Correio de Carajás

Marabá celebra o Dia Mundial de Saúde Mental

Marabá celebra o Dia Mundial de Saúde Mental

“Quem sabe rodar, roda; quem saber pular, pula; quem sabe cantar, canta”, estes versos entoados pela sociedade civil organizada em uma grande ciranda ecoaram na praça Duque de Caxias, na Velha Marabá, nesta quinta-feira, 10, durante o evento em comemoração ao Dia Mundial da Saúde Mental, promovido pelo Centro de Saúde Psicossocial (CAPS III- Marabá). Ao invocar no canto a consciência corporal e as potências da coletividade em espaço público, os participantes celebraram na prática e na essência as atualizadas formas promoção de saúde mental desenvolvidas na contemporaneidade.

Mostra de artes plásticas, pintura, artesanato, com obras e peças produzidas pelos usuários do Caps, além do espaço de arteterapia, brechó e ação terapêutica teatral, com ciranda e contação de história, foram algumas das ações apresentadas durante o evento. Diferentes frentes que revelam a materialização do trabalho desenvolvido pela instituição. Um trabalho que não se resume à linha medicamentosa e ambulatorial e que busca- e encontra, na Arte e no convívio social poderosas ferramentas para o tratamento de transtornos psiquiátricos.

Mostra de Arte “Nise da Silveira”.

Diego Vieira, psicólogo do Caps III, salienta a importância da arte no processo terapêutico. “É uma mudança de paradigma que sai da lógica de isolamento rumo à lógica do cuidado. E a arte é uma linha poderosa de cuidado. Podemos ver a dança como um processo de terapia, a pintura como processo de terapia, a própria roda de conversa. As ações ditas complementares ao tratamento de pessoas em sofrimento psicológico são tão ou até mais importantes do que o simples uso de medicamento”, defende.     

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Novas formas de cuidado- Em 1990, o Brasil torna-se signatário da Declaração de Caracas a qual propõe a reestruturação da assistência psiquiátrica. Em 2001, a Lei n. 10.216 é promulgada pelo Governo Federal, se tornando um dos marcos da Reforma Psiquiátrica e do redirecionamento do modelo de assistência em saúde mental no Brasil. Aliado a estudos técnicos sobre o tema, o foco da assistência passa a ser a promoção e garantia de cidadania e respeito aos portadores de transtornos mentais, resgatando o direito e a capacidade dos indivíduos de participar de trocas sociais, culturais e afetivas.

Funcionários, usuários e sociedade civil participaram de uma grande ciranda.

Na contramão do modelo manicomial e ambulatorial amplamente desenvolvido no século XIX e XX, esta outra forma de cuidado que pressupõe corpos livres e partícipes tem eficácia comprovada e amparada cientificamente, como explica o Médico em Saúde Mental do Caps III- Marabá, Charles Vasconcelos.  “Esta ação, assim como outras ações que o Caps realiza, é baseada na ideia do afeto, da coletividade. A ocupação do espaço público estimula a reconstrução de uma identidade cultural, de comunidade. Este é um dia em que no mundo inteiro fala-se sobre como a cultura e o afeto conseguem transformar, modificar corpos. Estamos repetindo aqui em Marabá métodos consagrados em outros lugares do mundo. Estratégias cientificamente comprovadas de promoção de saúde mental por meio do afeto, como aquilo que atravessa nosso corpo e nos faz reelaborar os pensamentos”.

Ainda de acordo com o médico, as trocas simbólicas e afetivas advindas das atividades culturais e artísticas, potencializam a relação de presença e consequentemente, de cura. “A saúde mental não se faz com uma pessoa só. Diferente de outros campos da medicina, ela precisa aumentar os corpos sociais para aumentar também as potências e possibilidades de tratamento. Em um tempo em que as pessoas vivem as suas individualizações, quando juntamos em um mesmo lugar moradores de rua, usuários do Caps, funcionários públicos, entre outros, estamos criando a possibilidade de novos mundos se abrirem”, aponta.


Dr. Charles Vaconcelos fazendo contação de história.

Presença Curativa

Usuário do Caps há cerca de dois anos, Pedro Sales é o exemplo de que a presença, os afetos e afetações são curativos. Desde que passou a frequentar as atividades promovidas pelo Caps, melhorou consideravelmente o quadro clínico dele, percebendo o efeito prático no dia a dia. “Eu tinha dores de cabeça, sentia muito, era muito agressivo. Desde que eu cheguei lá me senti bem, acolhido, feliz. Em casa só me sentia triste, não tinha o que fazer. Agora não, me sinto bem na frente de todo mundo, e convivendo com essas pessoas, com essas companhias tão boas não me sinto mais sozinho”, resume.   

Nos últimos cinco anos, o Caps Marabá atendeu cerca de 15 mil pacientes. Atualmente a instituição possui 1010 pacientes ativos. Entre os casos de atendimento mais recorrentes, destacam-se o distúrbio bipolar, a ansiedade generalizada e as psicoses. O Centro de Atendimento Psicossocial é aberto ao público a atende de segunda à sexta, das 8h às 18h, na Folha 31, Quadra especial, Lote especial, Nova Marabá.

 Dados sobre os transtornos mentais no Brasil

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 5,8% dos brasileiros (cerca de 12 milhões de pessoas) sofrem de depressão. É a maior taxa da América Latina e a segunda maior das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos. Ainda de acordo com o estudo, estima-se que entre 20% e 25% da população teve, tem ou terá depressão, sendo essa a doença psiquiátrica com maior prevalência no Brasil. Em seguida, aparece a ansiedade, que afeta 9,3% dos brasileiros (cerca de 19,4 milhões), e faz com que o Brasil ocupe o primeiro lugar da lista de países mais ansiosos do mundo. O suicídio é a terceira principal causa externa de mortes no Brasil (atrás de acidentes e agressões), com 12,5 mil casos em 2017, segundo o Ministério da Saúde. Em relação ao ano anterior, o aumento foi de 16,8%. (Bianca Levy)