No Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR), o cuidado vai muito além da reabilitação. Ele também se traduz em atitudes que despertam consciência, autonomia e empatia. Foi com esse propósito que o grupo de jovens autistas atendidos pelo psicólogo Matheus Barros escolheu, como tema das terapias de habilidades sociais dos últimos meses, um assunto urgente e inspirador: a sustentabilidade, tendo como referência a COP30, conferência mundial sobre mudanças climáticas que acontece em Belém.
O projeto propõe uma imersão que une aprendizado e responsabilidade coletiva. “Mais do que incentivar comportamentos pró-sociais, buscamos incluir os participantes nas discussões sobre meio ambiente e sustentabilidade”, explica Matheus. “Pessoas com deficiência também são afetadas pelas mudanças climáticas e precisam estar incluídas nessas conversas. Aqui, elas aprendem, refletem e se tornam multiplicadoras dessas ideias.”

As sessões do grupo combinam teoria e prática. Após encontros iniciais voltados à compreensão dos conceitos ambientais, os jovens mergulharam em uma série de atividades educativas, como coleta seletiva, oficina de sabão com óleo reciclado, plantio e adoção de mudas, além de debates sobre preservação, desmatamento e consumo consciente. Cada dinâmica foi pensada para fortalecer vínculos, estimular a autonomia e cultivar o senso de pertencimento ao mundo que os cerca.
Leia mais:Conexão com a natureza – Entre os participantes, o entusiasmo é evidente. Klarisse Isabele Correia, 18 anos, atendida no CIIR desde 2019, conta que as atividades reforçaram ainda mais sua ligação com o meio ambiente. “Eu sou muito conectada com a natureza. Acho importante a gente cuidar dela, para não perder nada no futuro”, compartilha.

Outro participante, Gabriel Mineiro, 23 anos, sonha em um futuro cercado de vida e verde. “Meu sonho é ter um terreno grande, com bastante espaço para criar animais. Por isso, eu acho tão importante preservar o meio ambiente. A gente tem que cuidar para não acabar com o que é bonito”, diz o usuário atendido no CIIR também desde 2019.
Para Matheus, cada passo do grupo representa mais do que um aprendizado técnico: é um exercício de cidadania e sensibilidade. “Eles estão compreendendo que pequenas ações têm grande impacto. Isso faz com que eles estejam no centro dessas discussões e que também eles possam virar disseminadores dessas palavras, dessas ideias de sustentabilidade e de preservação do meio ambiente”, reforça o psicólogo.

Outros ambientes – A realização da COP30 inspirou também os profissionais do Centro Especializado em Transtorno do Espectro Autista (Cetea), unidade vinculada ao CIIR, que levou o mesmo tema para o ambiente terapêutico. Lá, a equipe transformou o espaço verde da instituição em cenário de aprendizado e convivência com o meio ambiente.
A terapeuta ocupacional Alanna Gomes explica que a proposta do grupo foi unir teoria e prática em um plantio coletivo realizado com o apoio do jardineiro do centro. “Queremos sair do ambiente tradicional de terapia e levar o cuidado para fora da sala. As atividades acontecem na horta, onde os usuários aprendem sobre o cultivo das plantas, ouvindo e trocando experiências. Já que a COP está acontecendo em Belém e é algo histórico, também nos inspira a trazer esses debates, para que eles se sintam parte dessa discussão global e possam levar esse conhecimento para outros ambientes”, reforçou.

A psicóloga Raissa Campos complementa que o grupo de habilidades sociais do Cetea sempre procura alinhar as práticas com temas atuais. “A ideia é fazer com que os usuários se sintam inseridos no que está acontecendo no mundo. Então, como a gente está no período da COP, trouxemos essa discussão climática, falando da importância de preservar o meio ambiente, para que eles pudessem também se expressar de várias formas, com escrita, desenhos e, principalmente, com o plantio, que é um gesto simbólico de compromisso com o futuro”, detalhou a profissional
Um dos participantes, Christian Rafael Carvalho, de 19 anos, resumiu o sentimento do grupo em poucas palavras: “Achei a atividade legal, porque a gente precisa cuidar da natureza para as gerações futuras.”
As iniciativas do CIIR e do Cetea mostram que educar, cuidar e incluir são partes de um mesmo caminho: aquele em que o aprendizado floresce junto com o respeito à vida em todas as suas formas. Em cada gesto, brota um pouco do que o CIIR acredita, que cuidar das pessoas também é cuidar do planeta.
Referência – O CIIR é referência no Pará em assistência de média e alta complexidade às Pessoas com Deficiência (PcDs) visual, física, auditiva e intelectual. Os usuários podem ter acesso aos serviços do Centro por meio de encaminhamento das unidades de Saúde, acolhidos pela Central de Regulação de cada município, que por sua vez encaminha à Regulação Estadual. O pedido será analisado conforme o perfil do usuário pelo Sistema de Regulação Estadual (SER).
Serviço: O Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação é um órgão do Governo do Pará administrado pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDSH), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Funciona na Rodovia Arthur Bernardes nº 1000, bairro Val-de-Cães, em Belém. Já o Cetea funciona na rua Presidente Pernambuco, nº 489, bairro de Batista Campos, também na capital paraense.
(Agência Pará)
