Com 1.410 moradias, o Residencial Tiradentes (localizado entre os núcleos São Félix e Morada Nova), recebeu pela primeira vez os serviços de saúde oferecidos pelo Instituto Miguel Chamon. Na manhã desta quinta-feira, 3, a Avenida João Teixeira, em frente ao Núcleo de Educação Infantil “Raimunda Oliveira Rocha”, ficou lotada por pacientes ansiosos, que foram até ali buscando serviços de saúde de qualidade e que saíram de lá transbordando gratidão.
Aliás, desde às 8 horas da manhã de quarta-feira, 2, os moradores daquele bairro iniciaram a vigília em frente aos caminhões do Instituto, ficando apostos para o momento em que as senhas de atendimento fossem distribuídas e eles pudessem garantir a consulta ou exame.
Uma das primeiras pessoas a chegar foi Gil Rosa Lopes da Silva, dona de casa de 47 anos, que foi até lá buscando uma consulta oftalmológica. “Eu uso óculos, mas está vencido e essa oportunidade que o Chamonzinho está trazendo pra gente é muito boa. Óculos tá caro e temos aqui um benefício, a gente agradece bastante a ele, que tem ajudado muitas pessoas, é algo muito grande o que ele está fazendo pela população”, compartilha.
Leia mais:Gil lembra que há 10 anos, quando chegou ao residencial, era tudo muito diferente. “Era praticamente sem nada, só as casas mesmo, aí foi evoluindo e hoje a gente já tem uma oportunidade melhor, como um evento desses, que nunca tivemos”, agradece.
Apesar de visualizar os avanços conquistados pelo bairro, ela enumera problemas que ainda não foram solucionados. “A água não chega em todas as casas, tem um poço e a bomba fica mais quebrada do que funcionando, já ficamos 15 dias sem água. Quem tem condição cava seu poço e quem não tem, tem que pegar na casa do vizinho”, desabafa Gil. Nas palavras da dona de casa, é possível sentir a aflição de quem convive diariamente com essas adversidades.
O Residencial Tiradentes não possui nenhuma Unidade Básica de Saúde, a primeira escola municipal ainda está em fase de construção, o fornecimento de água é precário e não atende todas as residências; o transporte público é precário e esgotos a céu aberto fazem parte da paisagem do lugar. Situações que geram desconforto para a população, que muitas vezes precisa buscar água no poço do vizinho, padece por mais de 1h30 nas paradas de ônibus, ou precisa mandar seus filhos para estudarem em outros bairros.
Localizado em uma região conhecida por “Nem-Nem” (nem São Félix e nem Morada Nova), o Tiradentes passa quase despercebido e ações como a do Instituto Miguel Chamon são responsáveis por proporcionar oportunidades à população.
Quem engrossa os relatos de insatisfação com os problemas do lugar é o estudante Deivison de Sousa, 16 anos, que também foi em busca de consulta oftalmológica. Ele cursa o 1º ano do Ensino Médio no Instituto Federal do Pará (IFPA, na Folha 22, Nova Marabá) e diariamente depende do transporte público para chegar até a escola, uma jornada que não é fácil. “Eu pego ônibus às 11 horas, às vezes chego em cima da hora ou atrasado, porque muitas das vezes o transporte público também atrapalha a gente. Eu mesmo já perdi várias provas importantes por causa disso”, desabafa.
O jovem chegou ao Tiradentes há pouco mais de três meses, tempo suficiente para sentir na pele as dificuldades de quem, assim como Gil, mora ali há mais tempo. “Se não fosse essa ação de hoje, seria muito difícil a gente se locomover até outro lugar, ia ter um atendimento demorado, passaríamos por diversos médicos e não ia resolver nada. Já tive essa experiência”, desabafa.
DESAFIOS
Para conseguir atendendo com excelência todos aqueles que precisam do serviço, o Instituto Miguel Chamon distribuiu mais de 500 fichas para os moradores do Residencial Tiradentes, que foram beneficiados com consultas oftalmológicas, ultrassonografia, dentista e clínico geral, além da doação de óculos de graus para aqueles que necessitarem.
“O desafio é o atendimento limitado, então as pessoas tendem a chegar muito cedo para garantir essa vaga e nós só saímos daqui quando terminarmos de atender todas elas”, detalha Amanda Cavalcante, presidente do Instituto. Ela destaca que o fluxo é intenso, detalhe que não passou despercebido pela reportagem, que viu de perto o entra e sai constante de pessoas nos caminhões de atendimento.
Moradores como Flaudenira Joycileia Rodrigues de Araújo, costureira de 47 anos, que firmou seu lugar na fila cerca de 24 horas antes do início do movimento, ainda na manhã de quarta-feira. Ela revelou para a reportagem que está com óculos vencido há mais de três anos e essa foi a grande oportunidade de realizar a troca. “Além de costureira eu sou artesã, mexo com crochê, faço roupas e tapetes e outras coisas. E isso “força” muito a minha vista, preciso trocar os óculos com urgência”. Para ela, o objeto é sua segunda ferramenta de trabalho.
Grata pela ação do Instituto, Flaudenira compartilha que essa iniciativa é sempre bem vinda e necessária para a comunidade.
PRÓXIMA PARADA
Nesta sexta-feira, 4 e no sábado, 5, o Instituto continua sua missão, dessa vez no São Félix II, na Rua Magalhães Barata, em frente à Panificadora Vytória.
No domingo, 5, é a vez do Residencial Magalhães, na Avenida 1, Esquina com Avenida 8, próximo a casa da Rúbia. (Luciana Araújo)