Correio de Carajás

Lewis Hamilton não elogiou Bolsonaro após o GP do Brasil

Falso
É falso que Lewis Hamilton tenha dito que os brasileiros estão felizes com o governo Bolsonaro, como mostra uma peça de desinformação que circula no Twitter. A publicação falsa afirma que o piloto fez o comentário elogioso ao jornal The New York Times, mas não há registros da entrevista. Escuderia de Hamilton, a Mercedes-Benz afirmou que o inglês não elogiou o governo Bolsonaro.
  • Conteúdo verificado: Peça publicada no Twitter afirma que o piloto Lewis Hamilton disse ao The New York Times nunca ter visto os brasileiros tão felizes como no governo Bolsonaro.

É falso que o piloto de Fórmula 1 Lewis Hamilton tenha dito que nunca viu os brasileiros tão felizes como no governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Circula nas redes sociais peça de desinformação que atribui ao britânico o comentário elogioso.

A declaração, compartilhada por perfil que se autodefine bolsonarista, teria sido dada ao jornal The New York Times, após a vitória de Hamilton no Grande Prêmio de Interlagos, em São Paulo, em 14 de novembro. Ao Comprova, por e-mail, a assessoria de comunicação da Mercedes-Benz, escuderia de Hamilton, afirmou que o piloto “nunca disse isso e não deu entrevista ao NYT”.

Em outro tuíte sobre a peça de desinformação, a dona do perfil afirmou que, para ela, não faz diferença que o piloto inglês não tenha, de fato, feito comentários positivos sobre o governo Bolsonaro. “(…) ninguém precisa falar por mim o que eu mesma posso dizer: Estou feliz com este governo”, ela escreveu.

Leia mais:

O Comprova questionou a autora da publicação falsa pelo Instagram. Ela respondeu que não achou que a postagem tinha potencial de gerar danos a outras pessoas. Afirmou que viu apenas esquerdistas classificando o conteúdo como falso, “ninguém da direita”. Na sequência, porém, ela reconheceu a falsidade da publicação e apagou o conteúdo.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original ou divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos?

Inicialmente, o Comprova realizou buscas no Google e no portal do The New York Times à procura de alguma entrevista concedida pelo piloto inglês com o mesmo teor da publicação verificada. As palavras digitadas foram “Lewis Hamilton”, “Brazil” e “Bolsonaro”. O site não apresentou matérias com estes temas.

O Comprova também visitou checagens sobre a peça realizadas pelos sites Boatos.orgUOL ConfereEstadãoYahooAgência Lupa e IstoÉ. A conclusão de todas as verificações foi de que o conteúdo é falso.

A reportagem entrou em contato com a autora do post por mensagem privada no Instagram e, após a entrevista, ela apagou o conteúdo.

Ao Comprova, por e-mail, a assessoria de comunicação da Mercedes-Benz, escuderia de Hamilton, afirmou que o piloto “nunca disse isso e não deu entrevista ao NYT.”

Verificação

O post aqui verificado inventa que o comentário de Hamilton teria sido feito na presença do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), um dos principais adversários políticos de Bolsonaro. O tucano é chamado de “calcinha apertada” na postagem. Foi Doria quem entregou ao inglês o prêmio de vencedor do GP de Interlagos.

“Uma honra entregar o prêmio de vencedor do Grande Prêmio SP de Fórmula 1 a Lewis Hamilton. Emocionante ver Hamilton levantar a bandeira do Brasil no lugar mais alto do podium. Emocionante ver a torcida gritar ‘Senna! Senna!’”, publicou o perfil do governador no Twitter.

Hamilton emulou Senna

A reverência do piloto à bandeira nacional não foi uma forma de menção ao bolsonarismo, movimento que usa as cores e a bandeira brasileiras em manifestações a favor do presidente da República. O gesto de Hamilton foi uma mostra de admiração ao tricampeão mundial de Fórmula 1 Ayrton Senna (1960-1994). Em 2021, completam-se 30 anos da primeira vitória de Senna em Interlagos.

Em 24 de março de 1991, o brasileiro enfrentou percalços até conseguir comemorar ineditamente perante a própria torcida, como a chuva e somente a sexta marcha funcionando. Ele levantou a bandeira nacional no primeiro lugar do pódio. Em 1993, o gesto se repetiu duas vezes, no Brasil e na Austrália, quando o piloto levantou a bandeira a partir do cockpit, ainda com o carro em movimento, como fez Hamilton. Os registros estão no site em memória ao piloto.

Em entrevista à TV Bandeirantes, que detém os direitos da transmissão da modalidade, Hamilton afirmou: “Essa foi para o Brasil. Estou muito orgulhoso e muito feliz com toda essa paixão e amor que recebi das pessoas. Foi um momento muito especial. Me lembro de ver os vídeos do Ayrton carregando a bandeira quando vencia aqui e procurei a bandeira no fim”.

Hamilton apoiou críticos de Bolsonaro

O piloto da Mercedes já publicou no Instagram, em 31 de maio de 2021, mensagem em apoio a manifestantes contrários a Bolsonaro. “Meu coração está com vocês, Brasil”, escreveu o heptacampeão da Fórmula 1.

A imagem da publicação era da Avenida Paulista, um dos cartões-postais de São Paulo, àquela oportunidade tomada por pessoas contrárias ao manejo da crise sanitária pelo governo Bolsonaro. O país somava mais de 461 mil mortes ocasionadas pela covid-19.

F1 já gerou disputa entre Doria e Bolsonaro

Bolsonaro já quis que o GP brasileiro fosse realizado no Rio de Janeiro, em um autódromo que ainda seria construído, no bairro de Deodoro, Zona Oeste da cidade. Ele chegou a anunciar que as tratativas com a Liberty Media, grupo empresarial que administra a F1, estavam 99% concluídas. Em paralelo, o governo paulista negociava com o mesmo grupo para a manutenção da corrida em São Paulo.

O projeto de mudança para a capital fluminense também continha implicações ambientais. A pista do autódromo passaria na Floresta do Camboatá, o último trecho de Mata Atlântica em área plana na cidade do Rio de Janeiro. A Câmara Municipal do Rio de Janeiro, então, aprovou o projeto de lei 1.345, de 2019, que cria o Refúgio de Vidas Silvestre (Revis) na Floresta do Camboatá.

O líder do prefeito Eduardo Paes (DEM) na Casa, Átila Nunes (DEM), avaliou que a aprovação do texto resultará na preservação da fauna e da flora.

Por que investigamos?

Em sua quarta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia, as políticas públicas do governo federal e as eleições de 2022. O post aqui verificado tem potencial de levar as pessoas a uma falsa impressão sobre a popularidade de Bolsonaro, pois afirma que o presidente foi elogiado por um piloto mundialmente celebrado.

Até o momento da publicação deste texto, o post tinha mais de 6 mil interações. Alguns comentários foram contrários à publicação falsa. Outros, favoráveis. “Valeu Hamilton! O calcinha merece! E o povo, apesar de tudo, vivemos uma ditadura judicial, está feliz e seguro com Bolsonaro”, escreveu uma usuária.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original ou divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Desde 2020 o Correio de Carajás integra o Projeto Comprova, que reúne jornalistas de 33 diferentes veículos de comunicação brasileiros para descobrir e investigar informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas sobre políticas públicas e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.