Dados do Sumário para Tomadores de Decisão do Relatório Temático sobre Agricultura, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, publicados em julho deste ano, estimam que até 2060, na fronteira Amazônia Cerrado, as variações no clima regional vão comprometer a viabilidade de 74% das atuais terras agrícolas. Paralelo a isso, um estudo do MapBiomas revela que, em 38 anos (1985 a 2022), a área utilizada para a agricultura no Brasil cresceu 95,1 milhões de hectares.
Ambas as evidências apontam para a urgência na redução dos gases de efeito estufa. E é nesse contexto que Marabá recebeu, nesta quarta-feira (27), uma das oficinas do Plano de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (ABC+). O evento foi realizado no auditório da Universidade do Estado do Pará (Uepa).
Na oportunidade, agricultores e especialistas discutiram estratégias para a implementação do programa que busca promover sistemas produtivos sustentáveis, com metas para áreas florestais, integração lavoura-pecuária-floresta, florestas plantadas, insumos e irrigação.
Leia mais:Os workshops recebem financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e têm como objetivo disseminar o conhecimento sobre o plano, coletar informações regionais e construir um plano de implementação em conjunto com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (SEDAP) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater).
ABC+ NO PARÁ
Em entrevista ao Correio de Carajás, Tiago Catuxo, coordenador do Plano ABC no Pará, destaca a importância de “meter a mão na massa” e criar ações efetivas para alcançar as metas estabelecidas. Também é necessário entender a realidade de cada região e definir os gargalos específicos de cada sistema produtivo.
O Plano ABC+ é uma política pública do governo federal e, para que ele se torne efetivo no Estado, está sendo transformado em um decreto. “Estamos dando uma base legal para que ele se torne uma meta concreta do Estado, independente das gestões futuras”, elabora o coordenador.
Como o plano prevê a criação de uma agropecuária sustentável, para enfrentamento das mudanças climáticas no setor, com uso de tecnologia e práticas sustentáveis, as oficinas abrem espaço para diálogos com o pequeno, médio e grande produtor e também com os povos originais. É uma oportunidade para que sejam apresentadas propostas de desenvolvimento dentro das diretrizes do plano, unindo diversos tipos de conhecimento, seja o técnico ou os tradicionais.
A partir dessas conversas serão coletadas informações sobre municípios e as regiões do Estado e, a partir desse conhecimento, será possível traçar estratégias para produções sustentáveis. Além disso, as oficinas cumprem o papel de disseminação do Plano ABC+ nas localidades por onde passar.
Mariene Romeiro, engenheira agrônoma e pesquisadora da Agroícone, consultoria que apoia o governo na implementação do plano, enfatiza a importância de sair da capital e conhecer a realidade local. Ela destaca a necessidade de ouvir os agricultores e entender suas necessidades para que o plano seja efetivo.
NA PRÁTICA
Gerson Marreiros da Silva, agricultor familiar desde 1999 e morador do Projeto de Assentamento Prata, localizado em São João do Araguaia, produz “um pouquinho de cada coisa”, sendo uma parte destinada à comercialização e outra para consumo próprio. No PA onde vive, o leite tirado das vacas é o principal produto. Ele é estocado e vendido para um laticínio. “Como presidente da associação eu entendo que nós temos mais dificuldade do que sucesso (na produção), então a gente precisa estar sempre nesses eventos para ver se surge alguma coisa que nos dê uma luz”, desabafa. Para ele, essa é uma oportunidade para adquirir novos conhecimentos e repassá-los para seus pares.
Para agricultores como Gerson, o Plano ABC+ pretende estimular o uso de técnicas que minimizem o impacto ambiental na produção, como o plantio direto e o manejo adequado do solo. Também prevê a recuperação de pastagens, florestas e solos degradados. O programa entra com o apoio técnico e os produtores colocam a mão na terra.
Quem também participa desse debate é Luis Vinicius dos Santos Moreira, 20 anos, estudante do curso de Ciências Biológicas na Universidade do Estado do Pará (Uepa). Em conversa com a reportagem ele pondera a importância de um equilíbrio entre as práticas sustentáveis para redução dos gases de efeito estufa e a produção agropecuária. “Acho que essa oficina e esse programa são interessantes para que a gente tenha uma nova visão das coisas”, opina.
As oficinas do Plano ABC+ representam um passo importante para a construção de um futuro mais sustentável para o agronegócio no Estado. A participação ativa dos agricultores, pesquisadores e estudantes demonstra o compromisso de todos em encontrar soluções para os desafios climáticos e garantir a produção de alimentos de forma responsável.
SAIBA MAIS
O Plano ABC é dividido, até o momento, em duas fases. A primeira aconteceu entre 2010 e 2020 e teve como objetivo principal estimular a adoção de tecnologias e práticas de baixo carbono na agricultura brasileira. A segunda fase, iniciada em 2020, busca aprofundar as ações da primeira fase, além de incorporar novas tecnologias e práticas.
(Luciana Araújo)