A Polícia Federal (PF) divulgou nesta sexta-feira (16) informações sobre o laudo preliminar da morte do indígena Emyra Waiãpi, em julho no Amapá. A perícia, segundo a PF, sugere que o cacique não foi assassinado; os indícios são de morte por afogamento. A versão dos índios é de que ele foi morto durante invasão de garimpeiros.
“O laudo conclui que o conjunto de sinais apresentados no exame, corroborado com a ausência de outras lesões com potencial de causar a morte, sugere fortemente a ocorrência de afogamento como causa da morte de Emyra Waiãpi”, detalha a nota da PF.
No dia 27 de julho, índios da Terra Indígena Waiãpi pediram ajuda a órgãos federais, após encontrarem o corpo de Emyra em um dos rios da região. Eles afirmavam que a morte seria um assassinato causado por garimpeiros que invadiram a região.
Leia mais:A PF fez buscas na região e, inicialmente, não localizou indícios de presença de não-indígenas nas áreas apontadas pelos Waiãpi. A investigação continua.
O corpo do índio foi exumado no dia 2 de agosto por dois médicos legistas da Polícia Técnico-Científica (Politec) do Amapá, ao longo de duas horas. A avaliação necroscópica ocorreu na própria terra indígena, que fica no município de Pedra Branca do Amapari, com autorização da família e de outros líderes indígenas, respeitando as tradições daquele povo.
A morte, segundo a perícia, aconteceu entre os dias 21 e 23 de julho. A PF recebeu o laudo preliminar na quinta-feira (15) e informou que ainda aguarda o laudo complementar toxicológico, com previsão de ser entregue em 30 dias, com o resultado do que foi coletado dos órgãos internos de Emyra. As amostras foram encaminhadas ao Laboratório de Toxicologia Forense.
“Resultado [complementar] servirá apenas para auxiliar na investigação das circunstâncias dos fatos, não interferindo, contudo, na conclusão pericial quanto à causa da morte por afogamento”, acrescentou a PF.
Na nota, a polícia detalhou que, segundo a exumação, não houve “lesões de origem traumática”. O laudo indica que a ferida na cabeça era uma lesão superficial, “que não atingiu planos profundos, e que não houve fraturas”. No pescoço também não foram encontradas lesões traumáticas ou “sulcos evidenciáveis de enforcamento”.
“O exame do tórax do indígena também não evidenciou a existência de lesões penetrantes, desmentindo as primeiras notícias que davam conta de que a liderança teria sido atacada a facadas”, acrescentou a PF.
O Ministério Público Federal (MPF) informou, nesta manhã, que acidente passa a ser a principal hipótese na investigação da morte de Emyra. “As investigações, incluindo a apuração da entrada de não-índios na Terra Indígena, prosseguem”, acrescentou o órgão.
Em nota, o MPF declarou também que “o documento descarta a hipótese investigativa inicialmente apresentada: corpo não apresentava traumas de qualquer natureza na região dorsal e na genitália”.
Nesta sexta-feira, o procurador da República Alexandre Guimarães, que atua na esfera cível, vai participar de uma reunião anual de caciques na terra indígena. O MPF anunciou que serão tratados assuntos de interesse do povo indígena, mas não deu mais detalhes.
Investigação
Emyra Waiãpi foi encontrado morto em um rio pela família. Quando visitou a região, no dia 28 de julho, a Polícia Militar (PM) declarou que o corpo do cacique tinha marcas de perfurações e cortes na região pélvica.
O senador Randolfe Rodrigues visitou a aldeia e conversou com lideranças no dia 30 de julho. Em um vídeo gravado pela equipe do senador, Jawaruwa Waiãpi, vereador no município, contou que Emyra Waiãpi foi encontrado pela esposa.
“O corpo dele estava com muitas perfurações de faca. Perfuraram a cabeça e a barriga dele. Também furaram os olhos dele e amarraram o pescoço antes de jogarem ele no rio. Por isso a família pensava que ele tinha caído no rio e se afogado. Mas quem descobriu as perfurações foi o filho dele, o professor. […] Nosso povo Waiãpi está se sentindo inseguro”, descreveu na época.
A exumação foi acompanhada por servidores da Funai. Ao todo, 27 pessoas participaram do trabalho, entre agentes da PF, Polícia Civil e Politec.
Mesmo não encontrando indícios de invasão, o MPF, que também abriu investigação sobre o caso, declarou que “há várias linhas de investigação” e que “nenhuma foi descartada”.
(Fonte: G1)