A música emo não morreu e a banda LUI é a prova. Vivíssimo após três singles, o duo marabaense formado por Letícia Portela e Mario Serrano lançou na madrugada desta sexta-feira (30) o primeiro álbum, Dimittas, que em latim significa “deixar ir” ou “soltar”, exatamente o sentimento que os dois tentam passar no trabalho produzido ao longo dos últimos quatro meses.
“É mais existencialista que nossos trabalhos anteriores, mas ao mesmo tempo mais otimista. Fala um pouco sobre ressignificar. A gente quis usar esse título exatamente por o latim ser uma língua que a galera fala que é uma língua morta. Eu queria que as pessoas entendessem que, assim como uma língua morta pode virar um álbum, pode virar letra e poesia, a gente pode ressignificar alguns sentimentos”, comentou Letícia.
Leia mais:No início da tarde desta sexta, após o retorno de alguns ouvintes do álbum, Letícia conversou com o Correio de Carajás, bastante animada com a receptividade do público. “Está muito massa, o pessoal está gostando muito e se identificando bastante com as letras. Eu acho que essa é a parte mais legal! Muita gente está interagindo com a gente nas redes sociais, coisa que não aconteceu muito nos primeiros singles, acho que a receptividade desta vez está sendo bem maior”, comemora.
As oito faixas do álbum soam um pouco diferentes daquilo que a banda vinha apresentando antes. As guitarras, bateria e baixo saíram um pouco de evidência e abriram espaço para mais sintetizadores, transparecendo um pouco mais de R&B, trap e pós-punk. “Acho que até agora o pessoal está gostando mais de Skylab e Poema Arquivado, uma música bem diferente do que a gente vinha fazendo, da proposta que tinha antes, quando era uma banda mais orgânica. A gente tá tentando passear um pouco por essas influências também e eu acho que foi uma surpresa pro pessoal, não estavam esperando isso no álbum emo da LUI”.
Letícia define que o trabalho soa como “um conselho” em um momento difícil para todos. “A gente começou nesse cenário de pandemia, então a gente tá falando muito sobre si, é um álbum muito existencialistas. Eu acho que a gente teve mais tempo pra ficar sozinho e pra refletir sobre algumas coisas. Acho que esse sentimento de solidão foi meio coletivo, então a gente quis falar um pouco disso no álbum, só que com um tom um pouco mais otimista. É um álbum que soa meio como um conselho pra nós mesmos, são coisas que a gente queria ouvir”.
Em relação à divulgação do álbum, lançado digitalmente em todas as plataformas de música, Letícia explica que, além das ações em redes sociais, o duo planeja uma session do álbum, gravada ao vivo e com pós-produção, a ser lançada provavelmente no final do mês de maio.
Na noite desta sexta, às 20 horas, será lançado também o primeiro material audiovisual do álbum, um videoclipe da música título. “Vai sair o primeiro vídeo agora e daqui um mês vão sair mais três que serão o capítulo II de uma história que está sendo contada de trás para frente. Dimittas é o epílogo, mês que vem lançaremos o capítulo II e mais pro final do ano o capítulo I”, explica, acrescentando que os produtos têm estética semelhante.
O álbum da LUI é mais um tijolo na construção artística erguida no sudeste paraense, já apresentada anteriormente pelo Correio de Carajás.
Para Letícia, é gratificante também ser inspiração para outros artistas locais. “A gente está muito empolgada, muito feliz porque a gente nunca fez um trabalho grande assim, apresentando pra imprensa e tudo, era mais uma coisa de “eu gosto de música e eu tô fazendo música”, agora a gente tá começando a enxergar isso mais como algo que consegue ir pra frente, como profissão. A gente tá feliz também porque de algum modo vai fazer com que outras bandas que tão por aqui, na cena, entendam que é possível fazer”.
Ela lembra que a LUI sempre foi uma banda independente lutando para produzir. “A gente literalmente sempre fez tudo, desde gravar a música até fazer a identidade visual. Então, é a primeira vez que a gente está terceirizando algumas coisas. É entender que a gente não tem muita grana, mas consegue fazer sozinha pelo menos”.
O álbum foi financiado a partir de edital da Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural da Secretaria de Estado de Cultura (Secult), no qual a LUI foi contemplada em R$ 30 mil. A produção executiva é da Psica Produções, uma produtora originalmente de Belém e que está expandindo o selo para o interior do estado.
“Acabou que o nosso nome rolou por lá e um dos produtores nos procurou pra gente se inscrever no edital da Aldir Blanc. A gente produziu e gravou o álbum todo em Marabá, assim como os vídeos também, aí a Psica fez essa ponte com o Diego Fadul, que é um produtor de Belém, que mixou e masterizou”, explica.
Já os vídeos são produzidos pela Boiuna Filmes, dirigidos por Bruna Soares e com direção de arte da própria Letícia Portela, que também fez as edições. (Luciana Marschall)