Correio de Carajás

Linhas que entrelaçam as vidas de 20 novas costureiras

Ao visitar a sala de aula cheia pelas aspirantes a costureiras, o CORREIO conheceu histórias de mulheres que enxergam nessa profissão uma oportunidade de transformar suas vidas

Orgulhosas, as alunas exibem as peças de roupas confeccionadas durante o curso/ Fotos: Evangelista Rocha

“A caixinha de costura, a mesa comprida, sala imensa”, diz Maria Lúcia Medeiros em seu conto ‘Chuvas e Trovoadas’. Mas essa também é a descrição exata da sala de aula onde 20 mulheres aprenderam o ofício de costureira através de um curso oferecido pelo programa “Qualifica nos Bairros”.

Realizado por meio de uma parceria entre o Ministério Público do Pará (MPPA) e a Obra Kolping, o projeto entrega esta semana os certificados de conclusão para mais de 100 pessoas que realizaram cursos de corte e costura, eletricidade e informática.

Ao visitar a sala cheia pelas aspirantes a costureiras, a reportagem deste CORREIO conheceu histórias de mulheres que enxergam nessa profissão uma oportunidade de transformar suas vidas.

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Um sonho, um ateliê e as mulheres Aikewara Suruí

Um ateliê de costura na aldeia Itahy (povo Aikewara Suruí) era um sonho encaminhado, mas sua realização não estava prevista em um futuro próximo.

Esse cenário mudou através de Alexssandra Muniz Mardegan, promotora de Justiça Agrária de Marabá, que encaminhou as indígenas para o curso de corte e costura. Entre elas está Raquel Oliveira Silva, professora, que compartilha a alegria em participar do programa com outras mulheres da mesma aldeia. “Para nós foi um grande privilégio fazer esse curso”.

Obter o conhecimento sobre o ofício deu às indígenas o incentivo que elas precisavam para iniciar o trabalho em um ateliê dentro da aldeia. “Vai ajudar muito nossa comunidade, porque era algo que estávamos precisando há muito tempo”.

Raquel enfatiza que agora que a oportunidade foi oferecida – e devidamente aproveitada – o sentimento das mulheres da aldeia Itahy é de imensa gratidão.

Indígena da aldeia Itahy, Raquel vê o curso como uma oportunidade de desenvolvimento para seu povo

“Agradecemos à doutora Alexssandra e à Obra Kolping por essa chance. Também a todos que nos ajudaram a chegar até aqui”. O apoio do prefeito de São Geraldo do Araguaia também é destacado por ela.

Findado o curso, o sonho das indígenas tomou corpo e está em vias de ganhar vida. Agora, o próximo ponto a ser costurado nessa trama é a consolidação do tão ansiado ateliê. “Há muito tempo nós já temos o imóvel pronto e também temos as máquinas. A equipe vai trabalhar para manter nossa comunidade, pelo menos fazer os uniformes das nossas festas”.

Cláudio Suruí, do povo Aikewara Suruí, trabalha como diretor da escola na aldeia Itahy e desabafa que há muito tempo sua comunidade vem lutando por essa oportunidade e é veemente ao afirmar que ela chegou no momento certo.

Cláudio é grato pelo benefício oferecido ao povo Aikewara Suruí com a formação

“Pra gente, esse curso é como um carro-chefe. Era um sonho que a comunidade tinha. O pré-projeto já foi executado, mas o mais importante eram as costureiras, que a gente não tinha”.

Ele esbanja satisfação ao comentar sobre a certificação que as quatro indígenas receberam, e assim como Raquel, ressalta o apoio da promotora Alexssandra nessa conquista.

“Foram quatro meses de luta. Nós moramos a 160 quilômetros daqui, mas conseguimos uma parceria com a prefeitura (de São Geraldo) e conseguimos manter as mulheres durante os quatro meses do curso”. Visionário, ele já pensa em novos planos para o desenvolvimento e futuro da comunidade, que serão apoiados pela recém formação das indígenas.

Orgulhosas, as indígenas da aldeia Itahy exibem a certificação conquistada

”A costura para mim é como se fosse uma arte”

Assim como a agulha guia a linha pelo tecido durante a costura, o caminho de Juliane Rocha, 41 anos, até o curso foi conduzido pela amiga Luciane, que foi quem ficou sabendo primeiro da oportunidade.

Para Juliane, o curso foi a oportunidade de aprender uma nova profissão

“Eu já era ajudante de costureira e queria me profissionalizar, ter mais conhecimento dessa área”, conta animada. Para ela, com a nova experiência e conhecimento adquiridos, a mudança positiva em sua vida já é uma realidade.

“A costura para mim é como se fosse uma arte. A gente nunca sabe de tudo, cada dia aprendemos um pouco mais”, afirma, ao dividir sua sabedoria com a reportagem.

E se costurar é uma arte, Eliete Leite é uma artista pra lá de experiente. Costureira há mais de 20, ela é a responsável por formar novas mulheres em sua profissão e também aprendeu com elas. Esta foi sua primeira experiência dando aulas e agora, com a bagagem recém adquirida, a intenção é continuar seguindo por essa estrada.

Costureira experiente, Eliete esteve à frente de uma sala de aula pela primeira vez

“No início fiquei um pouco receosa, achei que não ia dar conta, mas acredito que me saí bem”. Ela garante que agora formadas, suas novas colegas de profissão estão mais que capacitadas para trabalhar por conta própria como costureiras.

Andréia reforça a importância do “Qualifica nos Bairros” para a sociedade marabaense

QUALIFICA NOS BAIRROS

O programa “Qualifica nos Bairros” atendeu 130 alunos nos três cursos: corte e costura, eletricista e informática. “É um projeto que vem para melhorar as condições de vida da nossa juventude, das nossas mulheres e da sociedade”, reflete Andréia Rodrigues, diretora da Obra Kolping do Brasil, em Marabá. Ela complementa afirmando que os cursos elevam e melhoram a vida de muitas pessoas que estão desempregadas. (Luciana Araújo)