Em um vídeo contundente publicado em suas redes sociais, a jornalista Isis Drumond, atual editora da TV Correio SBT e mestra em Sociologia Política, ofereceu um contraponto necessário a uma reportagem recente do jornal Folha de S. Paulo, que abordou os desafios de Belém do Pará às vésperas de sediar a COP 30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.
A crônica de Drumond, que também atua como influenciadora digital, não nega os problemas estruturais enfrentados pela capital paraense e pelo Estado, mas questiona veementemente a forma como foram retratados, argumentando contra o que considera uma abordagem superficial, estereotipada e potencialmente preconceituosa.
Jornalismo, Contexto e Rótulos
Leia mais:
Iniciando sua fala com uma referência a grandes nomes do jornalismo investigativo brasileiro, como Daniela Arbex e Caco Barcellos, Drumond estabelece um paralelo para defender a profundidade necessária na apuração jornalística. “Jornalismo investigativo, para quem não sabe, exige tempo, exige contexto”, afirma. “Afinal, para você retratar uma realidade, construir uma narrativa, você precisa de fato perceber todos os elementos que contemplam ela. Não dá para estereotipar, rotular sem sequer, estar imerso, de verdade, dentro do contexto.”
Drumond reconhece abertamente as dificuldades locais, citando especificamente os graves “problemas com saneamento básico” no Pará, onde alguns municípios apresentam índices ínfimos de cobertura. Contudo, ela ressalta que “esse não é um problema que nasceu hoje” e que a sua solução “não é de curto prazo”, exigindo um esforço conjunto e estruturado. A crítica da jornalista se direciona à simplificação: “Mas a partir do momento que você rotula sem entender, você cria uma ideia para além daquilo que, de fato, é”.
O olhar seletivo
Um dos pontos centrais da resposta de Drumond é a reação a um trecho específico da reportagem da Folha, onde se afirma que “o Belenense vive na merda”. A jornalista classifica a expressão como “palavra forte” e admite: “Em partes, ela tem razão. E precisamos falar sobre isso.” No entanto, ela imediatamente contextualiza a questão, levantando a hipótese de um viés geográfico e midiático.
“Agora, quando a gente tem um olhar para um estado que, sequer, aparece no contexto da geografia básica ensinada em outras regiões do Brasil, a gente entende que o problema é muito maior do que este”, pondera. Drumond questiona se a mesma abordagem seria utilizada caso o foco fosse um estado do Sul ou Sudeste: “Será que o olhar para o problema seria o mesmo? Será que o foco dado seria o mesmo?” Para ela, “não é sobre não falar dos problemas. É sobre a roupagem que você decide dar para um rótulo que vai ficar marcado para o resto do país.”
Identidade Paraense e a “Imprensa da Floresta”
Drumond contrapõe a visão negativa com uma exaltação da identidade e cultura paraenses. Ela lembra um encontro com colegas de profissão no Marajó, onde os instigou a se verem como “a imprensa da floresta”, responsável por mostrar a realidade local com profundidade. “Caberá a nós o exercício de olhar conselho para aquilo que a gente quer que seja mostrado para o mundo, incluindo os problemas para que, em conjunto, consigamos buscar soluções”, defende.
A jornalista denuncia o que vê como preconceito e xenofobia implícitos na abordagem crítica superficial. “Mas rotular desta maneira beira o absurdo. O preconceito. Um preconceito que gera xenofobia”, declara. Ela reforça a existência de uma identidade local rica e complexa: “Nós existimos enquanto sociedade, enquanto estado, enquanto cultura ancestral. Nós temos uma identidade. Uma identidade carregada de valores positivos e prósperos, mas também carregada de defeitos. Defeitos estes que temos consciência, mas que não deixaremos que os outros definam qual é a parte do todo que nós vamos vangloriar num momento tão importante como este.”
A COP 30 como oportunidade
Apesar das críticas externas e dos desafios internos, Isis Drumond se posiciona favoravelmente à realização da COP 30 em Belém. “Eu sou do time que torce a favor. Eu torço. Todo o nosso país, como um todo, esteja em foco, em foco para que a gente cuide, preserve e projete uma Amazônia que dure”, afirma.
Ela lamenta que a reportagem talvez não tenha explorado as “infinitas e grandiosas belezas” do Pará, “esse estado de dimensões territoriais gigantescas, com uma cultura pujante, intensa, que está cheia de vontade de mostrar tudo isso pro mundo”, citando o carimbó, o brega e a culinária regional.
Drumond conclui sua crônica reforçando a crítica ao rótulo depreciativo e fazendo um apelo por um jornalismo mais responsável e respeitoso. “Dizer que o cidadão (…) que tem orgulho dessa terra vive na merda, não nos ajuda em absolutamente nada. Só nos rotula. Rotula de uma maneira torpe (…). Sigamos com respeito, produzindo o jornalismo de verdade que investigue de ponta a ponta antes de contextualizar.”
A manifestação de Isis Drumond adiciona uma camada importante ao debate sobre a COP 30 em Belém, trazendo a perspectiva de quem vive a realidade local e clama por um olhar que, sem ignorar os problemas, valorize o contexto, a cultura e a identidade do povo paraense. (Da Redação)