Neste domingo, 21 de fevereiro, um acidente foi registrado (e filmado) entre um trem cargueiro carregado de minério que seguia de Carajás em direção ao porto de Itaqui, em São Luís-MA, e uma locomotiva da mesma mineradora. O fato ocorreu à altura do município de São Pedro da Água Branca-MA, que faz divisa com o Pará.
Pelo vídeo de aproximadamente 1 minuto, um trem cargueiro passa carregado de minério em velocidade moderada em um trecho em que a EFC é duplicada. Logo em seguida, no mesmo sentido e no mesmo trilho aparece uma locomotiva em velocidade bem superior à do trem cargueiro. Ela se aproxima rapidamente e o choque torna-se quase inevitável e o último vagão fica parcialmente danificado e parte do minério caiu sobre o trilho.
No momento da batida, a pessoa que está filmando (do sexo feminino) dá um grito e profere uma palavra de baixo calão, demonstrando surpresa com a situação. Uma “poeira” escura cobriu o céu e funcionários de uma empresa terceirizada da Vale correm em direção do local para avaliar se havia vítima para tentar socorrer.
Leia mais:A Reportagem recebeu informações de técnicos da área que a ação da locomotiva é recorrente naquele trecho entre São Pedro e Açailândia, inclusive indicando um vídeo no Youtube que mostra isso de forma didática.
Carregado de minério, o trem é empurrado por duas locomotivas, uma no início e outra no meio. Todavia, apesar desse esforço, no trecho entre São Pedro e Açailândia há subidas que levarão suas locomotivas ao limite de suas capacidades. São as chamadas “Colinas de Açailândia”, que ficam a 240 metros acima do nível do mar.
A locomotiva extra é chamada de “Helper Dinâmico”, que precisa manter a velocidade de cerca de 30 km por hora na hora de “atacar” e serve como força extra para o trem não parar nos 130 km da colina. Seus motores fornecem 8.800 HPs. “Se a gente não colocar uma máquina extra acoplada ao trem, ele não consegue subir em função de seu grande peso e tamanho”, explica o maquinista Miguel Ferreira da Costa, em vídeo postado no Youtube.
A operação do Helper Dinâmico precisa acontecer com muita precisão. Ele não pode aproximar com muita velocidade e nem pode ir muito lento, senão não alcançará o trem. Há um trecho pré-determinado para acontecer o acoplamento e só há uma chance para isso acontecer. Para evitar a batida, há um medidor de distância a laser. Ao se aproximar da cauda do trem, um feixe de laser é transmitido até a traseira do último vagão e a sua reflexão é captada por um sensor. Medindo-se o tempo de retorno gasto pela luz refletida, o sistema permite que seja calculada a distância até o trem à frente e o controle da velocidade da locomotiva helper. Assim, o acoplamento ocorrerá sem o descarrilamento do trem.
Aproximadamente 8 minutos após a passagem pela locomotiva helper, o trem de 3,4 quilômetros de extensão e 40.000 toneladas passa a tracionar forte e, assim, consegue vencer a Colina de Açailândia.
Para que o acidente deste domingo tenha ocorrido, houve falha, mas não se sabe ainda se foi técnica ou humana.
Em contato com a Reportagem do CORREIO, a Assessoria de Imprensa da Vale na região confirmou que o acidente ocorreu neste domingo, em São Pedro da Água Branca (não informou horário), mas destacou que só houve danos materiais, sem nenhuma vítima. A empresa também garantiu que a Estrada de Ferro Carajás já havia sido liberada e que o tráfego de trens continua normalmente.
Sobre a origem da falha, a própria Vale informou à Reportagem que esta questão está sendo investigada. (Ulisses Pompeu)