O dourado do ouro de Serra Pelada agora é substituído pelo colorido das linhas de 80 mulheres bordadeiras da vila, que é distrito do município de Curionópolis. Mulheres que, há anos, chegaram àquele local para sobreviver do minério e, assim como ele, se provaram maleáveis, mas resistentes, para mudar o rumo de suas vidas e traçar histórias em tecidos imaculados.
Histórias contadas com sensibilidade, emoção e generosidade no documentário e na exposição ‘Nas linhas da história’. Durante os dias 11, 12 e 13 de abril, as obras delicadas das bordadeiras estão a mostra em uma galeria especial montada no Partage Shopping Marabá. A peça audiovisual também está sendo exibida no cinema durante os três dias.

O projeto das Bordadeiras de Serra Pelada, apoiado pela Prefeitura de Curionópolis, em parceria com a Vale, apresenta peças cuidadosamente bordadas que contam histórias, carregam memórias e ressignificam vidas – tanto de quem as traçou quanto de quem as contempla.
Leia mais:
Mariana Chamon (MDB), prefeita de Curionópolis, está no segundo mandato de uma gestão que trabalha com afinco para que a cultura de Serra Pelada seja cada vez mais reconhecida e impulsionada, não só no Pará, mas em todo o país. Em entrevista a este CORREIO, ela celebra o impacto social e, também, o poder simbólico da transformação.

“Serra Pelada respira cultura. Esse projeto empodera mulheres que agora têm sua própria renda, autoestima elevada e uma nova história para contar. Muitas delas venceram a depressão. Hoje têm vontade de viver. Se a mulher vai bem, a família toda vai bem”, declara com emoção.
Na vida das bordadeiras, o projeto impulsiona o empreendedorismo feminino e dá voz a essas mulheres. Paralelamente, é também uma ferramenta para fomentar o turismo local.
O orgulho pelo projeto também foi compartilhado pelo deputado estadual Wenderson Chamon (MDB), o Chamonzinho, que prestigiou o evento. “Este projeto maravilhoso sai de Serra Pelada para o Brasil e o mundo. A Mariana tem feito um trabalho exemplar na cultura de Curionópolis. E as bordadeiras merecem todo nosso reconhecimento”, destaca.

PELAS MÃOS DAS MULHERES
Entre essas 80 fantásticas mulheres está Maria Irene do Nascimento, moradora de Serra Pelada desde 1993. Com mãos firmes, sorriso aberto e fala alegre, ela conta à Reportagem sobre o poder que o bordado exerceu para redesenhar sua rotina após a morte do marido, há dois anos.
“Eu vivia só com o Bolsa Família, muito pouco. Hoje, com o bordado, tudo melhorou. Me sinto honrada, maravilhosa, vendo meu trabalho nessa exposição, no cinema. Nunca pensei em estar aqui. A gente borda com amor e eu espero que Deus continue me dando força pra ir ainda mais longe”, conta, encantada e emocionada.

As peças, que vão de camisas a itens decorativos, recebem uma assinatura intricada, mas que não pode ser vista: o orgulho que irradia das mãos que tramam histórias no tecido. É mais do que artesanato, o bordado virou linguagem de resistência e sobrevivência. Antes invisibilizadas devido à sua condição social, as bordadeiras agora são vistas e aplaudidas de pé.
A jornalista Camila Ferreira, que dirigiu e gravou o primeiro documentário sobre o projeto, mergulhou nessas histórias e saiu transformada. “Quando você entra nessa história, conhece mulheres incríveis, inspiradoras, que deram sangue e lágrimas na construção daquela comunidade. Para mim, foi uma imersão – não só na história delas, mas na minha também, como mulher”, confessa com emoção e carinho.

PESSOAS SÃO RIQUEZA
Quem também assina a direção e produção do documentário e do projeto é Saulo Ramos, secretário de Cultura e Turismo de Curionópolis. Otimista, ele vê no projeto um novo capítulo na narrativa da história da vila dourada.
“Essa comunidade ficou conhecida mundialmente por causa do garimpo. Mas hoje, a riqueza está nas pessoas. O projeto revela uma nova Serra Pelada – de afeto, talento e amorosidade”.

A promotora Alexssandra Mardegan, da Promotoria Agrária de Marabá, recebeu uma homenagem e um mimo especial das mãos de Mariana: uma camisa bordada. Muito emocionada, ela aproveitou a oportunidade para destacar a importância de parcerias institucionais para que essas ações saiam do papel e cheguem de fato à ponta. Para além da arte, o projeto também aciona políticas públicas e levanta bandeiras como o fortalecimento da agricultura familiar e do empreendedorismo feminino.

“Por mais que o Ministério Público do Estado do Pará se esforce, se não houver gestores que compreendam e apoiem essas causas, não conseguimos avançar. Por isso, essa parceria com Curionópolis me surpreendeu e me alegrou muito, e eu parabenizo a Mariana”, reflete Alexssandra.

O lugar que antes era conhecido pela exuberância de suas pepitas douradas, agora brilha pelas linhas de suas bordadeiras. (Luciana Araújo)