Correio de Carajás

José Couto: Uma vida entre a notícia, a fraternidade e a Tribuna que resiste

Sentado diante do microfone, a voz de José Carlos Silva Couto, aos 76 anos, carrega o peso e a leveza de uma vida dedicada à comunicação e à fraternidade. Nascido em Salvador, Bahia, em 21 de agosto de 1948, Couto é jornalista por formação e paixão, um ofício que moldou grande parte de sua existência, mas que hoje divide espaço com outra dedicação quase sacerdotal: a Tribuna Maçônica.

Quem vê a Tribuna Maçônica hoje, um jornal de nicho editado com esmero em papel couchê de 90g e impressão policromática, talvez não imagine a jornada por trás de suas páginas. Fundado no ano 2000, a pedido do então candidato a Grão-Mestre Alberto Gondin-Ermes, o jornal nasceu com a missão de divulgar a Maçonaria paraense e brasileira.

Já são 25 anos de estrada, com a edição atual beirando a marca de 140 publicações (embora a memória e a emoção o façam hesitar entre 139 e 199 edições na entrevista). “Cada edição é um filho que nasce”, confidencia Couto, revelando o carinho investido no material.

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Manter a Tribuna viva é uma batalha constante. O impresso divide espaço com a internet – que, por seu turno, é usado para levar a Tribuna a irmãos maçons no mundo todo. Os custos de produção são “caríssimos”, e a saúde de seu editor, que já não é a mesma, impôs um ritmo trimestral à publicação que antes era bimestral. “Assim a duras penas a gente tira um pouquinho do salário da aposentadoria para cobrir algumas falhas”, admite, sem esconder a resiliência que o move. Hoje, ele se vê “praticamente sozinho nesse mistério”, mas a chama da Tribuna, acesa há um quarto de século, resiste.

História no jornalismo

Essa resiliência parece ser uma marca de Couto. Sua trajetória no jornalismo profissional se confunde com a história recente da imprensa paraense. Passou por redações importantes como O Liberal e o Diário do Pará, onde ajudou a reformular o jornal nos anos 90 e de onde se aposentou como editor do caderno de economia. “Fiz de tudo um pouco”, relembra, citando coberturas de cidades, economia e política. “Só não fiz esporte, nem polícia”.

Perguntado sobre saudades da vida de redação, a resposta é agridoce. Sim, sente falta do companheirismo, do coleguismo, da parceria. Mas a lembrança do ambiente de trabalho de outrora, onde “toda a redação fumava”, traz à tona a doença que o afastou. “Naquele tempo nós colocávamos um papel na máquina de escrever (…) acendia um cigarro, tirava o papel, acendia outro”.

Hoje, 20 anos fora das redações comerciais, ele reconhece a mudança nos tempos, mas a marca daquela época ficou. A Tribuna Maçônica, de certa forma, se tornou sua nova redação, um espaço onde continua a exercer o ofício, ainda que em outro ritmo e com outro propósito.

A Maçonaria entrou em sua vida há 44 anos. Couto iniciou em 14 de dezembro de 1978 na Loja Constelação Mosqueirense nº 41, mas hoje pertence ao quadro de obreiros ativos da Loja Harmonia nº 8, em Belém. É nesse universo de fraternidade que a Tribuna encontra seu público e sua razão de ser, informando sobre os acontecimentos da ordem no Pará, no Brasil e no exterior.

Fora sua trajetória no jornalismo e na Maçonaria, Couto ancora sua vida na família. É casado com Edna das Graças de Oliveira Tavares Couto e pai de dois filhos: Adson, comandante da Marinha do Brasil, servindo nos afluentes do Rio São Francisco, em Minas Gerais, e Aline, fisioterapeuta pélvica, dedicada à saúde feminina. São eles, junto com a esposa e os irmãos maçons, a rede de apoio que sustenta o homem por trás do jornalista e editor.

José Carlos Couto segue sua jornada, equilibrando as memórias de uma carreira vibrante nas redações, a dedicação à família, o compromisso com a fraternidade maçônica e a luta diária para manter acesa a chama da Tribuna Maçônica. Um jornal que, como ele mesmo diz, é um filho, nascido do carinho e da persistência de quem acredita no poder da informação e da união. (Patrick Roberto)