Correio de Carajás

Mais que campus: Uepa Marabá quer ser sede de um novo tempo na educação

“Com a criação da Uesspa, a gente não tá dividindo, tá multiplicando”, afirma Ariel Medrado Barros, engenheiro ambiental formado pelo Campus VIII da UEPA em Marabá

O Campus VIII soma 1.800 egressos entre os anos de 1993 e 2024/Foto: Arquivo UEPA Marabá

A presença da Universidade do Estado do Pará (UEPA) em Marabá transformou a realidade de centenas de jovens do sudeste paraense, oferecendo mais do que formação acadêmica: abriu caminhos para sonhos, ciência, cidadania e permanência no território. Fundado em 1993, o Campus VIII nasceu do esforço pela interiorização do ensino superior público no Pará e, neste aniversário de 32 anos, se consolida como referência na formação de profissionais e produção de conhecimento regional.

A criação da Universidade Estadual do Sul e Sudeste do Pará (Uesspa), proposta atualmente em debate, surge nesse contexto como um passo necessário para a consolidação e expansão desse trabalho, multiplicando estruturas, investimentos e protagonismo regional. Com a estrutura que já tem hoje, o Campus VIII, em Marabá, é o local estratégico para sediar a nova universidade e integrar os 36 municípios do sul e sudeste do Pará que serão abarcados por ela.

Há exatos 32 anos, o Campus VIII foi criado, junto com a UEPA, a partir de um decreto assinado pelo então governador Jader Barbalho. Os primeiros cursos implantados, Educação Física e Enfermagem, tiveram apenas uma turma e, até hoje, uma luta é travada para trazê-los de volta. Desde então, 12 cursos de graduação surgiram, sendo distribuídos entre as áreas de saúde, educação e tecnologia.

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Inauguração do atual espaço do Campus VIII da UEPA em Marabá no ano de 2000/Foto: Arquivo UEPA Marabá

Esses cursos são estruturados em três centros acadêmicos: Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS): Medicina, Biomedicina, Terapia Ocupacional; Centro de Ciências Naturais e Tecnologia (CCNT): Engenharia Ambiental e Sanitária, Engenharia Florestal, Engenharia de Produção, Tecnologia de Alimentos; Centro de Ciências Sociais e Educação (CCSE): Licenciaturas em Ciências Biológicas, Física, Química, Letras-Libras, Música.

Além disso, o campus oferece cursos de Licenciatura Intercultural Indígena e programas de residência nas áreas de Saúde Mental e Urgência e Emergência.

“Marabá é o único campus do interior do Pará que abriga esses três centros da universidade. E é um desafio, porque envolve diversas áreas do conhecimento, mas também uma gratidão, porque alcançamos um número maior de pessoas ao envolvermos mais cursos”, declara Danielle Monteiro, professora de Licenciatura em Química e coordenadora do campus. Ela está em sua segunda gestão.

Estando localizado em Marabá, já considerada uma cidade universitária, o campus também oferece cursos exclusivos na região, como Medicina, Biomedicina, Terapia Ocupacional, Letras-Libras (único fora da capital) e Música (único gratuito na cidade). Na área tecnológica, destacam-se Engenharia de Produção, Engenharia Florestal e Engenharia Ambiental e Sanitária, além de Tecnologia de Alimentos.

“Nossa intenção é continuar atendendo cada vez mais a população, com cursos e projetos próximos da realidade local”, afirma Danielle.

Danielle Monteiro está em seu segundo período como gestora do Campus VIII da UEPA Foto: Evangelista Rocha

O papel social e regional da UEPA e a criação da Uesspa

Há algum tempo, um projeto tem tomado forma e se fortalecido entre os acadêmicos de Marabá: a criação da Universidade Estadual do Sul e Sudeste do Pará (Uesspa). Nesse contexto, Danielle enfatiza a reflexão atual sobre o papel da universidade para ampliar a formação e o Ensino Superior regional.

“Nos últimos tempos, temos analisado sobre como a universidade pode contribuir ainda mais para a formação e expansão do Ensino Superior na região. A partir disso, surge a proposta da criação da Uesspa, uma nova fase que discutimos internamente na Uepa e com a comunidade”.

A professora destaca que o processo é gradual e vem sendo tratado com diálogo e elaboração de documentos, com uma audiência marcada na Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) para avançar nessa pauta. A audiência acontece no dia 30 de maio. Para Danielle, este é um caminho natural para a região, comparável ao desmembramento da UFPA que gerou a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e a Universidade do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) há 13 anos, fortalecendo o Ensino Superior estadual.

Ao nascer em um dos principais municípios do interior do Estado, a nova universidade será pensada para atender os 36 municípios da região, com foco no diálogo e nas necessidades locais. Marabá é uma cidade-polo e o peso do Campus VIII para as demandas locais é imensurável. São cursos como os das áreas de economia, saúde, educação, assistência social que abarcam as necessidades marabaenses e de localidades dentro e fora do Estado.

Quem busca a UEPA, busca uma instituição que preza pela democratização do Ensino Superior e que promove a educação na base da comunidade local.

Defesa de TCC de estudantes indígenas em 25‎ de ‎fevereiro‎ de ‎2016/Foto: Arquivo UEPA Marabá

“Com seus 32 anos de história, o campus de Marabá tem contribuído significativamente na formação acadêmica e na produção de pesquisas relevantes. Temos um campus estratégico, com forte articulação com municípios vizinhos, e buscamos nos aproximar cada vez mais da comunidade por meio de projetos”.

Desafios e avanços do Campus de Marabá

O Pará é um estado de dimensões gigantescas dentro do Brasil e, devido a suas proporções, o Campus VIII passa por desafios decorrentes da distância em relação à capital, que dificultam algumas decisões administrativas. Marabá está a 496 quilômetros de Belém, considerando o trajeto mais curto.

Para o CORREIO, Danielle destaca que o maior desafio é compreender as demandas locais para tomar decisões acertadas, e ressalta que somente quem vive na região conhece suas necessidades reais. “Só quem está aqui conhece de fato as necessidades e pode propor avanços”, defende.

Outro ponto positivo para a criação da Uesspa e fixação de Marabá como sede é a consolidação do corpo docente local, que antes era composto principalmente por professores vindos da capital. Hoje os papéis se inverteram e muitos docentes são da região e participam de programas de mestrado e doutorado em Belém. Há 30 anos, o cenário era completamente diferente. Naquela época, os professores vinham de lá para ministrar aulas na cidade. “Nosso corpo técnico é qualificado e consolidado na região”, complementa a coordenadora.

Danielle também destaca que, ao longo desse tempo, houve o desenvolvimento de várias atividades e projetos que envolvem não só o campus, mas também outras instituições da região. Esses eventos conjuntos são frequentes e importantes para fortalecer essa rede colaborativa. Um exemplo são os Jogos Universitários da cidade e a Feira das Profissões, realizados em parceria com a Unifesspa e o IFPA.

“A Uepa sempre teve essa característica, especialmente nos últimos anos, de ser uma universidade que agrega e forma redes colaborativas. Trabalhamos com essa visão de união e força para avançar na educação do nosso município”, sustenta.

Entre o sonho e a permanência: uma história contada por quem viveu

Ariel Medrado Barros, engenheiro ambiental formado pela UEPA, é uma das muitas histórias que nascem do chão do Campus VIII. Egresso da turma de 2011, ele entrou na universidade aos 16 anos e, hoje, aos 31, carrega no currículo um mestrado, um doutorado em andamento e uma ligação inquebrável com a instituição.

Com quase a mesma idade do campus marabaense e tendo vivido metade de sua vida por seus corredores, foi ali que ele aprendeu o que é a ciência e fomentou sua busca pelo título de cientista. Esse foi o seu incentivo para concluir o mestrado e se dedicar ao doutorado. Apesar da distância, porque hoje ele estuda no Instituto Federal do Pará (IFPA) de Castanhal, o vínculo de Ariel com a UEPA nunca foi quebrado. Pelo contrário, é resistente e presente até hoje.

Ariel Medrado é engenheiro ambiental formado pela UEPA/Foto: Evangelista Rocha

Durante sua experiência universitária, Ariel se deparou com o processo de descoberta do mundo e de si mesmo.

“Eu sempre quis ser engenheiro, de números, de cálculos, contas e do debate ambiental. Quando eu entrei na universidade, eu era muito novo, achava que a engenharia ambiental era legal só porque tinha número. Aí eu fui vendo esse universo que é a universidade, a beleza de ser cientista, de ser pesquisador”, descreve.

Para além do conhecimento técnico, a UEPA foi responsável por moldar o compromisso de Ariel com a comunidade. Sempre que pode contribuir, ele está lá. Para o doutorando, a partir do momento que a universidade ajuda o aluno, ele assume o compromisso de ajudá-la também.

A força de um campus e a urgência de uma nova universidade

O campus da UEPA em Marabá cresceu em estrutura, em relevância, em pessoas. Hoje, segundo Ariel, o corpo de profissionais aumentou e os professores se tornaram referências nacionais: “Ninguém fala sobre conflitos agrários sem citar o professor Airton Pereira, ele é uma autoridade reconhecida no Brasil sobre o tema. Como diversos outros professores daqui”.

Ainda que relevante, esse crescimento pede mais. Para Ariel, a criação da Uesspa é o próximo passo necessário. Ele reforça que não se trata de rachar uma universidade, mas de multiplicá-la. Um dos resultados dessa equação é a abertura de cursos que hoje não são contemplados pelo campus de Marabá.

“A ideia, com uma nova universidade autônoma, é avançar no debate das ciências humanas, por exemplo, o Direito, que hoje a UEPA não trabalha. E com outros também, como os da área da saúde, Fisioterapia, Psicologia e até Educação Física”.

Outro fator agregador é a visão sobre a expansão do Ensino Superior como estratégia de transformação do imaginário juvenil sobre o futuro. Marabá sendo fortalecida como cidade universitária ao receber a sede de mais uma universidade pública, o sonho de diversos estudantes toma forma e eles passam a enxergar mais possibilidades para ingressar no Ensino Superior.

Para Ariel, a diferença do campus marabaense é nítida para quem já circulou por outras cidades da região: “Eu já dei aula em Jacundá, Parauapebas, e o estudante do Ensino Médio pensa a universidade como algo muito longe, porque ele está distante da universidade. Então, quando Marabá começa a se formar como esse centro, inspira toda a região”.

Com a criação da Uesspa, o estudante vislumbra mais que uma universidade: um projeto de vida possível para quem é da região. Egressos, como ele, terão mais oportunidades de emprego após concluírem o mestrado e doutorado.

“Que a gente possa conseguir voltar, para que esses concursos tenham mais professores que sejam da região, formados aqui, que fiquem aqui”, finaliza.

Programação e celebrações pelos 32 anos do campus

Para celebrar os 32 anos do campus, a coordenadora Danielle Monteiro explica que a programação será diversificada, sem um dia específico de comemoração, mas com atividades ao longo do mês de maio. Entre os eventos já realizados está o primeiro “Simpósio de Inovação em Saúde Mental na Amazônia” (SISAM), com participação dos alunos de Medicina e dos programas de residência multiprofissional.

Também estão previstas a aula inaugural dos dois programas de residência em Saúde Mental e Urgência e Emergência, o “I Encontro de Múltiplos Saberes da Amazônia”, a Feira de Profissões, Ciência e Inovação (FeProsi) e a 6ª Corrida Universitária de Marabá.

O Campus VIII da UEPA, em Marabá, foi criado em 1993/Foto: Arquivo UEPA Marabá

INSTITUCIONAL

A Universidade do Estado do Pará (UEPA) em Marabá comemora 32 anos de atuação com expansão significativa na oferta acadêmica, que cresceu de 2 para 13 cursos de graduação. Além disso, o campus oferece turmas de Licenciatura, Especialização, Mestrado em Educação Escolar Indígena, Ciências Ambientais, Cirurgia e Pesquisa Experimental, e especialização em Transtorno do Espectro Autista. Recentemente, iniciou as primeiras turmas de Residência Multiprofissional em Urgência e Emergência e em Saúde Mental, além de avançar na proposta de Mestrado em Ensino da Educação Básica na Amazônia.

O campus de Marabá é o maior entre os campi do interior da UEPA, com o maior número de cursos, servidores e alunos na região Sul e Sudeste do Pará. Destaca-se por ter ofertado o primeiro curso público de Medicina da região e por possuir um Colegiado ativo desde 2014, que atua como principal órgão deliberativo. Além da formação acadêmica, a UEPA-Marabá é referência em pesquisa, abrigando o único Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da cidade, além de uma xiloteca, voltada para estudos de madeiras e produtos florestais.

A universidade mantém projetos diversos de ensino, pesquisa e extensão que fortalecem sua relação com a comunidade local. Entre eles, destacam-se iniciativas voltadas à conservação da biodiversidade, educação inclusiva, saúde pública e popularização da ciência na Amazônia. O campus também abriga o Ambulatório de Dermatologia e Hanseníase da Amazônia (ADHAM), referência regional no tratamento da hanseníase, e o único Núcleo de Educação, Saúde e Acessibilidade (NAES) fora da capital, que desenvolve atividades focadas nas demandas das pessoas com deficiência.

O campus de Marabá da UEPA conta com um total de 1.800 egressos e atualmente possui 780 alunos matriculados. A equipe é formada por 119 servidores, que atuam em 13 cursos distribuídos em três centros acadêmicos: o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, que oferece Medicina, Biomedicina e Terapia Ocupacional; o Centro de Ciências Naturais e Tecnologia, com cursos de Engenharia de Produção, Engenharia Florestal, Engenharia Ambiental e Sanitária, e Tecnologia de Alimentos; e o Centro de Ciências Sociais e Educação, que inclui as licenciaturas em Música, Letras Libras, Química, Física e Ciências Biológicas.

(Luciana Araújo)