Há 13 anos acampadas em uma área da fazenda 1.200, em Ourilândia do Norte, sul do Pará, 150 famílias esperam pela criação de um Projeto de Assentamento para poderem tocar sua vida em paz. Enquanto isso não acontece elas denunciam que estão sofrendo ataques que vão de ameaças, incêndio em propriedades e chuva de balas sobre barracões onde vivem idosos, mulheres e crianças. Ou seja, trata-se do cenário propício para mais um massacre no sul do Pará, historicamente estigmatizado pela falta de zelo com a vida do trabalhador rural sem-terra.
De acordo com reportagem da Agência Pública, em maio passado, o agricultor Cláudio Araújo da Silva e outras dez famílias da ocupação tiveram suas casas incendiadas na calada da noite. Segundo os relatos dos moradores, um grupo de quatro pessoas atirou em direção às residências antes de atear fogo. “Cartuchos deflagrados de espingarda calibre 20 nas imediações de duas casas da ocupação foram encontrados pela reportagem”, diz trecho da notícia.
O mais impressionante nessa história toda é que, conforme estudos feitos pelo Incra e também pelo Instituto de Terras do Pará (Iterpa), com participação do Ministério Público Federal (MPF), dos 5.200 hectares da fazenda nada menos de 1.500 ha estão dentro de terra pública pertencente à União.
Leia mais:Aliás, foi com base nesses estudos que, há dois anos, os sem-terra montaram seu acampamento. Ou seja, estão vivendo hoje em área pública, mesmo assim continuam ameaçados. Essas 150 famílias acampadas pertencem à Associação 8 de Março, ligada à Fetagri-PA (Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Pará).
Sobre o assunto, o atual advogado do fazendeiro Eutímio Lippaus (dono da fazenda), Joel Carvalho Lobato, informou que não houve conflito recente na fazenda. “Lá teve situação forjada por sem-terra, eles forjando situação para criar factoide. “O que tem todos os dias é o rebanho bovino dele sendo atirado”, disse, referindo-se a outros episódios de violência que ele atribui aos sem-terra.
FILME REPETIDO
A julgar pela história recente do Pará, o cenário que persiste desde 2006 em Ourilândia tem tudo para se transformar em outro palco de derramamento de sangue, sem que as autoridades tomem qualquer providência. Não à toa que o Pará é o Estado que registrou o maior número de conflitos agrários no Brasil.
De acordo com os dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), ao todo, o Brasil registra 45 massacres e mais de 200 mortes, nas últimas três décadas. Só no Pará aconteceram nada menos de 26 massacres com 125 pessoas assassinadas.
E nenhuma dessas mais de 100 vidas foi perdida sem que houvessem sinais alertando para isso, exatamente como acontece agora, onde famílias vivem há mais de uma década debaixo da lona preta e sob o terror negligente do Estado brasileiro. (Chagas Filho – Com informações da Agência Pública)