Correio de Carajás

Manifestantes interditam parcialmente a ponte do Itacaiunas

Bloqueio da ponte tem permitido passagens de veículos a cada 10 minutos

A ação começou por volta das 5h com faixas e pneus bloqueando as vias/ Fotos: Josseli Carvalho

Como prometido, o sol mal tinha raiado nesta terça-feira, 29, quando os moradores do bairro São Miguel da Conquista iniciaram a manifestação bloqueando a ponte do Rio Itacaiunas, na BR-230, Transamazônica, como forma de pressionar as autoridades sobre o impasse na regularização fundiária de suas moradias. A ação começou por volta das 5h, com um pequeno grupo interrompendo o fluxo de veículos, exibindo faixas e impedindo a passagem que, devido à pressão da PRF e PM, tem permitido a passagem de veículos a cada 10 minutos.

A reportagem do Correio de Carajás esteve desde o início do bloqueio e conversou com o presidente da Associação de Moradores do Bairro, José de Arimateia, conhecido como Ary, que explicou os motivos do protesto. Ele relata que muitas famílias foram notificadas judicialmente sobre a desocupação do local e que o prazo para deixar suas casas é curto.

“Muitas pessoas têm chorado, são pais, mães, famílias que têm medo de perder o que construíram com tanto esforço. Queremos que o poder público olhe por nós e que seja feita a regularização fundiária”, disse Ary, enfatizando que o bairro existe há mais de 18 anos e que as casas foram construídas com investimento próprio dos moradores.

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ORGANIZAÇÃO

A Polícia Rodoviária Federal (PRF), representada pelo agente Franklin, acompanhou a manifestação desde as primeiras horas e relatou que o fluxo de veículos estava sendo liberado em intervalos de 10 minutos, com trânsito controlado para evitar maiores congestionamentos. O agente também informa que uma reunião entre representantes dos moradores e o Ministério Público foi agendada para às 8h, com a condição de que a via fosse totalmente liberada. “Essa reunião foi solicitada para discutir as demandas dos moradores e buscar uma solução pacífica”, conclui.

Outro morador do bairro, José Alexandre, que vive em São Miguel da Conquista há 15 anos, conta que recebeu uma intimação para regularizar sua moradia. Segundo ele, o valor exigido pelo proprietário da área é alto demais para a maioria das famílias, que, em sua maioria, são de baixa renda. “Me pediram R$ 66 mil para regularizar minha casa, um valor inviável para nós. Queremos, sim, pagar, mas um valor justo, algo que considere nossa realidade e que nenhum dos serviços básicos como luz, saneamento e asfalto foram feitos pelos proprietários”, explica Alexandre, que ainda aguarda uma resolução que seja acessível.

Morador há 15 anos do bairro, afirma que o valor pelas casas é alto

BUSCA POR SOLUÇÕES

A exigência de pagamento tem gerado tensão entre os moradores, que esperam que o Ministério Público e a prefeitura intervenham para encontrar uma solução mais justa. De acordo com Ary, muitas famílias estão dispostas a negociar, desde que os valores cobrados sejam reduzidos e que a legalização das terras ocorra com transparência.

Ele levanta que, até o momento, os moradores não têm amparo jurídico e enfrentam ameaças constantes de despejo. “Nós não queremos mais nada além do direito de moradia, um direito que está garantido pela Constituição. Não somos bandidos, somos pais e mães de família que estão aqui reivindicando algo que é nosso por direito”, finaliza Ary.

TUMULTO

O protesto trouxe dificuldades para motoristas que precisam atravessar a ponte e seguir para os núcleos da cidade. Apesar das breves passagens dos carros e motos, muitos ficaram impedidos de circular pela Transamazônica e manifestaram insatisfação com a interrupção. Ao longo da manhã, as negociações com as autoridades locais continuaram, na tentativa de evitar novas ações de bloqueio, caso uma solução não seja apresentada.

A expectativa dos moradores de São Miguel da Conquista agora se concentra na reunião com o Ministério Público, onde esperam ser ouvidos e obter apoio para a regularização de suas moradias. Segundo a PRF, se não houver acordo, novas manifestações podem ocorrer. (Thays Araujo, com informações de Josseli Carvalho)