Correio de Carajás

Justiça Federal dá 10 dias para famílias desocuparem área da Infraero em Marabá

Os moradores do Bairro Infraero, mais especificamente na área da Piçarreira, foram surpreendidos por agentes da Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal (PRF). Eles escoltavam um oficial de justiça, que comunicou sobre um mandado de reintegração de posse e citação, na última quarta-feira (17), dando o prazo de 10 dias para que a comunidade deixasse o local.

Ontem, quinta-feira (18), centenas de famílias que vivem no local se reuniram para buscar uma solução para a tribulação. Era por volta das 17 horas quando a Reportagem do Portal Correio chegou à localidade da Piçarreira e se deparou com um mar de pessoas revoltadas pela possibilidade de perder o seu lar.

Para avaliar que medidas tomar, eles se reuniram em busca de uma solução / Foto: Zeus Bandeira

Os moradores não possuíam uma liderança que os representassem e os mais afoitos tomavam a iniciativa de se aproximar e dizer o que estavam sentindo. A aglomeração estava concentrada em frente à casa de Lindomar Borges, que vive com sua esposa e mais três filhos, entre eles uma menina portadora de necessidades especiais.

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O açougueiro conta que estava chegando em casa para almoçar quando se deparou com os agentes da PRF. Lindomar foi revistado e comunicado sobre a presença do oficial de justiça.

“Eles me levaram até onde ele estava, havia mais moradores já reunidos por lá, e foi quando ele nos deu essa notícia. Quando fiquei sabendo, até a fome passou, fiquei completamente desesperado”, conta Lindomar.

A residência do açougueiro foi construída, segundo ele, com um investimento de 10 mil reais, possuindo três cômodos, além do banheiro. Ele se mudou para essa casa após três anos morando de aluguel com a família. “Se me expulsarem daqui eu não sei o que fazer, não tenho para onde ir”, diz Lindomar, com lágrimas nos olhos.

A situação de desespero é semelhante para Maria Antônia da Silva, de 78 anos. Aposentada, a idosa mora sozinha na Piçarreira com a bisneta, sobrevivendo apenas da sua aposentadoria e da ajuda que recebe do genro.

Vivendo há pouca mais de um ano no local, ela não tem para onde ir. “Quando soube da reintegração eu fiquei tão abalada que nem consegui dormir à noite. Compareci na reunião para saber o que devo fazer, pois não posso ir morar com meu genro, a casa dele é muito pequena, não teria espaço para mim”, diz Maria Antônia, com um suspiro no fim.

CONTROVERSAS

Mesmo os moradores não possuindo títulos dos imóveis para permanecerem na área, a fatura de energia não para de chegar, reconhecendo o endereço como rua circular no Bairro infraero.

Segundo alguns moradores, a área foi demarcada por equipes da Superintendência de Desenvolvimento Urbano (SDU), que estiveram no local há cerca de quatro a cinco meses, dando esperança de uma regularização.

Outra situação contraditória é sobre o tempo da ocupação, que segundo a Justiça Federal, iniciou há dois meses. Mas a Reportagem do Portal Correio constatou a existência de pessoas que vivem na localidade há muitos anos, com residências construídas em alvenaria, e até mesmo uma igreja foi erguida nas extremidades da Piçarreira.

Uma igreja foi construída há cinco anos na Piçarreira, mas para a Justiça Federal, a ocupação existe há dois meses / Foto: TV Correio

Josué Rocha foi quem ergueu a congregação e conta que vive com sua família há cinco anos na área. “Quando chegamos aqui não tinha nada, era só um terreno cheio de mato onde as pessoas jogavam lixo”, relata Josué.

Agora, com a notícia da desocupação, o homem diz que não tem para onde ir com sua esposa e filhos. “Me sinto uma pessoa abandonada. Eu choro ao pensar que já tive de deixar de almoçar para poupar dinheiro para comprar tijolos e ergues os muros da minha casa”, lamenta Josué.

Josué conta que antes o local servia apenas para as pessoas jogarem lixo / Foto: TV Correio

PREFEITURA SE POSICIONA

O Portal Correio entrou em contato com a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Marabá e questionou a visita dos servidores da SDU na Piçarreira.

Em nota, a Ascom informou que “a área desapropriada pertence ao Governo Federal e que em nenhum momento, desde o primeiro dia da gestão, houve qualquer incursão de servidor autorizado na área referida, devido a mesma não ser de propriedade municipal”.

A nota também ratificou ainda que “a ação foi federal, pois a área pertence à União e nada tem relação com o município”. (Zeus Bandeira)