Correio de Carajás

Mais de 300 famílias vivem dilema em fazenda de Brejo Grande

Centenas de famílias acampam em São João do Araguaia para acompanhar desfecho de audiência pública da Vara Agrária de Marabá

Centenas de pequenos produtores rurais se reuniram na Câmara Municipal de São João do Araguaia, na manhã desta quarta-feira (22), para acompanhar de perto a audiência de instrução e julgamento no processo de uma área de 13 mil hectares – equivalente a 18 mil campos de futebol – localizada em Brejo Grande do Araguaia. A terra em litígio está ocupada por 321 famílias que relatam viver da agricultura e pecuária, que estão divididas em duas associações.

A audiência foi realizada em São João para facilitar a logística de todas as partes, uma vez que em Brejo Grande do Araguaia não haveria estrutura para comportar todos os presentes. Estavam presentes as defesas das duas associações, a defesa dos autores da ação, representante da Defensoria Pública do Estado – em nome das famílias que não possuem condições para uma defesa particular – e representante do Ministério Público Estadual.

A advogada dos herdeiros citou que a ocupação causou danos à terra

De um lado há a ADAFRA (Associação dos Agricultores Familiares Rurais do Acampamento Araguaia) e a ASPROBERG (Associação dos Pequenos e Médios Produtores e Produtoras Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Município de Brejo Grande do Araguaia); e do outro os herdeiros do falecido proprietário das terras, espólio de Walderez Fernando Resende Barbosa.

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As famílias participantes das duas associações desejam que a área se torne um assentamento, para que possam cultivar frutas, verduras, e hortaliças, além de criar animais, como o gado, para sobreviver.

Julia Pereira de Souza é representante da ADAFRA e resume o anseio das famílias em uma frase: “ter um pedaço de chão para viver”, conforme disse em entrevista ao Correio. Sua associação é formada por 135 famílias.

Julia disse que as famílias apenas desejam um lugar para chamar de seu

O sonho de que aquela grande área seja agraciada pela reforma agrária não tem previsão de final feliz. Pelo menos por enquanto. Isso porque o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) já havia sido procurado por Walderez, na intenção de vender as terras, porém, os anos se passaram e com a nova gestão do Governo Federal, o órgão negou a aquisição da propriedade.

Com a morte de Walderez, as famílias começaram a ocupar as terras, entre 2011 e 2014, totalizando quatro episódios de ocupação. Com essa situação, os herdeiros decidiram ingressar na Justiça com uma ação de reintegração de posse com pedido de liminar.

Durante a audiência, presidida pelo juiz Amarildo Mazzuti, titular da Vara Agrária de Marabá, os herdeiros fizeram uma proposta para que as partes entrassem em um acordo.

Juiz Amarildo Mazzuti, da Vara Agrária, conduziu a audiência

Segundo a advogada Iris Cristina Vieira, representante dos herdeiros, a proposta é ceder, de forma gratuita, um total de mil hectares para que as famílias possam ocupar e produzir.

No entanto, do ponto de vista do representante da ASPROBERG, Pastor Edilson Campos Pereira, essa área é insuficiente para a quantidade de famílias representadas por ambas associações. A associação de Edilson é composta por 186 famílias.

Pastor Edilson disse que o tamanho da área proposta é insuficiente

Devido ao impasse, o processo ainda levará um tempo para encerrar. O magistrado informou que as partes irão analisar os processos e enviá-los com suas alegações para que ele dê a sentença. O prazo está estimado em 90 dias e se não chegarem a um acordo, o juiz sentenciará o processo.

(Zeus Bandeira)