Após dois anos aguardando que uma ambulância seja adquirida pela Prefeitura Municipal de Marabá para atender à população da Vila Brejo do Meio e localidades próximas, o vereador Irmão Morivaldo (PSC) usou a tribuna da Câmara Municipal de Marabá na manhã de hoje, terça-feira (26), para reclamar do Poder Executivo.
Acontece que ao longo do discurso, a irritação do edil aumentou tanto que ele acabou chamando a própria Câmara de Vereadores, onde legisla, de “merda”: “Quero uma resposta dessa Casa de Leis a respeito dessa ‘merda’ de emenda impositiva, porque se não vale nada não vamos prometer ‘merda’ nenhuma. Porque isso é a única capacidade que o vereador tem nessa ‘merda’ dessa Casa. É a única coisa porque se a gente pede, não faz. O Executivo só faz quando quer”, proferiu.
No início do discurso, declarou querer fazer uma reclamação ao Poder Público Executivo sobre as emendas impositivas requeridas por ele, afirmando não saber mais o que fazer na Câmara e no município de Marabá. Conforme ele, a população está sofrendo por falta de saúde. “Passei para ser vereador pensando que a coisa iria melhorar, mas não estou vendo melhora nenhuma na saúde, infelizmente, então, estou aqui no lado do Executivo pra somar, pra brigar, pra votar projetos e não ‘tô’ vendo nada melhorar na Saúde porque nem a ambulância da emenda impositiva que eu coloquei em 2017 nunca pagou”, desabafou.
Leia mais:O Requerimento Nº 001/2017 solicita a ambulância justificando que os moradores de Brejo do Meio estão sem nenhum tipo de transportes para este tipo de atendimento. No ano seguinte, foi encaminhado o Requerimento N° 05/2018 reiterando o pedido anterior. Agora, em 2019, a paciência do vereador esgotou. “Pergunto para os senhores vereadores o que significa mesmo essa emenda impositiva porque eu não sou advogado para saber, já procurei e ninguém me dá conta de informar”, disse.
MAIS LENHA
Visivelmente incomodado com a fala do colega, o vereador Miguelito (PP) solicitou um aparte para defender a Câmara Municipal de Marabá e corroborar a fala voltada à Prefeitura de Marabá. “Adoro essa Casa, tenho a maior paixão por essa Casa e a ‘merda’ dessa Casa não é ‘merda’. Acontece que a ‘merda’ do Executivo que o senhor teve coragem de dizer, que muitos aqui não dizem, é que não faz. Então presta atenção, a ‘merda’ não é nossa, é do Executivo”, rebateu.
Em seguida, Ilker Moraes (PHS) também pediu um aparte afirmando crer que a revolta de Irmão Morivaldo é a mesma de muitos colegas, declarando que o Executivo parece escolher o gabinete que vai ser atendido. “Infelizmente isso tem acontecido em Marabá. Quando se trata de emenda impositiva a informação que tenho, inclusive, do nosso jurídico, é que o Executivo é obrigado a executar. Eu também tenho uma ambulância (emenda impositiva), conversei com o secretário de Saúde e estou aguardando até dia 30 de junho. Se essa ambulância não sair e o posto de saúde da Vila Cupu, para onde solicitamos, não sair, irei solicitar ajuizamento de ação de improbidade administrativa contra o prefeito (Sebastião Miranda Filho). Já disse isso a ele pessoalmente e ao secretário dele que muda toda hora”, alfinetou.
DESCULPAS
Após a fala dos colegas, Irmão Morivaldo pediu desculpas pelo tom utilizado no discurso. “Quero retificar e pedir desculpa a respeito de ‘merda’ que falei dessa Casa, não foi aos vereadores, foi pra dizer que a gente ‘tá’ aqui, faz tudo e nada acontece. Queria pedir perdão a respeito de ‘merda’, mas não foi a respeito de vocês, jamais”, declarou.
Por fim, disse se sentir enganador do povo e cobrou diretamente o prefeito municipal. “Eu me sinto injuriado. Meus colegas, sinceramente, fico impotente sem saber que força que temos. Fico sem saber pra onde vai. Peço até pelo amor de Deus ao prefeito pagar minhas emendas impositivas pro povo. Não quero nada pra mim, não dependo de você e nem você de mim, mas o povo sim. Fui eleito pra defender o povo”.
DECORO
Ao retomar a condução da Sessão, o presidente da Câmara Municipal, Pedrinho Corrêa (PTB), ‘puxou a orelha’ do colega sobre como se portar durante as falas. “Gostaria de pedir a atenção de todos os vereadores e vereadoras dessa Casa ao usar a Tribuna para que não incorram no risco de quebrar o decoro parlamentar. Entendo a indignação de alguns vereadores, principalmente quando não têm atendidas as emendas impositivas, mas temos que ter atenção porque temos Regimento Interno, temos meios legais”, afirmou.
Acrescentou que a Mesa Diretora da Casa já encaminhou documento ao Executivo para que se cumpram as emendas impositivas, não apenas de 2017 e 2018, mas também de 2019. “Então temos documentos e a Casa dispõe de assessoria jurídica. Toda vez que o vereador tiver dúvida dos procedimentos legais que deva tomar pelo não atendimento do Executivo que procure nossa assessoria jurídica para ter a devida orientação e que o vereador tome a devida providência, o que não podemos é atribuirmos essa responsabilidade ao Legislativo”, finalizou.
RECONHECIMENTO
Durante o tempo de tribuna reservado às lideranças partidárias, o líder de governo na Câmara, Tiago Koch (MDB), disse que reconhece a angústia do vereador Irmão Morivaldo e sabe que muito precisa melhorar ainda na área de Saúde, mas, para ele, a fala do colega não representa a realidade atual, afirmando que há mais de 7 mil cirurgias eletivas realizadas na atual gestão, as quais estavam paralisadas nos dois governos anteriores.
“Houve muitas melhorias nos postos de saúde, na zona urbana e rural. Muitas coisas estão acontecendo, mas ainda precisamos melhorar mais, inclusive na aquisição de ambulâncias previstas nas emendas impositivas. O prefeito precisa ter essa sensibilidade”.
Koch reconhece, ainda, que a maioria das emendas impositivas está sem atendimento e observou que a Câmara precisa dialogar com o Executivo. “Há muitas emendas destinadas a áreas diferentes, mas prefiro que esse assunto seja encaminhado por meio de documento formal para que o Executivo responda, porque esta Casa precisa, sim, ser respeitada”, finalizou.
PREFEITURA
O Portal Correio de Carajás procurou a assessoria de comunicação da Prefeitura de Marabá, a qual informou que o Poder Executivo não vai se manifestar. (Luciana Marschall)