Cansados de esperar e diante do caos em que se encontra a saúde pública do município, moradores de Curionópolis, no sudeste do Pará, se uniram e realizaram na tarde desta sexta-feira, 14, uma manifestação cobrando do governo municipal o funcionamento do Hospital Municipal Elcione Barbalho, que está com as portas fechadas desde agosto do ano passado, quando teve as atividades transferidas para um anexo, no Bairro Panorama, para passar por reforma.
Eles se concentram em frente ao Hospital e com cartazes e faixas, os manifestantes, que tiveram à frente o movimento Mulheres Unidas Pela Saúde de Curionópolis, denunciaram o caos em que se encontra a saúde e cobraram reabertura do hospital. Depois eles caminharam até o fórum da cidade onde foram pedir ajuda ao Ministério Público, para que tome medidas diante da situação, considerada por eles como crítica.
Eles, no entanto, não conseguiram ser recebidos por ninguém. O promotor da Comarca da cidade, Josiel Gomes da Silva, não estava mais no Fórum. Ele já tinha ido para Marabá, onde mora.
Leia mais:Segundo os manifestantes, Curionópolis está literalmente pedindo socorro. Eles observam que um simples exame de raio x não está sendo feito na cidade, que tem um orçamento considerado alto, por receber royalties da exploração mineração.
O anexo, que na realidade é um posto de saúde que foi adaptado para funcionar o hospital durante a reforma, é considerado um ambiente insalubre. De acordo com os manifestante, o local é abafado, sem espaço e lá não é realizado um procedimento cirúrgico.
Quando alguém precisa realizar uma cirurgia, muitas vezes em casos de emergência, como em acidentes ou outro trauma, precisa ir para Parauapebas, Eldorado do Carajás ou Marabá. “A saúde aqui está um verdadeiro pandemônio”, define a dona de casa, Elisa Rodrigues Sousa, que tem dois filhos com necessidades especiais, que precisam quase que diariamente de cuidados médicos.
Ela conta que o anexo improvisado do Hospital Elcione Barbalho, no Bairro Panorama, fica distante da casa dela, assim como é distante para quem mora na área central da cidade. Isso deixou a situação dela ainda mais complicada, porque não tem transporte próprio e nem condições de está pagando taxi para levar os filhos as consultas médicas e de fisioterapia que precisam fazer.
“Quando começaram a reforma do hospital, eu fui até a secretária de saúde, Kelma Oliveira, e ela me disse que no máximo em 90 dias as obras seriam concluídas. Já vai fazer ano e continuamos sem hospital. Eu garanto que se o prefeito tivesse filho especial, ele já tinha resolvido o problema. Ele [prefeito] não está nem aí com a saúde pública, porque ele não precisa”, protesta Elisa.
Ela denuncia ainda que a cidade não conta com um fonoaudiólogo e as crianças que precisam desse profissional estão com o estado de saúde agravado, algumas estão na iminência de colocar sonda para se alimentar. “Tem mais de três meses que nós, mães de crianças especiais, sentamos com a secretária de saúde e ela prometeu que ia providenciar a contratação de um fonoaudiólogo e, até hoje, nada. Eles não estão nem aí com o povo”, desabafa a dona de casa, dizendo que o serviço de fisioterapia tem, mas é deficiente e não atende a todos.
Uma das líderes do movimento de mulheres, a assistente social Rosimar Angélica afirma que o quadro da saúde hoje de Curionópolis é algo vergonhoso e ela diz não entender como as autoridades competentes, como o Ministério Público, não tomam providências. “Como é que se inaugura um hospital e ele fica fechado e a população sofrendo, padecendo sem um atendimento de saúde adequado”, questiona a assistente social, lembrando que o prefeito Adonei Aguiar (DEM) fez toda uma pirotecnia na inauguração do hospital, no dia 31 de dezembro do ano passado.
Ela observa que município ganhou através de emenda de parlamentar dois aparelhos de raio x, mas até agora eles não foram colocados a disposição da população, porque no anexo do hospital não tem como instalá-los. “Conclusão, quando alguém tem qualquer tipo de fratura, tem que correr para Parauapebas, Eldorado ou Marabá, sobrecarregando o atendimento desses municípios, sendo que Curionópolis tem dinheiro para ter uma saúde de qualidade”, observa Rosimar.
Francisca Henrique Albuquerque, mãe de Alana Teixeira de Albuquerque, de 16 anos, que nasceu com paralisia cerebral, é outra que não esconde a revolta diante do descaso com a saúde pública do município. Ela afirma que hoje está amargamente arrependida de ter votado em Adonei, que fez promessas que ia fazer investimentos na saúde voltada à pessoas com necessidades especiais.
“Ele prometeu até que ia colocar uma APAE em Curionópolis, mas o que vemos agora é uma saúde destroçada, sem nada. Estamos sem nada. Minha filha era atendida na Apae de Eldorado do Carajás, mas como a prefeitura não renovou o convênio que existia, o atendimento foi suspenso para nós de Curionópolis e, agora, estamos nas mãos de Deus. Se arrependimentos matasse, eu estava morta de ter votado nesse prefeito”, desabafou.
Ela diz ainda que filha dela precisa fazer fisioterapia e está em uma lista de espera, junto com outras crianças, sem saber se algum dia será atendia.
Vereador entra com nova ação no MPPA contra caos na saúde
Denunciando constantemente os problemas que se amontoam no setor de saúde de Curionópolis, o vereador Gidásio Mendes Borges (PSD) protocolou mais uma denúncia no Ministério Público do Estado, expondo exatamente os problemas causados a população pela falta de funcionamento do hospital, inclusive com pessoas ficando deitadas em cadeiras como leitos improvisados, porque o anexo não tem condições de atender a população.
Ele diz não entender como até agora a gestão municipal não foi penalizada pela forma como vem tratando a saúde do município. Ele lembra que o hospital municipal entrou em reforma no dia 6 de agostos de 2018, com prazo de 90 dias para que as obras fossem concluídas, com um orçamento de cerca de R$ 960 mil.
“No dia 31 de dezembro, o prefeito fez uma inauguração de capa. Só do prédio e disse na ocasião que no máximo em 90 dias a casa de saúde estaria em pleno funcionamento. Já estamos quase na metade do mês de junho e, o que se vê é esse verdadeiro massacre da população, tendo que sair do município em busca de atendimento médico ou sofrendo jogada em cadeiras naquele anexo, que não tem as mínimas condições de funcionar como hospital”, aponta o vereador.
Gildásio detalha que ele além do Ministério Público, também já denunciou a situação na Câmara, onde é o presidente da Comissão de Saúde. “Também já fiz mais duas representações no Ministério Público sobre as casas alugadas pela prefeitura para funcionar postos de saúde, sendo que esses postos nunca funcionaram, mas os aluguéis estão sendo pagos”, afirma o vereador.
Ele também ressalta que a secretária de saúde, Kelma Oliveira, foi convidada para dar esclarecimentos sobre essa situação na sessão de ontem, quinta-feira, 13, mas não apareceu. Uma nova convocação foi feita, para a sessão da próxima quinta.
“Esperamos que ela compareça, porque a saúde está na UTI, praticamente sem sinais vitais”, resume.
O vereador ainda fala de outras irregularidades existentes na gestão do prefeito Adonei Aguiar e das dificuldades de fiscalizar, porque tudo é muito obscuro e sem transparência. “O Portal da Transparência funciona ao bel prazer da gestão municipal. Você busca informações sobre qualquer obra e não encontra. Está na hora da Justiça focar seus olhos para Curionópolis, porque a coisa está caminhando para o abismo”, conclui Gildásio. (Tina Santos)