Correio de Carajás

“Já paramos o trator e ninguém vai entrar” diz dono das terras onde serão construídas as cabeceiras das novas pontes sobre o Tocantins

Ademar mostra para a Reportagem o documento das terras / Foto: Evangelista Rocha

A construção das novas pontes sobre o Rio Tocantins mal iniciou e já está causando confusão. Na manhã desta segunda-feira, 15, Ademar Pereira de Souza e família, estiveram no canteiro de obras, localizado no núcleo São Félix, para “parar tudo” e reivindicar os direitos sobre a propriedade onde as cabeceiras serão construídas.

“Já paramos o trator e ninguém vai entrar”, assevera Ademar. O morador quer conversar com o “maioral da Vale” para resolver a situação, de acordo com ele até agora só o empurraram com a barriga.

De acordo com o morador o maquinário foi parado e ninguém vai entrar / Foto: Evangelista Rocha

“Essa área aqui pertence há muito tempo à minha família”, pontua para a Reportagem do CORREIO. Ele alega que a primeira etapa de obras iniciou sem a sua autorização e que sua terra foi invadida. “Só chegaram aqui e entraram na minha propriedade”. O morador subentende que apesar das negociações que vinham acontecendo entre ele e a mineradora, o acordo ainda não foi fechado.

Leia mais:

“Estamos aqui sofrendo essa malícia da Vale, ela passou um bom período conversando conosco, nos levando a hotel, conversando. Mas de repente eles entram. Segundo a Vale, isso foi autorizado pela prefeitura de Marabá. Eu não acredito que o nosso prefeito fez isso conosco. Eu não acredito. Eu não acredito que o nosso prefeito não tem ciência disso”, diz indignado.

Ao ver a empresa adentrando nas terras para iniciar o serviço, ele conta que pediu a apresentação de um documento de autorização, mas que este nunca lhe foi apresentado.

“Eles falam que não tem documento. Eu falei: como é que tu entra na minha propriedade e não traz nenhum tipo de documento? (sic) Só falam que foi a prefeitura, então eu quero que vocês mostrem documento pra gente. Aqui nós temos documento de 1965, e nós temos também o documento que mostra o comprimento da nossa terra”.

Diante da invasão de suas terras (nas palavras dele) o homem pede ajuda a todos os níveis de governo, seja ele municipal, estadual ou federal, seu desejo é de que não se repita o mesmo que ocorreu na construção da primeira ponte: a ausência do pagamento de indenização à sua família.

“Não houve indenização dessa primeira ponte e estão querendo fazer de novo com a minha família. Falaram que tinha 24 milhões de reais pra minha família receber. Estão aqui meu pai, minha tia, moram nos mesmos lugares e nunca receberam esses 24 milhões. Então, estão querendo fazer a mesma presepada conosco, nesta etapa aqui e não vai acontecer”.

Ele deixa claro que vai lutar pelas duas indenizações.

Ademar conta que inicialmente a área em questão pertencia à sua bisavó e foi passada pelas mãos da família através das gerações. A localidade tem documentação desde 1965, quando foi dada pelo estado para Ana Medrado, bisavó de Ademar.

Os trabalhadores do canteiro observam a movimentação de longe / Foto: Evangelista Rocha

Posicionamento da Vale

Procurada pela Reportagem do CORREIO, a Assessoria de Comunicação da mineradora Vale emitiu a seguinte nota: “A Vale iniciou as obras para implantação da Ponte sobre o Rio Tocantins, tendo obtido as autorizações para ingresso nas áreas. A empresa adotará as medidas legais cabíveis e mantém diálogo com a família”.

Nota da Prefeitura de Marabá

Em nota a Assessoria de Comunicação da prefeitura informa que: “As tratativas sobre a construção da nova ponte estão sob responsabilidade da Vale. De qualquer forma, esta informação será repassada a Superintendência de Desenvolvimento Urbano do município para o alinhamento da informação ao cidadão”. (Luciana Araújo e Chagas Filho)