Correio de Carajás

Maiana Stringari, a nepo baby que pavimenta a própria história na política de Marabá

Maiana: “Ser a vereadora mais votada traz uma grande responsabilidade. Estou pronta para honrar esse compromisso”

Com uma voz suave, tom baixo, semblante sereno e gestos mais contundentes com a cabeça do que com as mãos. Foi assim a expressão corporal da primeira entrevista de Maiana Clara Rodrigues Stringari, a vereadora mais jovem a ser eleita na história de Marabá, ao CORREIO na manhã desta quarta-feira, 9.

Aos 30 anos de idade, ela assume o cargo em 1º de janeiro de 2025 revestida, também, do legado de seu pai Alecio Stringari, que decidiu passar o bastão aos 65 anos de idade e quatro mandatos consecutivos no Parlamento Municipal. Como católica, iniciou sua batalha por um lugar na Câmara com uma campanha – mas de oração – antes mesmo de começar os últimos 45 dias mergulhada na política.

Maiana, mesmo sem saber, faz parte de um grupo batizado de nepo baby, filhos de políticos que herdaram o legado dos pais ou parentes próximos.

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Recentemente, o termo nepo baby se popularizou na indústria do entretenimento, fazendo referência aos famosos que abrem caminhos para os filhos na música, televisão e cinema. No entanto, a expressão não fica restrita ao meio artístico. As eleições municipais de 2024 também têm chamado a atenção pelo grande número de candidatos nepo babies Brasil afora.

Embora o poder não seja hereditário, a presença de personagens políticos traz uma certa influência para ajudar na candidatura dessas novas figuras. Mas Maiana se orgulha tanto do pai quanto de sua capacidade de pavimentar o próprio caminho, como ela referenda na entrevista a seguir:

Maiana Stringari: “Meu pai sempre foi um exemplo de comprometimento e dedicação à comunidade”

CORREIO DE CARAJÁS: Você foi eleita a vereadora mais jovem da história de Marabá. Como começou seu envolvimento com a política?

Maiana Stringari: Eu sempre gostei de cuidar das pessoas e fazer o bem. Acompanhava meu pai, Alecio Stringari, na sua trajetória política em Marabá, mas não era algo que eu buscava para mim. Confesso que minha candidatura se consolidou somente em dezembro de 2023, e eu tive resistência no início, pois sou muito intensa e temia que isso me atrapalhasse pessoalmente. Porém, a política sempre esteve no meu sangue. Meu pai, mesmo reconhecendo meu potencial, não queria que eu deixasse de viver minha profissão e vida pessoal. Mas vimos a necessidade de continuar o trabalho que ele começou.

CORREIO: Como sua mudança para Marabá influenciou em sua trajetória?

Maiana Stringari: Cheguei a Marabá com apenas 3 anos de idade. Inicialmente, moramos na zona urbana, mas logo fomos para a zona rural, onde meu pai virou sócio de uma fábrica. Fui alfabetizada numa escola de madeira na Vila Capistrano de Abreu. Naquela época, havia um grande déficit de atenção do poder público à educação. Muitos dos meus votos vieram da zona rural, e acredito que essa vivência me conectou muito com as necessidades dessas áreas.

CORREIO: Como você se sente sendo eleita logo na primeira candidatura e, ainda, sendo a mulher mais jovem a ocupar uma cadeira na Câmara de Marabá?

Maiana Stringari: O primeiro sentimento é de gratidão. Fecho os olhos e absorvo tudo o que aconteceu. Fizemos um trabalho tão bom que, no dia da eleição, eu estava tranquila. Saí da Secretaria de Saúde antes do prazo obrigatório para poder focar na campanha e garantir uma resposta positiva nas urnas. Aprendi muito durante essa jornada, principalmente sobre pessoas e amizades.

Ter meu pai ao meu lado foi fundamental, pois unimos sua experiência com a minha juventude. Foram mais de 2.800 eleitores que acreditaram no nosso trabalho, e isso é gratificante.

CORREIO: Você mencionou que todos merecem ser ouvidos. Como isso impacta como você pretende atuar como vereadora?

Maiana Stringari: Eu acredito que cada pessoa mereça ser ouvida, seja uma ou mil, o valor é o mesmo. Todos têm algo importante a dizer, e meu papel é ouvir e representar essas vozes. Quando mencionam a transferência de votos do meu pai, me perguntam se pretendo seguir um caminho diferente. A verdade é que não tem como me desvincular totalmente. A paixão dele pela zona rural também é minha. Nossa família inteira mora lá, meu esposo é de família da zona rural, então é uma região que precisa de representantes, e essa é uma bandeira que levarei durante o mandato.

CORREIO: A zona rural foi uma prioridade do seu pai. Como você enxerga essa continuidade no seu mandato?

Maiana Stringari: A zona rural precisa de alguém que esteja presente, não apenas para pedir votos, mas para viver as dificuldades do dia a dia. Meu pai sempre morou lá, mesmo sendo vereador e presidente da Câmara Municipal. Ele conhecia os problemas e vivia aquilo. Eu conheço bem toda a extensão da estrada do Rio Preto e sei que sem alguém para interceder, essa área acaba sendo esquecida. Vou manter essa prioridade porque é necessário.

A jovem fisioterapeuta tem apenas 30 anos e é a mulher mais jovem a assumir a vereança na Câmara de Marabá

CORREIO: Além da zona rural, quais outras bandeiras você pretende carregar?

Maiana Stringari: Uma bandeira forte para mim é a saúde. Trabalhei por mais de sete anos dentro da área da saúde na gestão do prefeito Tião Miranda e conheço os déficits que temos. Sei que não vou resolver tudo sozinha, mas posso contribuir muito. Tenho uma visão clara de onde estão os problemas e acredito que posso ajudar a melhorar o sistema de saúde. No entanto, quando você assume um cargo como esse, você abraça todas as causas, seja infraestrutura, educação ou transporte.

CORREIO: Como foi sua trajetória profissional até aqui, como fisioterapeuta por formação?

Maiana Stringari: Antes de trabalhar na gestão, eu era fisioterapeuta, atuava no Hospital Materno Infantil (HMI) de Marabá e em UTI particular. Tenho pós-graduação em intensivismo e neuropediatria, além de formação em obstetrícia. Sempre fui apaixonada por essa área, e fazia parte de um projeto incrível chamado Bem Nascer, que trazia qualidade e respeito para a obstetrícia em Marabá. Quando recebi o convite para trabalhar na Secretaria de Saúde, foi uma decisão difícil, mas o impacto que eu poderia ter no serviço público, lidando com pessoas carentes de informação e recursos, foi o que me fez abraçar essa missão.

CORREIO: A respeito dos 57% de candidatas em Marabá que tiveram menos de 50 votos. Como você vê essa situação?

Maiana Stringari: Isso realmente me entristece. Sabemos que existe uma cota de mulheres que precisam ser candidatas nos partidos, mas é triste ver que algumas entram no processo apenas para preencher essa cota. Muitas vezes, nós, mulheres, desconhecemos nosso próprio potencial. E o que me entristece ainda mais é ver mulheres que querem participar seriamente do processo eleitoral, mas acabam sendo desvalorizadas. Sem uma base financeira, a campanha fica muito difícil, e muitas mulheres não recebem o suporte necessário dos partidos. Vi várias candidatas começando empolgadas, mas desanimando no meio da campanha.

CORREIO: A representatividade feminina na política de Marabá ainda é baixa. Você é apenas uma das quatro eleitas. Isso será um desafio?

Maiana Stringari: Ser uma das quatro mulheres eleitas é um reflexo de uma questão maior. Apesar do percentual obrigatório de candidaturas femininas, muitas mulheres não conseguem uma votação significativa. Me sinto honrada por ser a mais votada, mas isso me lembra dos desafios que ainda existem para nós. É frustrante, mas também um incentivo para continuarmos lutando.

CORREIO: E como você encara a responsabilidade de ser a vereadora (mulher) mais votada?

Maiana Stringari: Ser a vereadora mais votada traz uma grande responsabilidade. Estou pronta para honrar esse compromisso, focando na valorização de todos que acreditaram em mim e buscando soluções que beneficiem Marabá como um todo.

Maiana com a irmã Maiara, que atuou como coordenadora de sua campanha à eleição

CORREIO: Como a herança política reflete na sua atuação e como você encara o fato de ser uma nepo baby?

Maiana Stringari: Sempre disse que minha cadeira seria herdada, não roubada. Não conhecia o termo “nepobaby”, mas sinto uma grande responsabilidade em continuar o trabalho que meu pai começou, mostrando que Marabá é rica não apenas financeiramente, mas também de um povo que precisa de um olhar atento do poder público. Minha eleição carrega o legado dele, mas também a vontade de fazer a diferença por mim mesma.

CORREIO: Você mencionou o legado do seu pai e como isso influenciou sua decisão de se candidatar. Pode compartilhar um pouco mais sobre essa influência e o que você aprendeu com a trajetória dele?

Maiana Stringari:  Meu pai sempre foi um exemplo de comprometimento e dedicação à comunidade. Desde muito jovem, vi como ele se empenhou para fazer a diferença na vida das pessoas, principalmente na zona rural, onde cresci. Ele sempre dizia que o verdadeiro trabalho político vai além do cargo; trata-se de construir relações e confiar nas pessoas. Aprendi com ele a importância de ouvir a comunidade, entender suas demandas e lutar por melhorias. Essa base me inspirou a me candidatar, pois eu queria continuar esse trabalho e, ao mesmo tempo, trazer a minha própria perspectiva, que é mais urbana e focada nas necessidades contemporâneas de Marabá.

CORREIO: Por fim, que mensagem você gostaria de deixar para os eleitores que confiaram em você?

Maiana Stringari: Quero expressar minha gratidão a todos os eleitores que depositaram sua confiança em mim. Estou ciente de que essa responsabilidade é imensa, e quero que saibam que estarei na Câmara para trabalhar incansavelmente por nossa cidade. Cada voto representa um compromisso, não apenas comigo, mas com o futuro de Marabá. Estou comprometida em ouvir, representar e lutar por todos, buscando soluções que atendam às necessidades da nossa comunidade. Juntos, podemos fazer a diferença e transformar Marabá em um lugar ainda melhor para viver.

 (Thays Araujo e Ulisses Pompeu)