Correio de Carajás

Linha e cerol: Autoridades alertam para riscos

Recorrentes nesta época do ano, as brincadeiras com pipas oferecem risco a crianças e adultos se praticadas próximas à fiação elétrica. A situação torna-se ainda mais grave quando as pessoas decidem usar linhas com cerol, que são altamente cortantes e podem causar feridas graves a terceiros e aos próprios usuários do artefato. E o problema não para por aí, já que a mistura de vidro moído e cola pode cortar cabos de fornecimento de energia e internet, prejudicando residências e comércios da cidade.

Em Marabá, a empresa Fibralink, que oferece serviço de internet via fibra ótica, contabilizou nos últimos dias quatro situações de fios retalhados em decorrência do cerol. “Esse caso de pipa com cerol é uma coisa meio antiga aqui na região, desde o início a gente sofre com isso aqui. Mas a incidência aumenta com o período das férias, porque as crianças estão mais ociosas em casa e acontece com mais frequência”, revela Rodrigo Barroso Gonçalves, representante da empresa. Segundo ele, alguns cabos estão sendo emendados para garantir a prestação do serviço na cidade.

Dono de uma empresa provedora de internet mostra o estrago causado a um cabo de fibra ótica cortado por uma linha com cerol

“Na última semana tive três cortes que parou o fornecimento de boa parte dos clientes, porque o cerol cortou metade do cabo de cabos, e precisei troncar 36 pares. E segunda-feira passada eu tive um caso com um de 12 pares”, afirma, acrescentando que para realizar o reparo é necessário cortar toda a extensão do fio e, que além de dar trabalho e deixar pessoas sem internet, acaba causando atenuação.

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“Quanto mais emendas, menor é a força do sinal, digamos assim. E diminui a vida útil do cabo”, esclarece. “O que a gente está fazendo agora é colocar um fio acima do nosso com um cabo de aço, porque aí a gente reduz a incidência. Mas até ele, o cerol corta”.

Para ele, o mais recomendado seria que entidades e autoridades realizassem campanhas de conscientização junto à população marabaense, a fim de diminuir esses casos. “Sem contar o perigo que essas crianças correm. Porque quando a pipa é enganchada, elas tentam tirá-la com algum objeto e está muito perto da rede de energia”.

Ocorrências

Apenas neste ano, cerca de duas mil ocorrências de falta de energia em decorrência de brincadeiras com pipas foram registrados em todo o Pará, 750 delas apenas entre maio e os primeiros dez dias do mês junho de 2018. Os dados foram fornecidos pela concessionária de energia do estado e mostram que em Marabá aconteceram 68 interrupções ligadas à prática. No ano passado, mais de 7.500 casos foram registrados nos meses de janeiro, maio, junho e julho.

Para evitar que os números cresçam neste mês, a orientação da empresa é que as pessoas busquem campos abertos, com boa visibilidade e longe de fiação elétrica, para soltar “papagaios”. Além disso, destaca que o cerol, ao entrar em contato com a fiação, pode causar curto-circuito. Com o intuito de conscientizar a população, a companhia vem realizando palestras em escolas e com as comunidades, orientando crianças, jovens e adultos a praticar a atividade de maneira segura.

Dano físico causado a terceiros pode tipificar lesão corporal

O uso do cerol pode ser caracterizado como crime de lesão corporal, caso alguém se machuque em decorrência da brincadeira. Em casos mais graves, de morte, por exemplo, quem estiver usando o material pode responder por homicídio.

“A utilização de cerol pode ensejar duas reprimendas penais. Se lesionar alguma pessoa, transeunte, condutor de motocicleta, quem tiver fazendo utilização da linha com cerol responderá pelo resultado provocado, por lesão corporal leve ou grave, e até mesmo um homicídio culposo, se essa pessoa vier a óbito. No entanto, se a pessoa tiver soltando a pipa com cerol e não provocar lesão a ninguém, ainda assim poderá ser responsabilizada”, afirmou o delegado Vinícius Cardoso das Neves, diretor da 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil, em Marabá.

“No entanto, se ela tiver soltando a pipa com cerol e não provocar lesão a ninguém, ainda assim poderá responder por um tipo penal, tratado no artigo 132 do código penal brasileiro, que é expor a vida ou saúde de outrem a perigo direto ou iminente. A polícia militar ou civil que se deparar com a prática, irá recolher o material e a pessoa será conduzida à delegacia”, confirma.

Por fim, recomenda que seja feito o uso da brincadeira sem o cerol e com os devidos cuidados. “A polícia orienta que o adolescente ou até o maior de idade que for empinar pipa, que o faça em partes públicas, ambientes ermos, em que não haja rede de energia elétrica, para não colocar em risco a segurança do próprio brincante” ressalta.

(Nathália Viegas)

Saiba mais – Ainda não há no Brasil lei federal que discipline a questão. O que existem são projetos de lei do Senado e da Câmara dos Deputados que tipificam a fabricação, importação, comercialização do cerol e da chamada linha chilena, além do uso em vias e locais públicos. No Pará, a Prefeitura de Santarém sancionou a Lei 19.831/2015, que dispõe sobre a proibição do uso, comercialização, distribuição e produção de cerol e similares no município.