📅 Publicado em 07/11/2025 13h25✏️ Atualizado em 07/11/2025 13h32
A voz embargada, o olhar cansado e a esperança insistente. Foi assim que dezenas de mães de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ocuparam, na tarde da última quinta-feira, o Teatro Municipal Eduardo Abdelnor, na Folha 16, para mais uma vez pedir o que deveria ser direito garantido: atendimento especializado e contínuo aos seus filhos.
Desde que os atendimentos terapêuticos foram suspensos pela Prefeitura de Marabá, no início de outubro, essas famílias têm vivido dias de aflição. Muitas crianças, que já apresentavam avanços com terapias, voltaram a regredir. As mães, por sua vez, convivem com o sentimento de impotência e com a ausência de respostas.
“Estamos há mais de 30 dias sem atendimento. Cada dia sem terapia é um dia em que a esperança parece se afastar. O que queremos é que olhem para nós com mais amor e menos burocracia”, desabafou Claudete da Silva, mãe de Luiz Miguel, uma criança com suporte 3 e não verbal.
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Ela conta que, desde o início da paralisação, tem participado de manifestações e abaixo-assinados, que já reúnem mais de 600 assinaturas, pedindo a retomada imediata das terapias. “A gente se apoia uma na outra. Muitas mães entram em crise de ansiedade com tanta indefinição. Esse espaço é essencial não só para as crianças, mas também para nós, que estamos nessa luta diária.”
Caroline Oliveira, mãe de um menino de quatro anos, também relatou a angústia de ver o tempo passar sem o início do tratamento. “Meu filho foi encaminhado para a Policlínica, mas nunca chegou a fazer terapia, nem fono, nem nada. Entrei com uma ação no Ministério Público, mas até agora nada andou. A audiência é importante porque finalmente a gente está sendo ouvida. É um passo muito importante”, afirmou.

Essas vozes, somadas a tantas outras que ecoaram no teatro, transformaram a audiência pública em um retrato coletivo de resistência e afeto. Mães e pais atípicos, lideranças de instituições, vereadores e representantes da sociedade civil participaram com o mesmo propósito: cobrar sensibilidade, eficiência e compromisso do poder público.
Compromisso de acompanhamento
O encontro foi mediado por promotores de diferentes áreas do Ministério Público do Pará (MPPA) em Marabá — entre eles Francisca Paula Gama e Jane Cleide Souza (Infância e Juventude), José Grisi Dantas (Direitos Fundamentais), Mayanna Silva Queiroz (Consumidor e Família) e Lílian Viana Freire (Direitos Humanos e Pessoas com Deficiência).
O promotor José Grisi destacou que o momento é de articulação e compromisso conjunto. “Esperamos que aqui sejam tratados não só temas ligados à saúde pública, mas também à saúde privada, já que os planos também têm dificultado a vida dos pais e responsáveis por pessoas com TEA. Precisamos falar ainda sobre educação e assistência social. O atendimento ao autista é multidisciplinar e intersetorial, e o poder público deve agir da mesma forma que as famílias, de forma integrada.”
Ele informou ainda que o MPPA abriu um procedimento para acompanhar o credenciamento das clínicas que deverão prestar o serviço e que o município se comprometeu a tratar o processo como prioridade.
“O Ministério Público está acompanhando de perto. Já houve fechamento dos trâmites burocráticos para o credenciamento das pessoas jurídicas interessadas, e o procedimento licitatório prossegue. Nosso papel é garantir que o compromisso assumido pela gestão seja cumprido.”
Os promotores reforçaram que o MPPA seguirá cobrando prazos concretos e transparência no restabelecimento integral dos atendimentos.
“A audiência pública tem o papel de dar visibilidade. Normalmente discutimos temas invisibilizados, mas neste caso é uma pauta que já está no topo da agenda e precisa continuar recebendo atenção”, completou Grisi.

Um apelo que não pode mais ser ignorado
Enquanto o debate institucional avança, o sentimento que ecoa entre as mães é o de urgência. Cada dia sem atendimento é um dia de retrocesso. Cada ausência de terapia é um novo obstáculo para crianças que dependem de estímulos constantes.
No fim da audiência, o teatro se transformou em um coro de aplausos — não de comemoração, mas de resistência. Era o aplauso de quem luta para ser ouvido.
Entre lágrimas e abraços, as mães reafirmaram o que têm repetido nas ruas, nas redes e agora nos microfones: não querem privilégio, querem dignidade. Querem que seus filhos tenham o direito de se desenvolver, de aprender, de viver.
Os promotores reforçaram que o MP seguirá acompanhando o caso e cobrando do município prazos concretos para o restabelecimento integral dos serviços. “A audiência pública tem o papel de dar visibilidade. Normalmente discutimos temas invisibilizados, mas neste caso é uma pauta que já está no topo da agenda e precisa continuar recebendo atenção”, concluiu Grisi.
