governamentais, agricultores, empresas e universidades – todos os atores da região – para conseguir extrair lições que ajudem a aumentar a escala da restauração florestal. Também foram analisados diferentes projetos de restauração em andamento ou finalizados na região.

Um deles é desenvolvido pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-bio). O outro, chamado de Programa Rural Sustentável, foi desenvolvido pelo Ministério da Agricultura e financiado pelo governo britânico. O terceiro projeto, “Juventude e Cooperativismo”, foi realizado pela Federação de Cooperativas de Agricultura Familiar da região e tinha foco nos jovens filhos de agricultores, com o objetivo de fixar os jovens no campo e melhorar as condições de vida no campo, além da restauração. As lições selecionadas pela equipe brasileira para apresentação no Congresso foram baseadas nesses projetos. (terra.com.br)