Correio de Carajás

Marabá discute caminhos para implementação da agenda climática local

Painel da 1ª Conclima destaca a importância de traduzir o debate global sobre sustentabilidade para o contexto local, com ações concretas que envolvam o poder público e a sociedade civil

O painel destacou a importância de traduzir o debate global sobre sustentabilidade para o contexto
Por: Luciana Araújo

A segunda mesa da 1ª Conferência Municipal sobre Mudanças Climáticas, realizada na tarde desta quinta-feira (23) na Câmara Municipal de Marabá, reuniu lideranças comunitárias e representantes de organizações sociais para debater as oportunidades e os desafios da implementação da agenda climática em Marabá. O painel destacou a importância de traduzir o debate global sobre sustentabilidade para o contexto local, com ações concretas que envolvam o poder público e a sociedade civil.

Fernanda Costa Miranda, coordenadora do Núcleo Regional da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS), defendeu que pensar globalmente e agir localmente deve ser o princípio orientador das políticas ambientais do município. Para ela, é fundamental que os temas relacionados ao meio ambiente sejam apropriados pela população de maneira prática e acessível.

“Quando falamos de enchentes e do ‘calorão’, estamos tratando de questões climáticas. Precisamos substituir a cultura do corte e queima na produção agrícola por práticas sustentáveis e desenvolver um plano específico para Marabá, com estudos sobre o que mais polui, onde há desmatamento e onde se produz mais lixo”, alerta.

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A coordenadora também ressaltou a importância de aproximar as discussões da COP30 da realidade marabaense. Ela acredita que as metas de descarbonização e a revisão da legislação ambiental podem ser adaptadas à escala municipal. Fernanda também aponta que a Lei Orgânica do Município precisa ser avaliada, para que seja possível entender se ela atende às políticas públicas e às demandas atuais da cidade.

“A crise climática não é natural”

Por sua vez, Polly Soares, articuladora e mobilizadora do Instituto Zé Cláudio e Maria, chamou a atenção para a necessidade de reconhecer a crise climática como uma resposta direta ao avanço predatório do capital sobre a natureza.

“A crise climática não é algo natural. Temos um meio ambiente fragilizado e seguimos agravando a situação. Não podemos ignorar o papel da pecuária e da poluição industrial, como a causada pela JBS, no agravamento desse cenário”, afirma.

Polly também criticou o caráter mercantilizado de algumas soluções defendidas em grandes eventos internacionais, como os da COP30. Para ela, as propostas costumam estar calcadas na venda da natureza, como os créditos de carbono. “As soluções reais estão aqui, nos povos da Amazônia, que convivem em equilíbrio com o meio ambiente”, defende.

Ela propôs que Marabá elabore um plano de ação climática que envolva o plantio de árvores em praças e canteiros, a recuperação de nascentes e a criação de uma lei que proíba a pulverização aérea de agrotóxicos, além do fortalecimento de práticas agroecológicas e sustentáveis.

A experiência prática de quem atua diretamente com resíduos sólidos também foi apresentada durante a mesa. Francisca Fernandes, uma das fundadoras da Cooperativa dos Recicladores de Marabá (Corema), contou que o grupo surgiu em 2019, no bairro Nossa Senhora Aparecida, com o objetivo de gerar renda e contribuir com a economia circular.

“Em Marabá ainda não temos a cultura da separação de resíduos, e isso poderia gerar emprego e ajudar o meio ambiente. Hoje, 25 famílias vivem do nosso trabalho de coleta seletiva, feito com triciclos e sem apoio do poder público”, relata.

Segundo ela, a cooperativa já recolheu 749 toneladas de resíduos desde 2020 e está apta para gerenciar o sistema de coleta seletiva caso o município implemente políticas públicas voltadas a esse fim.

Para mudar a cidade é preciso mudar a mentalidade

Em sua fala, Wesley Faustino Martins, presidente da Corema, afirma que o maior desafio para o avanço da agenda ambiental está na resistência à mudança, seja de mentalidade ou de comportamento. “Para transformar a cidade, precisamos primeiro mudar a forma como enxergamos os recursos naturais”.

Em um primeiro olhar, as discussões da 1ª Conferência Municipal sobre Mudanças Climáticas de Marabá aparentam ser pautadas exclusivamente na exposição de problemas, sejam eles estruturais ou políticos. Contudo, a observação minuciosa revela sugestões de reestruturação e avanços, não só de políticas públicas, mas de conscientização da sociedade.

Seja com o plantio de árvores em espaços públicos, a implantação da coleta seletiva na cidade ou leis que proíbam a pulverização aérea de agrotóxicos. Ou transformando quintais em hortas e pomares, assim como a conscientização da população em relação à poluição da cidade. Pelo que foi exposto, existem soluções, mas falta movimentação para implementá-las. Iniciativas como a Corema, pouco divulgada pelo município, precisam receber apoio da máquina pública para seguir realizando seu trabalho.

O debate mostra que, embora os desafios sejam grandes, há caminhos possíveis para transformar o discurso ambiental em ação prática. As propostas apresentadas vão desde o fortalecimento institucional e a revisão de leis até soluções comunitárias e econômicas sustentáveis, evidenciando que Marabá pode se tornar referência regional na implementação de políticas climáticas locais.

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