O ano era 1981. E ficou marcado por duas grandes tragédias na Amazônia: os naufrágios dos navios Sobral Santos e Novo Amapá, que mataram mais de 700 pessoas e deixaram dezenas de órfãos. As histórias dos dois naufrágios serão contadas no livro “Sobral Santos e Novo Amapá – 40 anos de impunidade” que está sendo escrito pelo jornalista paraense Evandro Corrêa.
Para concluir a obra com relatos de autoridades, sobreviventes e testemunhas, o autor busca estabelecer contato com mais sobreviventes das duas tragédias. Evandro que tem mais de 30 anos de profissão e mora em Belém, já atuou em jornais como O Liberal, Diário do Pará, Província do Pará e O Globo. A previsão é de que o livro seja lançado em novembro deste ano.
Sobreviventes, familiares e testemunhas das tragédias, que queiram dar seu depoimento para a obra podem entrar em contato com o jornalista Evandro Corrêa por meio dos telefones: 91 9 8126 2993 ou 9 8284 – 3175 (WhatsApp).
Leia mais:O Novo Amapá foi a pique no dia 6 de janeiro de 1981, A embarcação seguia do porto de Santana, no Amapá, para Santarém, no oeste do Pará, e naufragou no rio Cajari, em Almeirim, município paraense próximo à divisa do Pará com o Amapá. Sobral Santos, II, A tragédia matou 400 pessoas.
Já o navio Sobral Santos II naufragou na madrugada do dia 19 de setembro de 1981, no porto da cidade de Óbidos, no oeste do Pará, matando 300 pessoas. A embarcação havia saído do porto de Santarém.
Segundo Evandro Corrêa, em número de vítimas, os naufrágios do Novo Amapá e do Sobral Santos II, individualmente, só ficam atrás do naufrágio do navio Príncipe das Asturias, ocorrido em São Paulo em 1916, matando mais de 400 pessoas, por isso aparecem como as maiores tragédias do Brasil. Nos naufrágios ocorridos na Amazônia, não houve responsabilização dos culpados.
A superlotação e o excesso de cargas teriam sido as causas das tragédias com o Novo Amapá e o Sobral Santos II, conforme relatos coletados com testemunhas e sobreviventes. Passados quase 40 anos dos naufrágios, quem sobreviveu ainda lembra a agonia e os momentos de desespero vividos até o momento do resgate.
“Os dois navios foram a pique à noite e a maioria dos passageiros dormia em redes e camarotes, fatores que impossibilitaram o salvamento de centenas de pessoas. O difícil acesso e a demora na chegada de equipes de resgate dificultou a retirada da maioria dos corpos do fundo das águas. Em Santana, no Amapá, e em Óbidos, corpos foram amontoados e sepultados, sem identificação, às dezenas, em enormes valas”, contou Evandro.
No caso do Sobral Santos II, famílias inteiras perderam a vida na tragédia. Na embarcação viajavam estrangeiros e moradores de outros estados, mas não havia lista de passageiros, por isso muitos corpos foram sepultados sem identificação e não foi possível precisar o número de mortos.
“Existem muitos relatos de que mergulhadores foram pagos para furar corpos no fundo do rio para não boiarem, e consequentemente, aumentar a lista de vítimas fatais. Em Óbidos, onde foram sepultadas a maioria das vítimas, apenas as grandes valas, sem nomes de identificação, lembram aquela fatídica data. O porto da cidade, por muitos anos, ficou com a pecha de “cais Fantasma”, relatou Evandro.
Após passar um tempo no estaleiro para reforma, o navio recebeu o nome de Cisne Branco e até hoje, quase 40 anos após a tragédia que matou mais de 300 pessoas continua transportando cargas e passageiros nos rios da Amazônia.
Familiares das vítimas do naufrágio do Novo Amapá chegaram a entrar na justiça pedindo indenização pelas vidas perdidas, e a responsabilização dos donos do navio, mas o processo acabou arquivado em 1997. O que restou em comum, foi a saudade daqueles se foram. Muitos foram sepultados no cemitério de Santana, e por lá, familiares se encontram todos os anos no Dia de Finados.
Segundo Evandro, além de narrar os dois maiores naufrágios ocorridos no Pará, o livro também faz um resumo cronológico das grandes tragédias amazônicas, com as histórias de mais de quarenta naufrágios ocorridos na região, nas últimas 4 décadas, com destaque também para um acidente com um rebocador, as proximidades de Óbidos, em agosto de 2017, que matou 11 pessoas. Os corpos só foram retirados quando o rebocador foi içado em dezembro daquele ano.
Evandro acredita que finalizada, a obra deverá ter mais de 300 páginas. Além dos relatos emocionantes, também trará uma abordagem sobre a precariedade da navegação na Amazônia e outras nuances das tragédias, como o ataque de peixes territorialistas e vorazes, como a Pirarara, o “Tubarão da Amazônia”, uma vez que cardumes teriam devorado muitas das vítimas dos naufrágios. (Com G1)