Correio de Carajás

Longe das negociações oficiais, povos indígenas clamam por justiça climática

Fotos: Marx Vasconcelos
✏️ Atualizado em 13/11/2025 10h12

Enquanto as delegações globais negociam nos salões oficiais da COP30, outra voz ecoa em Belém: a da Cúpula dos Povos, movimento da sociedade civil que reúne redes, organizações sociais e povos tradicionais em defesa de uma transição justa e solidária. O evento foi aberto nesta quarta-feira (12) com uma barqueata pelas águas da Baía do Guajará, que reuniu cerca de 5 mil pessoas e mais de 200 embarcações de 60 países, em um ato simbólico pela justiça climática. A manifestação marca o início da Cúpula, realizada na Universidade Federal do Pará (UFPA) até o dia 16, em paralelo às negociações oficiais da conferência climática.

A presença do Cacique Raoni Metuktire, uma das principais lideranças indígenas do país, reforçou o tom político e simbólico do ato. Para os povos da floresta, o recado é claro: não basta ocupar as mesas de negociação, é preciso que o fim da exploração fóssil e a garantia dos territórios estejam no centro das decisões climáticas globais.

Caravana da Resposta
A abertura da Cúpula também marcou a chegada da Caravana da Resposta, uma jornada de mais de 3 mil quilômetros que partiu de Sinop (MT), coração do agronegócio, e seguiu até Santarém (PA) por terra, antes de navegar 1.600 km até Belém. O percurso reuniu cerca de 300 ativistas, lideranças indígenas, agricultores familiares e movimentos sociais, que cruzaram o chamado “corredor da soja” para denunciar o modelo de desenvolvimento que destrói florestas e modos de vida tradicionais. Durante a viagem, manifestações culturais, danças e ritos reafirmaram a resistência dos povos da floresta.

Leia mais:

Na caravana, lideranças Kayapó, Panará (Krenakore) e do Baixo Tapajós fortaleceram a união entre as lutas do Xingu e do Tapajós. Em Belém, o Cacique Raoni celebrou o convite à COP30, mas fez uma cobrança direta ao presidente Lula sobre a exploração de petróleo na Foz do Amazonas. “Quando foi preciso apoiá-lo, eu o apoiei, e agora ele vai ter que sentar para podermos discutir o futuro da Foz do Amazonas.” disse Raoni.

Protagonismo das mulheres indígenas
O protagonismo das mulheres indígenas também foi destaque na Cúpula. Irepoiti Metuktire, assessora do Departamento das Mulheres Kayapó, destacou o papel das mulheres na defesa dos territórios e na vida comunitária. “É uma amostra de que nós, mulheres, estamos lutando junto com os homens. Nós temos mais essa preocupação, temos mais conhecimento em território, porque nós que cuidamos das crianças, nós cuidamos de tudo na aldeia. Então, esse protagonismo das mulheres é importante para nós indígenas, o que está acontecendo com as mulheres tem que ser respeitado, tem que ser ouvido.” afirmou a indígena.

A Cúpula dos Povos é considerada a maior mobilização indígena já vista em um evento climático no Brasil. Para Jessica Kumaruara, do povo Kumaruara, no Baixo Tapajós, o encontro tem um significado especial por ocorrer “praticamente em casa, aqui no Pará”. Jessica ainda  resumiu o sentimento que ecoa na Barqueata e nas discussões. “Nós não queremos que decidam por nós, nós queremos fazer parte.” disse a indígena.

As lideranças reforçaram também a necessidade de respeito ao protocolo de consulta livre, prévia e informada, obrigação do Estado em decisões que afetem os povos indígenas. A denúncia contra a privatização e a contaminação dos rios foi outro ponto central do encontro. “Quando destroem nossa floresta, é uma forma de nos matar também.” reforçou Jéssica.

O recado final da Cúpula dos Povos é direto: não basta estar na mesa de negociação. É preciso que as pautas, como o fim da exploração fóssil e a garantia dos territórios, sejam o centro da resposta climática global. Este é o clamor final dos guardiões da floresta por um futuro que priorize a vida.

(Fonte: Amazônia Vox)