Correio de Carajás

Jovem equilibra a maternidade com a vida universitária

Ao engravidar aos 21 anos, Ariadnes de Oliveira Chagas viu sua vida mudar. As responsabilidades de mãe tomaram o lugar do que antes era uma vida sem grandes preocupações. Agora mãe de Carlos, um menininho de um ano e três meses de idade, ela está no sétimo mês de sua segunda gestação, uma menina que se chamará Maitê.

A primeira gravidez foi no início da pandemia de covid-19. “Com isso de ficar dentro de casa, acabamos nos distraindo e aconteceu. A menstruação atrasou e eu falei ‘tem alguma coisa errada’. Fiz o teste (de farmácia), deu positivo e no outro dia, fui no laboratório e também deu positivo”.

Após a descoberta, o relacionamento de quase três anos com o pai do bebê chegou ao fim, e ela trilhou sozinha o caminho da maternidade. Mas sozinha entre aspas, como ela mesma diz, pois contou com o apoio da mãe, Cristiane. Apesar da dupla jornada, ser mãe e estudante, a jovem não abriu mão dos estudos, que para ela é a maneira de garantir o futuro dos filhos.

Leia mais:
Ariadnes equilibra maternidade e a vida de estudante

Carlos nasceu em janeiro de 2021, logo quando a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) – onde ela cursa ciências biológicas – iniciou o semestre na modalidade remota.

“Eu estava muito sozinha, minha mãe trabalhava, não tinha como me ajudar. Eu acabei reprovando, porque depois de parir, a mulher tem que se acostumar com a rotina do neném e tudo o mais. Eu acabei reprovando esse semestre”.

Para conciliar as rotinas, ela contratou uma babá para cuidar do filho enquanto estiver na faculdade. Seu curso é integral e enquanto gestante, ela poderia optar por cursar os meses finais da gravidez de maneira remota, mas escolheu retornar integralmente para a faculdade. Aulas em campo, estágio, ter uma rotina normal pós pandemia, contribuíram para a decisão.

 Juntando uma ajuda do governo, com a bolsa da faculdade e a pensão que recebe do pai. Enquanto sua mãe é responsável pelas despesas de casa, como a alimentação, ela consegue remunerar uma pessoa para que cuide de seu filho, enquanto termina os últimos semestres da faculdade.

Cristiane, mãe de Ariadnes, é também sua rede de apoio

SOLITUDE MATERNA

Com a emoção à flor da pele, ela reflete que o mais complicado e difícil de ser mãe solo é a cobrança da sociedade. “Acham que a mãe tem que fazer tudo sozinha. Cobram muito da mãe e esquecem do pai e do resto da família”.

Para Ariadnes, a família e o companheiro seriam a rede de apoio para dividir as responsabilidades, ter com quem contar. Quem assumiu esse papel na vida da jovem foi sua mãe.

“Minha mãe é minha amiga. Todo mundo pergunta como ela reagiu quando soube da minha gestação, porque algumas expulsam a filha de casa. Minha mãe sempre me acolheu, sempre foi minha melhor amiga. Foi por ela que eu consegui me reerguer”.

Com o apoio da avó de Carlos, Ariadnes consegue conciliar os estudos com a maternidade. Infelizmente essa não é a realidade de muitas mães jovens, a estudante cita os casos de moças que são expulsas de casa quando engravidam. Em paralelo, ela reflete que quando os papéis se invertem e um homem se torna pai solo, o tratamento é diferente.

“Se fosse um pai solo, estaria todo mundo apoiando. ‘Ah você é guerreiro, é isso, é aquilo’. A mulher não, ela é cobrada desde pequena a seguir um padrão, que quando é quebrado, pedras são lançadas nessa mulher”.

Ela, que é filha de pais separados desde muito nova, diz que essa configuração familiar não é empecilho para a criação do filho. Ser um pai presente, era o mínimo que ela esperava do genitor de Carlos. Emocionada, ela divide que isso, somado à depressão pós parto que teve, fizeram com que, por algum tempo, ela se sentisse sozinha. “Eu me senti muito sozinha. Mas depois a gente vai se acostumando, vai passando o tempo e a gente vai superando”, fala.

Sobre a gestão atual, ela conta que o susto que teve na primeira não se repetiu. “Eu dou conta. Depois de tudo que eu passei, eu sei que eu dou conta”, foi a reação que ela teve quando recebeu seu segundo positivo. Dessa vez, foi dela a escolha de seguir esse caminho sozinha. Os traumas do passado influenciaram na decisão, mas diferente do relacionamento anterior, o pai da Maitê – com quem mantém uma boa relação, mesmo separados – tem estado presente em todos os momentos da gravidez.

A MÃE PERFEITA

As escolhas de uma mãe, seja ela solo ou não, são julgadas pela sociedade. Espera-se que seja perfeita, esteja sempre arrumada, que o filho esteja sempre bem cuidado, a casa organizada. “Mas ninguém é perfeito. É impossível alcançar essa perfeição”.

Para as mães que vivem situações semelhantes às que ela passou na primeira gestação, Ariadnes deixa uma mensagem de otimismo. “Calma, vai passar. Você dá conta. A gente dá conta. Vai passar, é só um período. Vai dar certo”.

(Luciana Araújo)