O Instituto Transformance deu passos inéditos em agosto último. Junto com a Secretaria Nacional de Participação Social, em Brasília, promoveu a primeira oficina de eco-pedagogia através das artes na Secretaria Geral da Presidência. E junto com pedagogos na Universidade Federal de Santa Catarina e do Movimento Sem Terra, renovou uma ponte que possibilitará colaborações entre as regiões Norte e Sul do País, capazes de reciclar ansiedade climática em recursos bem viver.
Em agosto de 2023, o arte-educador e co-diretor do Instituto, Dan Baron, iniciou um diálogo com Pedro Pontual, diretor de Educação Popular, inspirado pelos vídeos ‘O Coletivo AfroRaiz apresenta a Amazônia Bem Viver’ (2019), e ‘As Castanheiras Lembram do Massacre de Eldorado das Carajás’ (1999).
Segundo Dan, durante 9 meses, seis diálogos geraram o projeto Viveiro Bem Viver: reimaginando educação no fim do mundo, formando 1.000 eco-pedagogos, 200 em cada região do Brasil, através da criação de um monumento coletivo. Uma oficina demonstrativa para impulsionar a articulação inter-setorial necessária ao executar o projeto piloto nacional.
Leia mais:A oficina atraiu 24 gestoras de 11 ministérios e programas. Dan Baron convidou Alanes Yanca, uma das integrantes do Coletivo AfroRaiz do projeto Rios de Encontro, que hoje atua em escolas, movimentos sociais e redes culturais, para demonstrar o que pedagogias artísticas cultivam.
Alanes se apresentou através do poema ‘Folhas da Vida’, retrato da metodologia decolonial da biblioteca comunitária que ela co-gestava:
todo sábado
vou para o barracão
entro numa roda
escuto contos
brinco com cores
e sem chicote
canto dançando
me abrindo
com cuidado
para me ler
e reconhecer
minhas histórias
e ao pôr do sol
bem aí
pego um lápis
que não me julgue
nem me corte
ou derrube
minha calma
e invento
sem medo
o primeiro gibi
com folhas da vida
afro-amazônicas
Alanes atuou na oficina como gestora interna da vivência de dança, teatro e escultura pedagógicas, cuidando da integração dos participantes. Em seguida, Dan passou o vídeo ‘Folhas da Vida’ e os participantes entrevistaram Alanes sobre sua formação.
“Com 12 anos de idade, estava passando casa em casa ‘perdendo livros’, realizando rodas de leitura nas pracinhas esquecidas em Cabelo Seco. Traficantes deitavam no meio das crianças na zona vermelha, vivendo o direito de ler e de imaginar. Quem teria imaginado adolescentes gestando tal projeto? Viramos um viveiro de alegria, calma e motivação. Criamos a escola que queremos!”, relembra a jovem Alanes.
As diretoras perguntaram como o projeto impactou sua vida, e ela respondeu que viveu o direito de sonhar. “Hoje, cuido de um terreiro comunitário, integro teatro numa escola infantil na periferia de Goiânia, estudo Pedagogia na UNOPAR e cuido de minha própria casa”.
Dan Baron analisa que Alanes não chorou sobre ansiedade climática que hoje atormenta crianças e jovens no mundo inteiro. “Ela mostrou que tem projeto na veia, sabe como criar e motivar comunidade a se transformar. Isso motivou as diretoras, e confirmou que temos de transformar nossos 25 anos de aprendizado em cursos e recursos de eco-pedagogia”.
Dan observa que os editais culturais retornaram, mas fomentam produtos, não processos experimentais de três anos para transformar o fim do mundo. “E provocam disputa entre nós e a própria geração que formamos. E entre parceiros”, lamenta ele.
Nas consultas com parceiros regionais nas instituições UFPA, UFPB, UFSB, UFSC e UE de Campinas, a UFSC convidou o Instituto para criar um monumento que celebre os 35 anos de colaboração com as escolas agroecológicas no MST. “Surgiram ‘Pontes de Esperança’. Essa é nossa proposta de emenda parlamentar de R$ 300.000 para formar 800 eco-pedagogos através das artes na criação coletiva de uma maquete”.
Na assembleia do orçamento popular do deputado federal Victor Uczai no dia 12 de agosto, a proposta foi contemplada. Iniciará com uma oficina de formação para as propostas não aprovadas, co-gestionadas pelo Coletivo AfroRaiz.
(Divulgação)