Correio de Carajás

Mãe de jovem com deficiência luta para filha ter educação assistida em Marabá

Karol é diagnosticada com sequela grave e definitiva devido a mielomeningocele, espinha bífida e retardo mental e, mesmo assim, não consegue acompanhamento pedagógico

O acesso à educação assistida tem sido negado a uma jovem deficiente de 16 anos que reside em Marabá. Desde o início do ano, Ana Karoline Rodrigues da Silva e sua família sofrem com a falta de um acompanhante pelo Estado para auxiliar na escola a adolescente, diagnosticada com sequela grave e definitiva devido a mielomeningocele, espinha bífida e retardo mental. Devido a sua condição e necessidade, ela não tem tido condições de frequentar o educandário e tem sido privada não apenas do ensino, mas também do lazer.

Residente de uma casa humilde no bairro Nossa Senhora Aparecida, localizado na periferia da Nova Marabá, Karol, como é chamada pela mãe Solange Maria Rodrigues, necessita do uso de fraldas geriátricas e de medicação controlada em razão do diagnóstico, que também a dificulta falar, escrever e andar, razão pela qual precisa de um profissional ou bacharelando de pedagogia que possa auxiliar em seu desenvolvimento estudantil.

IMPASSES

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A indignação vem do fato de que ao procurar o Ministério Público para ter acesso ao que é de sua filha por direito, foi requisitado a Solange outro laudo clínico que comprove que a jovem precisa de um acompanhante, mesmo já possuindo um de seu médico neurologista: “Esse profissional a atende desde o início de seu diagnóstico, o que eu não entendo é por que esse laudo não serve”, questiona a mãe indignada.

A questão é que nada foi garantido a genitora, embora o órgão tenha dito que o documento clínico de parecer técnico seria encaminhado. E a falta de ação se estende a Secretaria Municipal de Educação (SEMED) também. Segundo Solange, todas às vezes em que foi até lá, escutou dos profissionais que haveria nada para fazer. Ela não possui condições financeiras de pagar uma consulta particular e entende que é um dever do município providenciar o que é de necessário para que sua filha tenha acesso à educação.

Na tentativa de encontrar uma solução para o problema, a mãe chegou a procurar por estudantes de pedagogia que necessitam de um estágio, para assistirem Ana Karolina na escola. Um rapaz chegou a se prontificar em fazer o estágio, mas de acordo com a genitora a dificuldade se estende à falta de iniciativa da Escola José Flávio Alves de Lima: “Eu propus ao diretor que a profissional que acompanha outro estudante, assistisse minha filha, e o estagiário auxiliasse a outra criança, assim ela teria uma tutora mulher e ele um tutor homem, mas nada foi feito”.

Solange acredita que parte da culpa está também na má remuneração dos estagiários de pedagogia. Conforme ela, uma conhecida sua que atua na área explicou que a insatisfação com o subsídio dos profissionais é um sentimento generalizado da classe. Aparentemente, faltam profissionais porque além do baixo salário, ainda há atrasos no pagamento.

ANGÚSTIA

A mãe se sente invisível diante as preocupações da prefeitura. Dos 10 anos em que Karol estuda, apenas uma estagiária a acompanhou por um ano completo. Ela relata que todos os outros profissionais começaram e pararam com 2, 3 e até um mês de auxílio. Além disso, há também uma rejeição grande pelo fato de a adolescente usar fraldas e erroneamente, acreditarem que precisarão trocá-la: “Hoje, ela é totalmente independente, consegue ir ao banheiro e até mesmo trocar a própria fralda, só preciso que alguém a acompanhe nos ensinos”, explica.

Sem ir à escola, a jovem acaba sendo privada de momentos de lazer e de socialização com os outros estudantes, também. Solange conta com os olhos marejados que Karol pergunta diariamente se irá para o educandário, pois anseia pelo dia em que poderá voltar a frequentar o local. O sentimento é de impotência: “Me sinto a pior mãe do mundo, principalmente porque ela não compreende o motivo de não ir”.

A genitora se diz a ponto de desistir. Ela, que também usa medicação controlada, tem encontrado dificuldade para dormir diante da situação angustiante. Mesmo com as procuras incessantes pelo Ministério Público e pela direção da escola, Solange não tem obtido êxito e, automaticamente, encontra dificuldade em casa, já que não tem com quem deixar Karol e sua outra filha mais nova, nessas saídas.

NOTA DA PREFEITURA

Procurada pelo Correio de Carajás, a Secretaria de Educação diz em nota que está readequando todo o processo de para acompanhamento em sala de aula de todos os alunos com necessidades especiais. Que a situação está em operação através da abertura de novo concurso, além de capacitação dos acompanhantes já existentes para que a demanda seja inteiramente atendida. E que de qualquer modo, a SEMED enviará a esta escola uma equipe para avaliar a situação e buscar a resolução do caso da jovem o mais rápido possível.

A mãe e a jovem relatam que ela é muito feliz na escola. Em poucas palavras, Ana Karoline resume que gosta dos amigos e dos professores. Segundo Solange, ela não é rejeitada pelos colegas de classe, pelo contrário, se sente bem e acolhida no ambiente. E, apesar de no passado professores terem se recusado a lecioná-la em razão de sua deficiência, o centro de educação é de extrema importância até mesmo para proporcionar momentos de prazer e lazer a ela.

MAIS DIFICULDADES

O drama da família vai além. Sem ir à escola, Karol acaba sendo privada do lazer também. “Ela fala todos os dias que quer pelo menos dar uma volta, mas sem carro fica impossível de conseguirmos levar ela para qualquer lugar que seja. Tivemos que vender o veículo para financiar a casa”, relata a mãe. Devido à ladeira que tem na entrada de onde residem, a jovem só consegue passear quando seu irmão, que consegue levantá-la, está em casa.

A situação da entrada da casa em que residem é crítica, pois se trata uma ladeira incapaz de comportar a cadeira de rodas utilizada pela jovem ou permitir que ela, com as dificuldades que possui, consiga subir ou descer com facilidade. Ainda, há um pequeno improviso sob uma vala que fica em frente a porta, de tábuas de madeira, aumentando a complexidade do local e das circunstâncias que englobam Ana Karoline, uma menina com sede e direito de conhecimento e de uma vida digna. (Chagas Filho e Thays Araujo)