Correio de Carajás

Instituto oferece esperança e vida para quem tem câncer em Marabá

Instituto Esperança e Vida ocupa espaço que o poder público não alcança e contribui com centenas de pacientes que lutam contra vários tipos de neoplasia

Aparecida e Carminho estão à frente do Instituto que espalha esperança e vida aos pacientes com câncer em Marabá

A história do Instituto Esperança e Vida, organização social sem fins lucrativos em prol de pacientes com câncer, é um testemunho inspirador de como um pequeno grupo de pessoas pode fazer grande diferença na vida de tantas outras. Fundado em 2014, o Instituto começou como um modesto grupo de apoio, mas logo evoluiu para uma instituição dedicada a oferecer suporte integral a pacientes oncológicos e suas famílias, em Marabá.

Em entrevista ao CORREIO, a idealizadora do projeto, Aparecida Ferreira, contou que tudo começou quando ela foi diagnosticada, em 2013, com câncer: “Fiz meu tratamento. Fomos para fora porque Marabá não oferece quimioterapia ou rádio até hoje. A gente sentiu a importância do apoio que tivemos em todos os sentidos. Em oração, de carinho, de abraço. Então, para nós, foi muito importante”, relata.

Ela disse que foi através desta percepção que surgiu a ideia de criar o grupo, já que se sentiu muito tocada com tudo e chegou à conclusão de que precisava retribuir um pouco do que havia recebido durante o tratamento.

Leia mais:

A semente da generosidade plantada por Aparecida e seu grupo de apoio cresceu ao longo dos anos. Em 2017, eles oficializaram o Instituto Esperança e Vida, um marco que permitiu ampliar o alcance de suas ações solidárias. O sonho deles estava apenas começando.

 

“Nosso sonho era fazer essa sede aqui. Na verdade, é o que eu sonhava, o que eu pensava, o que tinha no meu coração”, compartilha Aparecida, visivelmente emocionada. Com a ajuda de doações da comunidade e empresários locais, eles começaram a transformar um espaço vazio em um santuário de esperança.

A sede do Instituto Esperança e Vida, localizada na confluência da esquina da rua 5 de Abril e com a Travessa Santa Terezinha, na Marabá Pioneira, oferece uma gama de serviços cruciais para pacientes oncológicos. Psicólogo, nutricionista, mastologista e advogado se unem para cuidar não apenas das necessidades médicas, mas também do bem-estar emocional e jurídico dos pacientes.

Uma das inovações do Instituto é uma loja que não apenas vende produtos, mas vende esperança: “Essa lojinha é o que está nos ajudando a manter isso aqui. Com o sucesso de eventos de angariação de fundos e doações de mercadorias, a loja solidária tornou-se um pilar vital de sustentação financeira para a instituição”, conta.

No entanto, poucos conhecem o bazar que recebe doações de pessoas e de lojas. Com a venda das inúmeras peças bonitas e em ótimo estado, penduradas nos cabides, o Instituto reverte o valor em prol dos pacientes.

A verdadeira essência do Instituto Esperança e Vida reside nas vidas que ele toca. Aparecida conta que os pacientes diagnosticados com câncer chegam à sede do instituto desanimados e assustados. No entanto, após ouvirem os relatos de sobrevivência e apoio, eles partem com um sorriso no rosto e a esperança renovada. O sentimento predominante é de gratidão.

Segundo a idealizadora, desde sua abertura, em maio, o Instituto já atendeu a cerca de 70 a 80 pacientes mensalmente na área da saúde. Além disso, eles distribuem cestas básicas e medicamentos, garantindo que as necessidades mais urgentes sejam atendidas.

Aparecida não está sozinha nessa missão de amor. Seu esposo, Sebastião Carmo Ferreira, o “Carminho”, é um pilar fundamental e dedica-se incansavelmente ao trabalho do Instituto: “Ele se entregou completamente à reforma, ficou o tempo todo aqui, está sempre aqui comigo, me ajuda muito, ele me ajuda muito com as pessoas que chegam em busca de socorro, então ele é ótimo para isso, se não fosse ele, eu jamais conseguiria”, relata emocionada.

O Instituto Esperança e Vida não é apenas uma organização, é uma família. Muitos membros da diretoria também são sobreviventes do câncer e foram inspirados a retribuir o apoio que receberam. Essa é uma rede de solidariedade que continua crescendo.

A esperança não tem fronteiras, e o Instituto tem grandes planos. Eles reconhecem a necessidade de uma casa de apoio para pacientes que precisam viajar para receber tratamento. Trabalhar em conjunto com o poder público é uma parte essencial desse projeto.

Além dos serviços médicos e emocionais, o Instituto também compartilha a fé como um elemento central em suas atividades. Aparecida diz que o poder da espiritualidade e da esperança são elementos fundamentais na jornada de recuperação de muitos pacientes.

“Principalmente, a gente tenta levar Deus para as pessoas, mostrar que Ele é importante e nos fortalece. A gente faz orações constantemente, padres vêm aqui, oram e dão a bênção. Em relação ao tratamento, quando tiver em Marabá, nós estamos preparando exatamente para isso, porque hoje a demanda já é muito grande”, afirma.

Em um cenário onde o serviço público ainda não oferece o suporte necessário, o Instituto brilha como um farol de esperança e solidariedade. Com seu espírito de generosidade, eles têm um futuro brilhante pela frente, onde pretendem continuar ajudando inúmeras vidas.

A paciente que virou grande colaboradora

 

Onilda Gomes Costa, de 48 anos, é o exemplo em carne e osso de que a solidariedade e o apoio mútuo do Instituto têm transformado vidas. Sua jornada começou em 2016, quando recebeu o diagnóstico de câncer de mama. Foi nesse momento crucial que ela conheceu a instituição e teve sua vida iluminada.

“Após o diagnóstico de câncer, eu fui acolhida de maneira calorosa e compassiva. Recebi não apenas apoio emocional, mas também direcionamento, orientação e até ajuda financeira, que foi essencial para mim. Como faço meu tratamento em Tucuruí, essa assistência é crucial”, descreve.

Onilda explica que, embora ela conte com o Tratamento Fora de Domicílio (TFD) para cobrir parte das despesas, o Instituto Esperança e Vida desempenha um papel vital ao fornecer apoio adicional. Nisso, já são sete anos de tratamento e sete anos de caminhada.

O amparo do Instituto não se limita apenas ao aspecto financeiro. Onilda, agora, desempenha um papel ativo no Instituto, voluntariando-se no bazar beneficente. Ela recebe doações e ajuda a organizar vendas para arrecadar fundos que mantêm a instituição funcionando e, ao mesmo tempo, oferece assistência a outras pessoas que enfrentam desafios semelhantes.

Muitas pessoas que chegam em busca de roupas usadas e outros itens não têm conhecimento da missão por trás da loja. Ela, com dedicação e exemplo, explica a todos que a loja beneficente se destina a apoiar pessoas com câncer e famílias carentes. E o mais interessante: o bazar não apenas ajuda a manter as operações do Instituto, mas também serve como um ponto de entrada para novos pacientes em busca de apoio.

“Quando as pessoas descobrem que têm câncer, estão desnorteadas, sem saber por onde começar. A partir daí, começamos nosso trabalho, orientando e direcionando. Os pacientes recebem apoio tanto em domicílio quanto na sede do Instituto, que oferece ajuda com cestas básicas e outros recursos”, relata, com propriedade.

O sucesso do bazar do Instituto não se deve apenas aos preços acessíveis, mas também à qualidade das mercadorias. As doações incluem roupas, calçados, utensílios domésticos e até mesmo bijuterias. O Instituto se tornou um local de referência para compras solidárias na região, com um fluxo de pessoas que rivaliza com muitas lojas de confecção.

“Nossos preços são ótimos, nossa mercadoria é maravilhosa. Temos mercadoria na etiqueta, recebemos muitas doações das lojas e de pessoas normais também, que vão passando aqui pela frente, e a gente vê a nossa plaquinha, comprando ou doando, você está colaborando, esse é o nosso lema aqui no bazar”, assegura.

Onilda compartilha que há sete anos não consegue entrar no mercado de trabalho devido ao tratamento. É que a quantidade de exames e terapias, impedem que ela tenha uma rotina. Mas revela que foi ali, no próprio instituto, que ela encontrou uma maneira de se envolver e se sentir útil. Lá, ela consegue desenvolver sua vida, com muito apreço pelas pessoas que atende no dia a dia.

Voluntariado e o apoio emocional aos pacientes

O amparo do Instituto Esperança e Vida é contagiante. E o emocional é priorizado tanto quanto a saúde física dos pacientes oncológicos. É nesse contexto que entra Odileia Mesquita Santana, psicóloga voluntária na instituição. O atendimento acontece uma vez ao mês, geralmente aos sábados. O coração desse trabalho é o acolhimento, realizado tanto de forma grupal quanto individual.

“O Instituto é um lugar onde as pessoas encontram refúgio e apoio. São indivíduos que se sentem desequilibrados, desprovidos de esperança e que precisam desse acolhimento para encontrar um caminho mais esperançoso”, explica a psicóloga.

Psicóloga Odileia Mesquita é voluntária e ajuda pacientes na sede do instituto

A força do trabalho voluntário no Instituto é evidente, e Odileia não está sozinha em sua missão. Ela trabalha em conjunto com uma equipe dedicada de voluntários, incluindo estudantes de psicologia, todos comprometidos em oferecer apoio psicológico às pessoas que frequentam o Instituto.

“O avanço do nosso trabalho voluntário é muito significativo. Quem vêm ao Instituto costumam retornar, e suas palavras refletem o impacto positivo que encontram aqui. Elas compartilham sentimentos de alívio, paz e amor. Sentem que são acolhidas e que há esperança aqui”, afirma.

Instituto oferece suporte jurídico a quem precisa

No compromisso com a justiça e o bem-estar das pessoas amparadas pelo Instituto Esperança e Vida, a organização tem como aliado o advogado empreendedor José Rodrigues Prieto. Auxiliando juridicamente a família e os pacientes com câncer, o profissional diz que foi cativado pelo trabalho realizado em prol das pessoas, de forma voluntária.

Ele e sua equipe de advogados foram convidados a contribuir com a experiência jurídica que possuem: “Uma vez por semana, nós prestamos assistência jurídica no Instituto Esperança e Vida às mulheres afetadas pelo câncer de mama e suas famílias”, revela.

Advogado José Prieto presta assistência jurídica aos pacientes que desconhecem a legislação

As questões legais que essas pessoas enfrentam são variadas e complexas. José Rodrigues explica que, quando uma pessoa é diagnosticada com câncer, muitas vezes ela precisa interromper o trabalho. Isso coloca pressão financeira nas famílias, uma vez que a renda é afetada pela necessidade de cuidar do paciente.

“Eles nos procuram em busca de orientação sobre como obter apoio governamental, se é possível obter aposentadoria ou outros recursos para suprir suas necessidades”, explica Prieto.

O compromisso do advogado não se limita apenas a fornecer consultoria jurídica. Eles se esforçam para garantir que as famílias afetadas pelo câncer recebam o apoio necessário para enfrentar os desafios legais que surgem durante essa jornada difícil.

(Ulisses Pompeu e Thays Araújo)